Ensino Médio

EMI pode servir de base para a proposta pedagógica do Novo Ensino Médio

O Ensino Médio Integral (EMI) está presente em 3.720 escolas, beneficiando 778 mil estudantes. A principal novidade do modelo é a disciplina capacitante de "Projeto de Vida"

Gabriel Bezerra*
postado em 29/07/2021 14:09 / atualizado em 29/07/2021 17:33
 (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
(crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

Os resultados  positivos do Ensino Médio Integral (EMI), modelo de ensino presente em 3.720 escolas brasileiras e promovido por especialistas em educação básica, mostram um aliado para a implementação da proposta pedagógica do Novo Ensino Médio (NEM), que teve o seu cronograma lançado em julho pelo Governo Federal e passará a vigorar em todas as escolas brasileiras em breve.

Segundo os pesquisadores, o EMI favorece o aprendizado e a inserção dos jovens no mercado de trabalho, intensificando a qualidade estudantil e profissional dos educandos. O Novo Ensino Médio (NEM) aumentará o tempo mínimo do estudante na escola para 1000 horas anuais, e também fornecerá uma nova estrutura curricular que irá ofertar diferentes oportunidades de escolha para os estudantes. Um dos principais fomentadores do projeto educacional é o Instituto Sonho Grande, que em entrevista ao Eu, Estudante, nos contou mais sobre as novidades que surgirão na vida dos milhões de estudantes que serão educados no Novo Ensino Médio.

O desempenho dessas escolas na edição de 2019 no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) evidenciou o impacto do investimento: enquanto a média nacional entre as escolas das redes estaduais de meio período foi de 3.9 pontos, as redes de ensino que adotavam o Ensino Médio Integral atingiram 4.7 pontos, o número superou a meta brasileira de 4.6 pontos. O mesmo estudo mostrou que as escolas que adotavam o modelo parcial na edição de 2017 do Ideb e migraram para o integral em 2019 tiveram uma melhora de 17,3%. Já as que permaneceram no ensino regular cresceram apenas 9,7%.

O Ensino Médio Integral (EMI) propõe a formação integral dos estudantes, a partir de uma proposta pedagógica multidimensional. Atualmente, esse formato de ensino está presente em 3.720 escolas de ensino médio, que atendem 778 mil estudantes. A estrutura curricular do Ensino Médio Integral (EMI) conta com o “Projeto de Vida”, que faz a coneexão entre o futuro dos estudantes e a aprendizagem, e “Tutorias e Orientações de Estudos”, além de outros oito pilares educacionais que pretendem preparar o jovem para o mercado de trabalho e também para o vestibular e o ingresso no ensino superior.

A aula de “Projeto de Vida”, ministrada em duas horas semanais, é baseada no ensino de estratégias que estimulam o estudante a ter reflexões que irão aprimorar o seu autoconhecimento e os seus projetos de vida futuros, traçando um plano que lhe permita visualizar os melhores caminhos para atingir os seus principais objetivos.


A disciplina de “Tutorias e Orientações de Estudo ” busca estabelecer uma comunicação sistemática entre o educador e o aluno a fim de desenvolver no estudante o aprimoramento do seu planejamento de estudos, a sua autonomia, o seu autodidatismo, a sua atitude colaborativa, entre outros. As aulas desse novo componente curricular são aplicadas de duas a até quatro aulas semanais.

 

Em entrevista para o Eu, Estudante, Mariana Polidório, gerente de Relações Públicas do Instituto Sonho Grande, uma organização sem fins lucrativos que há seis anos estuda e apoia a expansão do Ensino Médio Integral (EMI), observa que o novo cronograma pode aprimorar o conhecimento e o aprendizado dos estudantes. “Dois pilares muito importantes no Novo Ensino Médio é o protagonismo juvenil, que enxerga o estudante como a figura mais importante da escola, e o “Projeto de Vida”, que é, de fato, aproveitar essa etapa fazendo o estudante pensar sobre onde ele quer chegar e que caminho ele precisa percorrer para chegar nesse lugar”, observa.


O Instituto Sonho Grande foi criado em 2015 e trabalha com o ensino médio integral em parceria com órgãos estaduais de educação de 20 unidades federativas brasileiras. Atualmente, o projeto é um dos principais incentivadores do cronograma nacional do Novo Ensino Médio (NEM), que foi implementado na última quarta-feira (14) pelo Governo Federal.

Mariana Polidório, gerente de Relações Públicas do Instituto Sonho Grande, que auxilia e apoia expansão do Ensino Médio Integral (EMI) no cenário educacional brasileiro.
Mariana Polidório, gerente de Relações Públicas do Instituto Sonho Grande, que auxilia e apoia expansão do Ensino Médio Integral (EMI) no cenário educacional brasileiro. (foto: Instituto Sonho Grande / Reprodução)


Sobre a nova disciplina, Mariana explica que os professores que têm mais afinidade com os estudantes e conhecimento sobre a realidade externa do ambiente escolar, serão escalados para ministrar essas aulas, após uma capacitação pedagógica: “A aula tem como principal intuito desenvolver a auto-afirmação do jovem e também o seu autoconhecimento.”


Para a gerente, a inclusão do ensino integral nas escolas de ensino médio pode diminuir a taxa de evasão nas escolas. “A gente tem um problema grave que é a evasão escolar e parte disso se deve porque as escolas não estão conectadas às necessidades pessoais dos estudantes. A gente vê que eles ainda não tem aquela clareza de que diferença aquela etapa na vida deles irá fazer no futuro.”, relata Polidório.


