Hoje (28/4) é comemorado o Dia Mundial da Educação. A data é celebrada há mais de 20 anos, desde que foi organizado o Fórum Mundial de Educação de Dakar, no Senegal. Durante o Fórum, 164 nações assinaram um documento e firmaram o compromisso de investirem em políticas públicas para educação básica.
Angela Dannemann, superintendente do Itaú Social, explica que o Brasil foi um dos países que ficou mais tempo com as escolas fechadas, por isso os estudantes perderam a forma mais comum de aprender: com interação social.
“De repente, a relação pessoal e direta desapareceu e causou um abalo grande demonstrado em pesquisas em relação à parte mais socioemocional. O aumento da ansiedade, tristeza, agressividade, mas a parte principal é a interlocução da aprendizagem”, pondera a mestre em administração. “Pesquisas mostram que isso vai gerar consequências negativas de aprendizado até 2024.”
De acordo com a última pesquisa encomendada ao Datafolha pela Fundação Lemann, Itaú Social e Imaginable Futures, 69% dos pais e responsáveis dizem que os estudantes dos anos iniciais do ensino fundamental terão atraso em seu processo de alfabetização, com prejuízo ao ensino.
Além disso, Angela também ressalta que algumas famílias acreditam que as crianças da pré-escola terão o aprendizado comprometido porque não podem aprender na frente de uma tela. A pandemia, apesar de ter avançado na tecnologia, também deixou a desigualdade tecnológica em foco.
Entidades promovem live sobre alfabetização na pandemia
Para celebrar a data do Dia Mundial da Educação e engajar a sociedade nas discussões sobre a qualidade da educação, a Fundação Lemann, o Instituto Natura e a Associação Bem Comum promovem uma live sobre alfabetização na pandemia nesta quarta-feira (28/4), às 17h30.
A transmissão será feita pelo Facebook da Fundação Lemann, com tradução em libras. O evento contará com a moderação da influenciadora Lorena Carvalho, a professora Coruja. Participarão do debate Mara Mansani, vencedora do Prêmio Educador Nota 10 em 2014; Marcia Ferri, gerente de projetos no Instituto Natura; e Fátima Melo, coordenadora pedagógica da Escola José de Matta e Silva, em Sobral (CE).
Pandemia permitiu alguns avanços na educação, segundo especialista
Para Fernando Barcelini, cofundador da plataforma de ensino bilíngue Realvi, a pandemia é um catalisador dos avanços na educação e a tecnologia, se bem aplicada, pode auxiliar nesse processo de redução das desigualdades.
“Ainda que saibamos que boa parte da população não tenha acesso a computadores e à internet, a tecnologia tem o poder de reduzir as desigualdades, pois habilita a multiplicação do conhecimento e extrapola o espaço físico da sala de aula”, reforça. “Talvez não vejamos esse avanço no curtíssimo prazo, mas certamente o reflexo será positivo daqui a alguns anos.”
Educação dá acesso a todos os outros direitos
Para a superintendente do Itaú Social, Angela Dannemann, a educação precisa ser celebrada todos os dias, pois é ela que facilita o acesso aos direitos e deveres dos cidadãos. “A educação é um direito que habilita e dá a possibilidade de enxergar todos os outros direitos. A gente só consegue enxergar que tem direitos quando a gente se educa”, explica.
Raphael Coelho, CEO da plataforma de tutoria on-line TutorMundi, afirma que o Dia da Educação é para comemorar a liberdade de estudo. “Eu acredito que, muitas vezes, a gente não percebe o quanto é difícil chegar nesse ponto onde as pessoas têm liberdade de estudar, de expressar, de pesquisar qualquer coisa que seja”, diz.
Engenheiro de formação, ele foi convidado para ser professor de matemática com apenas 18 anos, após ser o primeiro colocado no vestibular da disciplina na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Hoje, ele afirma que faria diferente na sala de aula.
Raphael comenta que dividiria a aula em três blocos: o primeiro para aula expositiva, segundo para discussão em grupo e terceiro para que o aluno individualmente buscasse apoio da tutoria. “No terceiro bloco, ele viraria protagonista da própria educação”, explica.
Pesquisa mostra que áreas de exatas seguem sendo a maior dificuldade dos alunos na pandemia
De acordo com pesquisa feita pela plataforma de aprendizagem TutorMundi, das quase sete mil aulas ministradas dentro do aplicativo, durante o primeiro trimestre de 2021, as dúvidas relacionadas à números e fórmulas foram as mais frequentes, sendo: matemática com 32,6%, física (21,4%) e química (14,7%).
Embora em menor quantidade, as dificuldades relacionadas à área de humanas e biológicas também são frequentes, destaque para redação (13,7%), português (5,4%) e biologia (5,3%). As dúvidas menos frequentes aparecem nas disciplinas de geografia, história e filosofia com (3,3%), (2,5%) e (1,1%) respectivamente.
Entretanto, segundo o CEO da startup, Raphael Coelho, o que mais impressiona não é o fato das disciplinas de exatas serem as mais citadas, mas analisar que as maiores dúvidas estão nos conteúdos básicos. “Quando a gente mergulha nessas dúvidas as maiores dúvidas são em matemática básica, sendo que a maioria dos nossos alunos são de ensino médio”, comenta.
Na língua portuguesa, apesar de ser uma área menos citada, as dificuldades mais relatadas foram em relação à interpretação de texto. “Se a interpretação de texto está falha e a matemática básica está falha, é o fim para a formação do estudante”, explica o engenheiro pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Raphael acredita que a causa para esses problemas é a “uma falsa crença de que nós podemos correr atrás do tempo perdido”, o que faz com que a educação não se atente como deveria aos conteúdos base.
A plataforma também elencou as maiores dúvidas apresentadas dentro de cada disciplina. Em matemática, as principais dificuldades são com equações elementares (44%), seguido por trigonometria (10%), ângulos (9%), conjuntos (9%).
Em física, a dúvida mais recorrente é sobre conceitos básicos de cinemática que tem 30% dos resultados, seguida por movimentos circulares (19%). Em química, a maior dificuldade é em química orgânica (30%), química geral e inorgânica (18%), e estequiometria (17%).
Educadores desabafam sobre o desafio de educar na pandemia
Em 2021, o dia da educação traz uma nova perspectiva sobre a reflexão a respeito dos desafios enfrentados no setor. Após mais de um ano em casa, os professores continuam tendo que se adaptar e se reinventar no dia a dia das aulas.
Confira os comentários de educadores sobre a importância da educação em tempos de pandemia:
Professores precisam de capacitação
A superintendente do Itaú Social, Angela Dannemann, destaca o trabalho dos professores e redes que se reinventaram juntos, apesar das dificuldades, para começarem as aulas remotas.
Segundo uma pesquisa feita pelo Instituto Península, os docentes acreditam que o futuro da educação será presencial, mas o regime híbrido veio para ficar. Para que isso ocorra de maneira efetiva, é preciso investir na capacitação desses professores.
“A formação existe para melhor uso das tecnologias dedicadas à pedagogia. Não é pedagogia servindo a tecnologia, mas a tecnologia servindo a pedagogia para os professores se adaptem mais facilmente”, reforça.
Para auxiliar os profissionais de educação a se aperfeiçoarem constantemente, o Serviço Nacional de Aprendizagem (Senac) oferta diversas capacitações a distância. Acesse a programação completa de cursos do Senac EaD no site.
*Estagiárias sob supervisão da editora Ana Sá