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PANDEMIA

Pandemia: 71% dos alunos da América Latina não vão aprender a ler

A previsão consta de relatório elaborado pelo Banco Mundial, com dados também da educação do Caribe. Nos ensinos fundamental e médio, a previsão é que dois de três alunos não conseguirão compreender textos de tamanho moderado

Espantosas. Assim são definidas pelo Banco Mundial as estimativas dos efeitos do fechamento das escolas na América Latina e no Caribe, reveladas em relatório da organização divulgado nesta quarta-feira (17). O documento afirma que a pandemia poderá fazer com que 71% dos alunos do Brasil e dos outros países da região não aprendam a ler.

Estudantes do ensino médio e dos últimos anos do ensino fundamental também serão gravemente prejudicados: mais de dois em cada três alunos nessas séries de ensino não saberão entender textos de tamanho moderado após 13 meses de fechamento das instituições de ensino. No Distrito Federal, as escolas públicas estão fechadas há 12 meses e não há previsão de retorno das aulas presenciais.

O aumento na pobreza de aprendizagem, termo usado pelo Banco Mundial, pode atrasar alunos em até 1,7 ano de escolaridade. Para casos de escolas fechadas por até 10 meses, o atraso é de 1,3 ano.

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O relatório afirma que a situação da América Latina e do Caribe é pior devido ao aumento de casos e mortes na região. A falta de controle da pandemia resulta em mais perdas na aprendizagem dos alunos. Ao todo, 170 milhões de alunos serão prejudicados.

Cenário da educação no Brasil, que já era precário, ficou pior. Pobres são mais afetados

De acordo com o levantamento, a América Latina já apresentava resultados ruins em relação à aprendizagem. Os alunos de 15 anos da região estão, em média, três anos atrás dos alunos dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), segundo o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA) de 2018.

Entre 2000 e 2018, apenas três de 20 países apresentaram melhorias no atraso: Peru, Chile e Colômbia, cujos jovens de 15 anos avançaram 2,4 anos, 1,4 e 0,9, respectivamente. É por esse motivo que o Banco Mundial chama a atenção para a necessidade de priorizar a educação no período pandêmico.

No Brasil, 50% dos alunos estavam em pobreza de aprendizagem. Após a pandemia, a estimativa é que o número aumente para 71%. Estudantes mais pobres serão os mais afetados, e a desigualdade de proficiência pode aumentar até 12% entre ricos e pobres. A diferença resulta em quase três anos letivos de atraso em comparação aos ricos.

A restrição no acesso à internet é um dos motivos para o aumento das desigualdades entre as classes econômicas dos estudantes. Cerca de 12,5% dos alunos afrodescendentes brasileiros estavam matriculados em escolas que não forneciam atividades escolares em formatos alternativos ao virtual. O percentual é quase o dobro de alunos não-afrodescendentes na mesma situação (6,4%).

“É particularmente preocupante quando as expectativas de perdas de aprendizagem na América Latina e no Caribe ocorrem em uma região já assolada por uma crise de aprendizagem anterior à pandemia”, registra o relatório. “E com a maior desigualdade no acesso de estudantes à educação de qualidade no mundo”, complementa.

Consequências vão além do aprendizado

Além da perda da capacidade de aprender, os estudantes enfrentam outros dilemas. O primeiro está relacionado diretamente ao ensino: o abandono escolar poderá aumentar em 15% nas instituições latinas e caribenhas com a pandemia.

Tanto o abandono quanto a perda de aprendizagem resultarão em perdas de capital humano nos países. O Banco Mundial estima que o atraso na educação dos alunos provocará a perda de ganhos de U$$ 1,7 trilhão de dólares aos integrantes da América Latina e Caribe. Isso porque estudantes abaixo do nível mínimo de proficiência terão dificuldade em desenvolver habilidades básicas para o mercado de trabalho.

Impactos na saúde física, mental e emocional dos estudantes também são estimados. De acordo com o relatório, a falta de merenda escolar, por exemplo, impacta 10 milhões de estudantes na América Latina. A pressão e os receios da doença prejudicam a saúde emocional e mental dos alunos.

Com o encolhimento econômico, é esperado a migração de estudantes do ensino particular para o público. Isso fará com que os poucos recursos recebidos pelas instituições públicas se tornem insuficientes para promover ensino de qualidade.

“Esse repentino aumento no ingresso de estudantes financiado por recursos públicos está criando uma carga financeira adicional para os governos da região, impondo mais um desafio para o financiamento do setor”, regista o relatório.

É tempo de reagir e melhorar o sistema educacional, diz pesquisa

Apesar do cenário quase apocalíptico, a organização afirma que é possível recuperar ou desacelerar as perdas de aprendizagem a partir de um enfrentamento direto dos desafios dos sistemas educacionais.

“Para manter a continuidade, a participação e a qualidade dos estudos, os países latino americanos e do Caribe devem aproveitar, ao mesmo tempo, as oportunidades de reconstruir sistemas educacionais mais sólidos no longo prazo”, citam.

O relatório apontam seis ações que podem ajudar nos problemas:

  1. Aumentar a eficácia de aprendizagem remota durante o fechamento de escolas: é preciso, além de oferecer ensino, fazer estratégias eficazes para que as atividades cheguem até os grupos mais desfavorecidos. Envolver pais e responsáveis e formar professores para aprimorar habilidades tecnológicas também são pontos essenciais para o ensino ser assertivo;
  2. Criar ou aprimorar um modelo de aprendizagem híbrida, com uso do ensino presencial e remoto: é provável que no Brasil e nos países vizinhos a redução de circulação de pessoas dure mais tempo que o esperado, por isso é preciso preparar um modelo que funcione nos dois modelos de ensino;
  3. Inserir professores na prioridade de vacinação: enquanto escolas se certifiquem que terão estrutura necessária para reabrirem, governos devem considerar professores como trabalhadores da linha de frente e vacinar a categoria o quanto antes
  4. A reabertura deve ser feita a partir de decisões de gestão e pedagógicas estratégicas: se a maioria dos estudantes está com aprendizagem defasada, então é necessário mudar o currículo escolar, simplificando-o mas preservando certos padrões de aprendizagem. Adaptação de calendários e cancelamento de provas também podem ser medidas necessárias para combate da defasagem;
  5. Avaliações do estado emocional serão essenciais: com a pressão da pandemia, escolas deverão estabelecer avaliações socioemocionais de estudantes e professores e fornecer apoio psicológico conforme necessidade
  6. Criar formas de monitoramento de alunos: para evitar o abandono escolar, instituições devem criar formas de fomentar a vontade de permanência do aluno, como divulgar informações sobre como acessar o conteúdo, como pedir auxílio de reforço e até mesmo a importância de se formar.

O Banco Mundial afirma que está “comprometido em continuar a apoiar os países nos seus esforços de recuperação relacionados à pandemia, ao mesmo tempo em que acelera iniciativas de reforma da educação na esperança de ajudar os sistemas educacionais a se reconstruírem melhor”. Para a instituição, apesar dos dados desanimadores, os sistemas educacionais da América Latina têm a oportunidade de reformular o ensino dos países.

“A crise da covid-19 pode ser a oportunidade para transformar todo o sistema educacional de modo a priorizar e apoiar a aprendizagem dos estudantes e desenvolver uma nova visão na qual a aprendizagem aconteça para todos, em todos os lugares”, conclui o documento.