Segundo os novos relatórios da OCDE divulgados recentemente, 47% dos adultos brasileiros não têm o diploma de ensino médio completo, o que evidencia as altas taxas de evasão escolar na história do ensino pedagógico brasileiro. Para Mariana, as ferramentas de ensino podem modificar essa realidade a partir de três fatores. “Um deles é o acolhimento, o segundo é a questão das disciplinas que provocam o jovem a pensar no que ele é e sobre o que ele quer ser, e o outro é a questão do protagonismo juvenil, onde o estudante é incentivado a ser líder daquele espaço”, conta.


A gerente de Relações Públicas do Instituto Grande observa que a instituição do Ensino Médio Integral (EMI) não se resume somente ao aumento da carga horária anual dos estudantes, como muito é pensado pelos jovens que ainda não tiveram contato com esse método de ensino. “A gente acredita muito nesse modelo pedagógico, ele é muito mais do que mais tempo na escola. O tempo, na verdade, é um viabilizador de um modelo pedagógico mais profundo”

Mudanças de vida

A estudante sergipana Lenice Ramos, de 17 anos, está entre os 778 mil jovens que são educados no regime do Ensino Médio Integral (EMI). Aluna do Atheneu Sergipano, escola pioneira de Aracaju com 151 anos de história, ingressou no 1º ano em 2019 e conheceu o modelo integral de ensino. Atualmente, a jovem está no 3º e última ano da etapa e diz que o regime adotado pela sua instituição a encorajou a se conhecer de forma mais profunda: “Eu fui muito incentivada nesse sistema, e isso aguçou o meu desejo de me encontrar.”

A estudante diz que teve dificuldades durante a sua passagem do último ano do ensino fundamental para o médio. A escola onde estudava adotava o sistema de meio período, e Lenice frequentava o colégio somente pela manhã. “Achei muito cansativo porque de repente eu ficava das 7h até as 17h na escola e quando eu chegava eu tinha vários afazeres. Houve no início um pensamento de desistência meu e também de outros alunos, mas o bom do ensino integral era que todo mundo se apoiava a não desistir”, relata a jovem.

A estudante Lenice Ramos, de 17 anos. É aluna do Atheneu Sergipano, de Aracaju, escola que adota o Ensino Médio Integral (EMI)
A estudante Lenice Ramos, de 17 anos. É aluna do Atheneu Sergipano, de Aracaju, escola que adota o Ensino Médio Integral (EMI) (foto: Arquivo Pessoal)

A sergipana diz que também teve que contar com a resistência da sua mãe para estudar no Atheneu, que adotava o ensino integral. “Sempre houve uma resistência muito grande da minha mãe para entrar no ensino médio integral, pois ela queria que eu estudasse em meio período, mas depois ela gostou porque eu passava mais tempo na escola”, conta.

Lenice, que atualmente está se formando no ensino médio, diz que no seu período de experiência na instituição a fez mudar completamente de opinião sobre o curso superior que iria cursar futuramente. A estudante queria cursar medicina, mas durante o contato com o seu professor de sociologia e também com as aulas de "Projeto de Vida", logo foi influenciada a seguir a carreira que verdadeiramente ama: a comunicação. “Com o contato com o professor, eu pude me conhecer mais e me aprimorar na comunicação e ter a certeza daquilo que eu queria. A gente que está no ensino médio convive muito com essa pressão de vestibulares, e o contato com o professor nas aulas de Projeto de Vida ajuda bastante, principalmente porque eles ativam o nosso senso crítico”, explica a futura comunicóloga.

Perguntada pelo Eu, Estudante sobre a sua avaliação do sistema da sua escola, a estudante diz que o classifica da melhor forma, reiterando os incentivos e os benefícios do contato próximo ao corpo docente e aos outros colegas de sala de aula: “ O meu rendimento melhorou muito, a gente passa mais tempo com o professor e assim podemos ter mais tempo para tirar dúvidas. Eu realmente criei um 'projeto de vida' e isso significa muito para mim e para muitos outros estudantes, porque passando mais tempo na escola, você acaba enxergando não só o seu próprio crescimento, mas também o das pessoas ao seu redor.”

Cinco itinerários formativos


Uma das principais mudanças no Novo Ensino Médio (NEM) será a escolha dos chamados “itinerários formativos”, que são um conjunto de disciplinas, projetos, oficinas, núcleos de estudo, entre outras aprendizagens, que o jovem poderá escolher assim que entrar no ensino médio.


Os “itinerários formativos” são: linguagens e suas tecnologias; matemática e suas tecnologias; ciências da natureza e suas tecnologias; ciências humanas e sociais aplicadas e formação técnica e profissional.


Dessa forma, todos os estudantes que ingressarem no 1º ano do ensino médio irão escolher, durante o processamento da sua matrícula, uma destas cinco opções e serão realocados em escolas próprias para o ensino aprofundado da seleção desejada, na intenção de tornar a etapa mais customizada e adequada para os interesses, vontades e peculiaridades de cada estudante.


 

  • Mariana Polidório, gerente de Relações Públicas do Instituto Sonho Grande, que auxilia e apoia expansão do Ensino Médio Integral (EMI) no cenário educacional brasileiro.
    Mariana Polidório, gerente de Relações Públicas do Instituto Sonho Grande, que auxilia e apoia expansão do Ensino Médio Integral (EMI) no cenário educacional brasileiro. Foto: Instituto Sonho Grande / Reprodução
  • A estudante Lenice Ramos, de 17 anos. É aluna do Atheneu Sergipano, de Aracaju, escola que adota o Ensino Médio Integral (EMI)
    A estudante Lenice Ramos, de 17 anos. É aluna do Atheneu Sergipano, de Aracaju, escola que adota o Ensino Médio Integral (EMI) Foto: Arquivo Pessoal
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