Com o início do ano letivo, as instituições da rede particular de ensino apostam na alternância entre aulas presenciais e on-line para atender todos os alunos e também manter protocolos de segurança. Para que essa rotina de estudos seja saudável, pais e especialistas apostam em estabelecer regras e encontrar um ambiente tranquilo em casa.
Maitê Magalhães, 17 anos, é aluna do 3° ano do Colégio Marista e acredita que o ensino híbrido foi uma boa opção durante a pandemia para conseguir atender todos os estudantes: os que estão presencialmente e aqueles que seguem em aulas remotas.
Em casa, ela tem um ambiente tranquilo para estudar, além do apoio dos pais. Eles sempre incentivam que a filha mantenha um bom hábito de estudos e estabeleça metas e objetivos.
Além disso, quando vai à escola, Maitê faz registros simples durante as aulas e depois revisa. “Eu sei que aprendo mais visualmente, então eu tento anotar tudo o que os professores falarem e, ao chegar em casa, eu passo meu registro prévio para o fichário adicionando minhas próprias anotações”, conta. “Essa foi a maneira que encontrei de conciliar o foco na aula com uma rotina para deixar tudo em dia.”
Família estabelece quadro de combinados
Talitha Zuza, 38 anos, é dentista e mãe de Ana Beatriz Zuza, 12. Devido à pandemia, a filha começou a fazer sessões com psicóloga e, com a ajuda da profissional, criaram um sistema para garantir uma rotina saudável durante o ensino híbrido.
“A gente criou com ajuda da psicologia um quadro com combinados entre eu e ela que estabelece os horários de acordar, tomar café, trocar de roupa e assistir aula”, explica Talitha. O objeto fica no quarto de Ana Beatriz para que ela própria possa verificar as tarefas que tem que fazer todos os dias.
Para Talitha, fazer combinados e estabelecer regras durante esse período difícil foram essenciais. Além disso, ela também afirma que os pais precisam constantemente dar reforços positivos para os filhos.
“O aprendizado que fica é esse: fazer os combinados com o filho, acompanhar e elogiar todo pequeno passo”, pondera a dentista. “Todo mundo precisa do reforço positivo para se estimular a continuar fazendo certo.”
Pais precisam estabelecer limites com os filhos
Para Ricardo Timm, orientador pedagógico do Colégio Marista, a prioridade para garantir um modelo híbrido saudável é equilibrar a vida acadêmica com a pessoal. “O estudante precisa de equilíbrio emocional para que ele possa estudar de maneira adequada, por isso o tempo de estudo e de atividade física tem que ser bem equilibrado”, pondera.
Ricardo também reforça o papel das famílias, principalmente para ajudar as crianças da educação infantil, nessa adaptação. Confira algumas dicas:
- Ambiente: os pais passam a ser os cooperados da escola, portanto têm que definir um ambiente adequado para o aprendizado. Na escola, o ambiente com ventilação, silencioso e que facilita a compreensão existe; em casa, não;
- Rotina: é preciso estabelecer um horário de acordar, de fazer as refeições e de dormir. Ricardo Timm reforça que os pais precisam negociar a questão do lazer e o tempo gasto com aparelhos celulares e computadores. “Com ensino híbrido, estamos extrapolando o limite do tempo de tela, por isso invista no tempo de lazer longe da tela”, aconselha o psicopedagogo.
- Foco: utilize técnicas de estudo e de concentração como a pomodoro. Estude por 25 minutos e descanse por cinco minutos. Isso evita cansaço e auxilia no foco;
- Plano de estudos: faça uma organização visível em agenda ou outro meio para o controle de tarefas.
Ensino híbrido proporciona maior autonomia
Lucas Rocha, gerente de inovação da Fundação Lemann, explica que o modelo híbrido é um conjunto de estratégias para o professor organizar a aula e montar uma experiência de aprendizado para o estudante, que passa a ser mais autônomo.
“O que está na essência do ensino híbrido é montar uma experiência de aprendizado que converse com o aluno e fomente o lugar do aprender a aprender”, explica. “O aluno, muitas vezes, está com roteiro de estudos e acaba desenvolvendo autonomia para completar a atividade.”
