Segundo o Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Distrito Federal (Sinepe-DF), as escolas têm autonomia para voltar presencial ou permanecer no remoto até o fim do lockdown. Ao todo, são 570 escolas e, das 200 filiadas ao Sinepe-DF, 85% retornaram presencialmente, nesta segunda-feira (8/3).
Na última sexta-feira (5/3), o governador Ibaneis Rocha alterou o decreto que restringe o funcionamento das atividades não essenciais para permitir aulas presenciais na rede particular de ensino (incluindo creches, escolas, faculdades e universidades), além do funcionamento das academias.
Retorno é considerado tranquilo para aluna
Yasmim Cruz, 16 anos, estudante do 2º ano do ensino médio do Colégio SEB Dínatos, apenas se sentiu segura com o retorno em meio ao lockdown porque a escola conseguiu seguir todas as medidas de segurança. As aulas também seguem o modelo híbrido: uma semana, parte das turmas vai para as aulas presenciais, enquanto a outra fica em casa assistindo às aulas remotas.
“Na escola as pessoas não ficam se tocando sem parar porque tem monitores olhando e limite de pessoas por mesa na cantina”, explica. Outra medida imposta pela escola é que se o aluno retirar a máscara sem qualquer justificativa, ele deve permanecer somente no ensino on-line.
Além disso, Yasmim sentiu falta de cinco amigos de seu círculo de amizade, que optaram por não voltar durante esta semana. “Tem menos gente na minha sala porque as pessoas estão receosas pelo agravamento da pandemia, mas acredito que não seja por causa dos cuidados da escola”, observa a estudante.
Aspa considera que esta semana será decisiva
A Associação de Pais e Alunos das Instituições de Ensino do DF (Aspa-DF) orienta para que a decisão final seja sempre da família quanto ao retorno presencial dos filhos. Além disso, Alexandre Veloso, presidente da entidade, pondera que os próximos dias serão fundamentais para os pais que ainda estão com dúvidas e receosos.
“Eu acredito que esta semana vai ser decisiva para manutenção ou não das aulas presenciais. Vamos acompanhar para estar de alguma maneira orientando e articulando com os pais”, afirma.
Alexandre avalia também que algumas famílias estão mais receosas e não aderiram ao retorno em meio ao lockdown do DF.
“Alguns pais que estavam mandando o filho para a escola resolveram aguardar até 15 de março, independentemente do decreto, considerando o cenário atual em que o filho pode ser vetor de risco para a família”, explica o presidente.
“Tomei um susto ao ver sala vazia”
No Colégio Sigma, alguns alunos que haviam aderido ao ensino híbrido resolveram não voltar esta semana. Em uma das salas do 3º ano do ensino médio, Diego Noronha, 16, conta que normalmente cerca de 14 colegas assistem às aulas com ele, mas nesta segunda a realidade foi outra: apenas quatro estudantes foram presencialmente.
“Tomei um susto muito grande, pensei até que estava na sala errada, mas isso foi só na minha sala, em outras tinha o número normal”, conta o estudante.
Ele e o irmão gêmeo, Lucas Noronha, 16, retornaram presencialmente após o decreto do governador Ibaneis Rocha depois de uma conversa com os pais. Inicialmente, Diego conta que, pela situação da pandemia, os pais não autorizaram o retorno, mas ambos os estudantes argumentaram e explicaram os pontos positivos.
“Eu e meu irmão falamos que estávamos precisando voltar. A gente disse que valia a pena, que o Sigma estava rígido e estava seguindo os protocolos”, explica. “A gente quer realmente ter uma dinâmica de estudos e aprender.”
Mãe autoriza retorno dos filhos
Francielly Müller, 37, é psicóloga e mãe de Henrique, 8, e Murilo, 5. Ambos voltaram às aulas presenciais, e Francielly acredita que foi a melhor decisão, considerando a logística vivida pela família. O marido trabalha presencialmente e ela dá aulas virtuais. Com isso, ela não consegue auxiliar os filhos quando necessário e só há um computador disponível em casa.
Francielly também reforça que se sente segura com as medidas adotadas pela escola. A instituição não faz atividades coletivas, enviam avisos aos pais e pedem que evitem aglomerações na porta da escola quando vão deixar os filhos.
Além disso, a professora universitária também observa que os prejuízos aos pequenos não são só educacionais, mas também emocionais: “É mais caro bancar os cuidados do adoecimento psíquico do que bancar o retorno presencial”.
Escolas com turmas cheias
De acordo com o diretor jurídico do Sindicato dos Professores dos Estabelecimentos Particulares (Sinproep-DF), Rodrigo de Paula, ainda está sendo feito um balanço das aulas, mas que o sindicato recebeu algumas reclamações de escolas que estão com turmas cheias e desrespeitando o distanciamento social.
“A gente entende que a situação que Brasília está atravessando é grave e a educação infantil tem condições de funcionar presencialmente, mas a partir do 5º ano não é o momento de funcionar”, pondera. “As escolas conseguem entregar muito bem a educação no ambiente virtual.”
Na próxima terça-feira (9/3), haverá uma reunião com o Ministério Público do Trabalho (MPT) e o Rodrigo de Paula acredita que será momento de defender a suspensão imediata das aulas a partir dos anos finais do ensino fundamental e reavaliar a educação. Além disso, as medidas de segurança também serão revisadas para evitar situações de superlotação nas salas de aula.
*Estagiária sob a supervisão da editora Ana Sá