ESCOLAS PÚBLICAS

Ibaneis afirma que retorno das aulas presenciais em março é imprescindível

Em visita a escola reformada em Santa Maria, o governador reafirmou o retorno do regime presencial para o próximo dia 8. Sinpro-DF afirma que a categoria não aceitará retorno presencial até que os professores sejam vacinados

Cibele Moreira
Edis Henrique Peres
postado em 26/02/2021 06:00
 (crédito: Edis Henrique Peres/CB/D.A Press)
(crédito: Edis Henrique Peres/CB/D.A Press)

A declaração do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), sobre a volta às aulas em 8 de março, preocupa profissionais da educação. Ibaneis visitou, ontem, obras realizadas em Santa Maria, e durante a inauguração da reforma da Escola Classe 01, de Porto Rico, afirmou que o retorno presencial do ensino era imprescindível. Segundo o governador, o início das aulas tem de ser realizado mesmo que em regime alternado.

“Não podemos aumentar a distância social das crianças de escolas públicas em relação às de ensino particular. É legítima a reivindicação dos professores, mas não podemos atrasar ainda mais o retorno às aulas. Mesmo que ele seja feito em regime alternado, a depender do plano da Secretaria de Educação”. Ibaneis acrescentou que conta com os professores para que o retorno seja seguro e de acordo com as recomendações de prevenção.

“O afastamento das escolas está deixando as crianças doentes e traz, também, problemas familiares. A nossa vontade era de ter vacinado os professores, infelizmente isso não foi possível devido ao pequeno número de doses, mas pelo exemplo que temos das escolas particulares, percebemos que temos condições de manter uma segurança nesse retorno presencial”, ressaltou.

O diretor do Sindicato dos Professores no Distrito Federal (Sinpro-DF), Samuel Fernandes, afirma que a categoria não aceitará o retorno presencial agora, principalmente levando em consideração a situação pandêmica em que o DF vive. De acordo com ele, as escolas não estão preparadas para receber os alunos. “O governo quer levar várias famílias à morte. Essa é uma luta pela vida. Não vamos aceitar, e se o governo insistir, vamos convocar uma assembleia virtual com a categoria”. O posicionamento do sindicato é que as aulas só retornem, de forma presencial, após a vacinação dos professores e com as condições sanitárias adequadas.

Vacinação necessária

Para o epidemiologista e professor da Universidade de Brasília (UnB) Walter Ramalho, a decisão do governador é bastante arriscada. “O risco de contágio é muito grande. Tivemos a experiência com as escolas particulares, onde houve um protocolo sanitário rigoroso, e mesmo assim algumas escolas estão fechando por pequenos surtos. Imagine nas escolas públicas. Diante dos resultados, acho uma temeridade o retorno das aulas presenciais agora”, destacou o especialista.

Na avaliação dele, a segurança, de fato, só será possível quando os professores, pais e avós desses alunos estiverem vacinados. “A gente sabe que as crianças têm menos riscos de adoecer e desenvolver sintomas graves. Mas elas fazem parte de uma cadeia de transmissão e podem ser um vetor de contaminação do vírus”, ressalta. “Eu, particularmente, sou contra a ausência das aulas presenciais, mas temos de avaliar isso com segurança”, pontua Ramalho.

De acordo com o último boletim epidemiológico, divulgado ontem pela Secretaria de Saúde, 6.437 crianças entre 2 e 10 anos foram infectadas pelo novo coronavírus no Distrito Federal. Duas delas morreram por complicações da doença. Na faixa etária de 11 a 19 anos, o número é bem maior, com 15.364 contaminações e quatro mortes. Se analisar a faixa etária dos professores, o índice de casos aumenta expressivamente. Até ontem, 76.591 pessoas entre 30 e 39 anos testaram positivo para a covid-19 e 117 faleceram. No grupo de 40 a 49 anos, foram registradas 63.511 contaminações e 308 óbitos.

Professores aguardam plano de retorno às aulas da Secretaria de Educação

Categoria espera orientações da pasta desde a última segunda-feira. Ainda restam dúvidas

 (crédito: Edis Henrique Peres/CB/D.A Press)
crédito: Edis Henrique Peres/CB/D.A Press

A equipe do Correio visitou duas escolas da rede pública e apurou como estava a estrutura dos colégios para receber os alunos em 8 de março. A informação obtida é que a estrutura dos colégios já sofreu modificações desde 2020, quando houve a possibilidade de retorno presencial em agosto do ano passado.