Marta Durante, diretora pedagógica da plataforma on-line de aprendizagem Cloe, também acredita nos benefícios do ensino híbrido, como o ensino ativo. Porém, a educadora reforça que o modelo não é só a alternância entre o remoto e presencial, mas envolve outras estratégias.
“A gente tem chamado de ensino híbrido a ideia de que hora está presencial e hora remota, mas o híbrido também é uma estratégia metodológica para aprendizagem ativa, como aulas invertidas e criar situações que os alunos possam fazer trabalho em equipe virtual”, observa a mestre em educação.
Várias estratégias se aplicam a diferentes realidades
Como as possibilidades de ensino híbrido são diversas, especialistas acreditam que o primeiro passo é estabelecer uma mudança de cultura na escola e conhecer novas tecnologias.
Robson Ghedini, coordenador pedagógico da Conquista Solução Educacional, explica que se a escola não disseminar a cultura do ensino híbrido para as famílias, o estudante pode "colocar todos os empecilhos possíveis para não fazer as atividades on-line”.
“O que a gente observa é que a criança fica no propósito de só usar as tecnologias para redes sociais e videogames e não com intuito de aprender e estudar'', explica o educador. “A escola e a família têm que dar direções para o aluno praticar algo que é fundamental: fazer curadoria on-line e buscar informações certas.”
Marta Durante conta que a Cloe criou três grades de organização para as escolas se adaptarem ao ensino híbrido. Há possibilidades de alternância semanal, diária e com capacidade reduzida de 50% a 35% dos alunos que estão em aulas presenciais.
A estratégia foi feita pensando nas escolas que não conseguem atender tantos alunos devido às medidas de distanciamento social. Neste momento, Marta acredita que elas devem priorizar a qualidade do ensino.
“A gente tem que pensar mais na qualidade e menos na quantidade de aulas, porque pode ser que a quantidade não gere aprendizado”, observa.
Escola propõe grade optativa
Uma estratégia de ensino híbrido implementada pelas unidades do Colégio Elite, inclusive nas escolas do Gama, Ceilândia e Guará, foi a criação de disciplinas eletivas disponibilizadas de forma on-line. Deborah Anastacio, diretora pedagógica do Colégio Elite, conta que o sistema propõe uma formação diversa aos alunos na educação básica. Eles podem escolher cursos como marketing, oratória, educação financeira e criação de games.
“O aluno tem a autonomia de escolher a disciplina que ele quer cursar, e eu posso contar com o apoio da tecnologia para fazer uma transmissão ao vivo. O professor pode morar em Brasília, mas dar assistência para os alunos de qualquer lugar do país”, ressalta a mestre em educação.
Pais fazem exercícios físicos com as filhas
Viviane da Silva Dourado Mangueira, 40 anos, é técnica de enfermagem Hospital do Gama e tem duas filhas: Luísa, 6, e Paula, 11. Ela trabalha presencialmente no Hospital do Gama, mas o marido está em teletrabalho. Quando ela não pode auxiliar as meninas, o pai faz essa função.
“O ensino híbrido é bem corrido, você tem que conciliar trabalho, tarefas do lar e as aulas das meninas. As duas conseguem se virar bem, mas precisam da ajuda”, disse.
Para tornar a rotina cada vez mais saudável, Viviane e o marido dividem as tarefas de casa com as filhas. Eles também fazem circuitos de exercícios físicos com elas e incluíram uma alimentação mais balanceada.
“No início da pandemia, a gente ganhou bastante peso, por isso a gente está tentando manter uma alimentação saudável e deixamos os doces só para o final de semana”, explica.
Treze estados seguem com ensino híbrido
Segundo levantamento da Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep), 13 estados e o Distrito Federal adotaram o modelo híbrido na rede particular de ensino. São eles: Acre, Alagoas, Amazonas, Amapá, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Pernambuco, Rio de Janeiro, Sergipe e São Paulo.
Os demais estados seguem no modelo totalmente on-line devido à pandemia.
Na rede pública, 12 estados optaram pelo retorno híbrido: Alagoas, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Tocantins e Sergipe. Os dados são do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed).
*Estagiária sob a supervisão da editora Ana Sá