Hoje, 15 de março, comemora-se o Dia da Escola. Assim como em 2020, a data é celebrada em meio a uma situação de impedimento do ensino presencial pela pandemia da covid-19. Com uma nova escalada de casos, as escolas da rede pública de ensino do Distrito Federal permanecem fechadas, mantendo um ensino on-line. Assim, os desafios da modalidade se estendem ao ano letivo de 2021.
As aulas na rede pública têm ocorrido por meio da plataforma Escola em Casa, que utiliza a ferramenta Google Sala de Aula. Para os alunos que enfrentam dificuldades no acesso à internet, a Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (SEEDF) orienta as escolas a disponibilizar atividades correspondentes às aulas também em formato impresso.
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Na Capital Federal, as aulas remotas para os alunos das escolas públicas começaram em 8 de março. Segundo a secretaria, somente nos primeiros três dias do ano letivo 2021, a plataforma registrou cerca de 467 mil acessos. Segundo a pasta, o número é 185% maior que no ano letivo anterior.
Questionada, a Secretaria não informou, até o fechamento desta reportagem, se tem disponível um levantamento com o número de alunos e professores sem acesso à internet ou que enfrentam dificuldades de conexão e precisarão contar com materiais impressos no ano letivo de 2021. O espaço segue aberto para futuras manifestações.
Adaptação e conexão ainda são problemas
Pamela dos Santos Barbosa, 17 anos, é aluna do 3° ano do ensino médio do Centro Educacional (CED) São Francisco, localizado em São Sebastião (DF). A estudante destaca que o ano letivo de 2021 começou com dificuldades semelhantes as do período anterior, principalmente quanto à plataforma utilizada para as aulas. Segundo a jovem, a plataforma Escola em Casa, oferecida pela Secretaria de Educação, costuma travar durante o uso.
Além disso, Pamela relata que a principal dificuldade está na adaptação ao modelo de aulas remotas. “O ensino on-line tem sido um pouco difícil porque não tem muita interação dos professores com os alunos e fica um pouco difícil de tirar as dúvidas”, lamenta.
Bianca Vitória Mesquita Barros, 16, aluna do 3° ano do ensino médio do Centro de Ensino Médio Integrado (Cemi) do Gama, destaca que tem tido problema de conseguir conexão para assistir às aulas este ano. Em 2020, os únicos problemas que teve foram instabilidades passageiras, que ela acredita terem sido causadas pela sobrecarga de acessos. No entanto, atualmente tem que lidar com uma conexão cedida por uma vizinha. Ela observa que os professores têm se esforçado bastante. “Mas de qualquer forma acaba sendo mais complicado (o ensino on-line)”, destaca a jovem.
Mãe de três alunos matriculados na rede pública de ensino, Luziana Barros, 36, destaca que a filha de 16 anos conseguiu se adaptar ao modelo, no entanto, os menores, um de oito e outro de cinco, não atingiram um bom desempenho. Como estão em idade de alfabetização, a dificuldade é maior pela falta de contato direto com a professora. “É algo que tem que ter um profissional do lado”, ressalta.
Além disso, Luziana, que é produtora rural, ressalta o impasse de conciliar o trabalho com o ensino dos filhos. “Quando a gente deixa o filho na escola, vem uma atividade que dura de uns 30 minutos a uma hora. Já na atividade on-line, passa o dia todo ensinando o filho. Ou você ensina, ou faz as coisas em casa”, ressalta.
Diretor destaca aumento de interesse no impresso
O diretor do CED São Francisco, Matheus Costa, 26, classifica o suporte da secretaria como regular, pois considera que é preciso um debate mais ampliado para políticas mais eficazes. “Tais como ressignificar o espaço escolar, aquisição e distribuição de aparelhos tecnológicos para o trabalho fluir tanto para o professor quanto para o estudante”, lista. “Infelizmente, a gente não tem conseguido avançar”.
“Com certeza, a internet de qualidade é o que pesa mais. A gente tem muita reclamação de estudantes em relação a não conseguir ver vídeos postados na plataforma ou enviados pelo celular, ou então que não conseguem participar de uma videoconferência porque os dados da internet não aguentam”, lamenta. “Isso tem provocado ainda mais um distanciamento da relação do aluno com a escola e com o professor”.
