RESISTÊNCIA

Ocupação CCBB: após dia de resistência, escola local permanece de pé

Ativistas e moradores fizeram um cerco ao redor da escola por nove horas seguidas. Fiscais do DF Legal e policiais militares deixaram o local sem demolir a construção

Talita de Souza*
postado em 05/04/2021 19:22 / atualizado em 05/04/2021 19:33
 (crédito: Juliana Castro)
(crédito: Juliana Castro)

“Se vocês continuarem e quiserem cumprir a ordem da derrubada, vai ocorrer uma tragédia, pois não vamos sair daqui. Essa escola terminou de ser reconstruída ontem e é o único acesso das crianças da comunidade à educação, pois elas não tem pacote de dados para o ensino remoto”, declara o ativista Thiago Ávila, 34 anos, ao tenente-coronel Elisson Fernandes, policial militar que liderou a ordem de derrubada de moradias da ocupação da CCBB, na L4 Norte, nesta segunda-feira (5).

A fala foi dita quando policiais e fiscais do DF Legal, equipados com tratores, chegaram até a Escolinha do Cerrado para derrubar a construção, no início da tarde desta segunda. Após nove horas de resistência de moradores e ativistas, a força-tarefa deixou o local sem demolir a escola, por volta das 18h.

 

 

Confira um dos momentos da negociação entre policiais e o ativista Thiago Ávilla:


A mobilização do ativista Thiago Ávila e outros membros de coletivos do Distrito Federal (DF) iniciou às 9h30 de hoje, quando o grupo formou um abraço em volta à escola como resistência para impedir a derrubada após a chegada da força-tarefa no local. De acordo com o ativista, a escola beneficia 18 crianças e cada uma dispõe de um professor voluntário para não ocorrer aglomerações. A iniciativa é uma forma de evitar a ruptura dos estudos durante a pandemia.

Segundo os membros da ocupação, a Secretaria de Educação do DF (SEEDF) reconheceu, em documento enviado à comunidade em 22 de março, a escola local como uma instituição de ensino. No entanto, até o fechamento desta matéria a SEEDF não confirmou a afirmação ao Correio.

“Pode ter certeza que de nós nunca virá nenhum desacato, porque sei que vocês são trabalhadores. O que nós queremos é dar aula aqui hoje a tarde”, explica Thiago a um policial que se aproximou da escola no início da manhã.

 

Mobilização em torno da Escolinha do Cerrado. Local é alternativa para as 18 crianças da ocupação continuar a estudar na pandemia
Mobilização em torno da Escolinha do Cerrado. Local é alternativa para as 18 crianças da ocupação continuar a estudar na pandemia (foto: Foto: Scarlett Rocha)

A força policial esteve na ocupação para destruir as construções feitas pelos moradores do local. De acordo com o ativista, Thiago Ávila, a comunidade é composta por 34 famílias e 90 pessoas. Os ocupantes afirmam que a força-tarefa destruiu 17 das 30 casas de madeirite no local.

A ação foi a continuação de desocupação ordenada pelo governador Ibaneis Rocha em 22 de março, após decisão do presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Humberto Martins, autorizar a remoção dos moradores, na última sexta-feira (2).

A primeira desocupação resultou na derrubada de casas e também da escola do local, além da prisão do ativista Thiago. Com a repercussão, a Defensoria Pública do Distrito Federal solicitou à Justiça a proibição do despejo, pedido atendido e mantido até a ordem expedida pelo STJ.

“Eles estão aumentando a pressão. De um lado está chegando o temporal. De outro, tá chegando o batalhão de choque e a cavalaria. Tivemos um diálogo respeitoso, mas eles estão falando que é hora da repressão e que vão nos arrancar daqui de qualquer jeito”, declarou Thiago em vídeo no Instagram.

“Estaremos aqui. Por favor, ajudem a deter o massacre, pessoal”, clamou.


Os grupos que denunciam o despejo lembram que a Lei Distrital nº 6.657/2020, sancionada em agosto do ano passado, proíbe remoções e ordens de despejo durante a pandemia. O Psol (Partido Socialismo e Liberdade) encaminhou ao Supremo Tribunal Federal (STF) uma reclamação para anular a decisão do presidente do STJ. O deputado distrital Fábio Félix esteve no local e deu apoio aos moradores.


Ativistas convocam pessoas para impedir a demolição na terça-feira (6)

No Twitter, as hashtags #ocupaCCBBresiste e #DespejoNaPandemiaéCrime foram criadas por ativistas e apoiadores da resistência para compartilhar informação e mobilizar mais pessoas pela causa.

A deputada federal Talíria Petrone (PSOL-RJ) e o ativista Guilherme Boulos demonstraram apoio ao movimento. Confira:




Após a PM deixar o local, os ativistas celebraram a vitória diária, mas afirmam que ainda há um longo caminho a percorrer. Na rede, o Coletivo Ecossocialista e Libertário Subvertamos convocou pessoas a estarem presentes na ocupação na terça-feira (6) para ajudar na resistência contra a demolição.

 

— Subvertamos (@subvertamos) April 5, 2021


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