Ele destaca que não tem exatamente o número de alunos adotando o modelo impresso em substituição ao on-line. Mas lembra que houve maior engajamento com a plataforma no retorno online, o que foi diminuindo no decorrer do período letivo de 2020, e consequentemente a demanda pelo material impresso aumentou. “Chegou a uma debandada da plataforma em torno de uns 30% ou mais”, estima.
Modelo remoto também desafia professores
A diretora do Sindicato dos Professores no Distrito Federal (Sinpro-DF), Rosilene Corrêa, ressaltou que a entidade ainda não tem dados suficientes de quantos professores ou alunos enfrentam dificuldades de acesso à internet. Mas ela pontua que é esperado um número significativo de alunos que precisam recorrer a materiais impressos por falta de conexão.
“Quanto aos professores, continuamos enfrentando o mesmo problema: professores assumindo para si toda a responsabilidade com as despesas de ter as ferramentas de trabalho”, ressaltou.
Professor do Cemi do Gama, Ariomar da Luz Nogueira Filho, 42, destaca que, durante o período de pandemia, conseguiu se integrar bem ao modelo e não teve dificuldade na adaptação ao modelo das aulas remotas. “A dificuldade foi os alunos terem acesso à aula”, observa. “Os alunos tiveram uma dificuldade significativa, principalmente, aqueles que tinham acesso à internet somente pelo celular”.
O docente destaca que o trabalho da SEEDF tem sido significativo, apesar das falhas. “O que falta é exatamente conseguir entregar as máquinas para que os alunos tenham acesso em casa. Há famílias com três ou quatro estudantes que utilizam a mesma máquina ou o mesmo celular, e isso interfere diretamente no processo”, destaca. Ela também considera necessário a pasta aferir a situação por meio da análise de dados da plataforma ou mesmo de prova diagnóstica, e ofertar capacitação para que os professores e alunos desenvolvam aulas mais lúdicas e experimentais.
Também é preciso aprimorar a segurança do ambiente on-line, diz professora
A professora regente em 2020 e atual coordenadora pedagógica do CED São Francisco, Jéssica Franco, 29, relata que, no ano letivo anterior, foram frequentes as queixas dos alunos em relação ao acesso de qualidade à internet ou aparelhos adequados. “Em muitas famílias estudantes de diferentes faixas etárias utilizam um mesmo aparelho celular para acompanhar as atividades. Muitos relataram buscar conexões de wi-fi públicas para acompanhar as atividades remotas”, observa.
Em um levantamento produzido pela escola em 2020, os alunos indicaram como fatores que dificultavam o rendimento: as dificuldades de adaptação ao meio remoto, ausência de conexão de qualidade, ou frequência insuficiente de acesso, excesso de demandas de trabalho ou cuidado, inadequação dos aparelhos eletrônicos e fatores como o adoecimento psíquico.
“Creio que o acesso a uma conexão de internet de qualidade, que suporte os encontros síncronos pela plataforma, seria algo que ofereceria um ganho expressivo em relação às experiências do ano passado. Creio que também é necessário aprimorar a segurança da informação no meio remoto. Ano passado, algumas escolas sofreram invasões nos encontros síncronos”, ressalta.
Associação de pais e alunos destaca mudanças
O presidente da Associação de Pais e Alunos do Distrito Federal (Aspa-DF), Alexandre Veloso, ressaltou que a associação vem percebendo que o planejamento do atual retorno está melhor na opinião dos pais. “Ao que parece, o número de aulas on-line aumentou e os professores estão mais experientes com a utilização da ferramenta remota”, afirma. “A tendência é que neste ano o ensino remoto seja melhor porque no ano passado foi muito ruim”.
“Acredito que seja importante a Secretaria (de Educação) regularizar essa situação do acesso à internet e buscar resgatar os alunos que abandonaram a escola”, ressaltou. Alexandre destacou que espera que a pasta confirme quantos alunos e professores não tiveram acesso à internet e a equipamentos, tanto no ano letivo de 2020 quanto no ano letivo de 2021, e também espera que a secretaria encontre caminhos para reverter a evasão escolar mesmo em modelo remoto.
*Estagiário sob a supervisão da editora Ana Sá
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