As escolas receberam, ainda naquele ano, totens para distribuição de álcool em gel, tapetes de higienização e máscaras de tecido (duas por aluno). Além disso, na entrada dos colégios foram instaladas pias médias e pequenas para os estudantes realizarem a higienização das mãos logo que chegarem nas unidades. O Correio questionou a Secretaria de Educação a cerca dos protocolos que serão adotados nas escolas para o retorno presencial no dia 8, mas até o fechamento desta edição não teve retorno da pasta.

Professores alertam que o plano de orientação sobre o retorno às aulas é esperado desde a última segunda-feira pelos profissionais, e que até ontem não havia sido disponibilizado. O Correio entrevistou uma vice-diretora, que preferiu não ser identificada. Ela contou que, no antigo plano estudado pela Secretaria de Educação, ainda em 2020, haveria a redução do horário de aula para três horas, tanto pela necessidade de troca de máscaras dos alunos como para a devida higienização das salas na troca de turma; assim como a suspensão dos recreios e também de leituras de livros, para evitar contaminação dos objetos. O plano de 2020 previa, também, o retorno gradativo e em regime alternado, no qual metade da turma teria aulas remotas em uma semana, e presenciais na seguinte.

Dúvidas

Apesar dessas indicações já estudadas pela pasta de Educação, ainda há questionamentos não respondidos. A vice-diretora questiona, por exemplo, como será o retorno dos alunos especiais, que não aceitam uso de máscara ou que possuem imunidade baixa. Outro problema apontado é que grande parte dos professores possui comorbidade ou convive com idosos, o que afeta o retorno desses profissionais.

“Tivemos, em outra escola, um vice-diretor que morreu, e aqui temos uma professora que perdeu pai e mãe para a doença. Como vamos pedir o retorno das aulas presenciais sem o mínimo de segurança? Entendemos a necessidade de voltar às aulas, queremos isso. Mas sem vacinação, vamos expor alunos e familiares, e também seremos expostos”, pontua. “Além disso, há escolas que não possuem uma boa ventilação, salas que são abafadas e diversos outros problemas”, ressalta.

Sindicato recebe denúncias de superlotação no ensino privado

Segundo o Sindicato dos Professores em Estabelecimentos Particulares de Ensino do Distrito Federal (Sinproep-DF), por semana a entidade recebe cerca de 30 denúncias dos pais reclamando da situação

Aulas presenciais nas escolas particulares voltaram há cerca de um mês -  (crédito: Colégio Arvense/Divulgação)
crédito: Colégio Arvense/Divulgação

Perto de completar um mês da volta às aulas, as escolas privadas sofrem denúncias de superlotação das salas de aulas. Segundo informações do Sindicato dos Professores em Estabelecimentos Particulares de Ensino do Distrito Federal (Sinproep-DF), por semana a entidade recebe cerca de 30 denúncias dos pais reclamando da situação. “Eles revelam que muitas escolas se comportam como se não estivessem em uma pandemia”, aponta Rodrigo de Paula, diretor jurídico do Sinproep.

Até 31 de dezembro do ano passado, o acordo de protocolo das escolas particulares previa a lotação de apenas 50% das salas de aula. Contudo, com o vencimento da medida, a exigência deixou de ser obrigatória. A presidente do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Distrito Federal (Sinepe-DF), Ana Elisa Dumont, se manifestou sobre o suposto descumprimento da rede privada. “Sindicatos não têm poder de polícia para fiscalizar instituições. A questão é que estão colocando itens como obrigatórios, e que no presente momento não são. As normas que as escolas têm de cumprir são do decreto 40.939, e não há menção à lotação de 50%, apenas sobre o distanciamento mínimo de 1,5m”, afirma.

O diretor jurídico do Sinproep, Rodrigo de Paula, revela que o sindicato já está em contato com o Ministério Público do Trabalho (MPT) para reavaliação da norma atual. Segundo Rodrigo, o desejo é que as salas de aula voltem a ter uma lotação máxima de alunos para evitar o contágio da doença.

O Sinproep terá uma reunião, em 9 de março, com o MPT e o GDF para reavaliar as normas atuais. Ricardo também acrescentou que, caso não seja obtido acordo, há a possibilidade de profissionais acionarem a Justiça para a suspensão das aulas. “Acontece que algumas pessoas defendem apenas a concepção do mercado, mas nós estamos preocupados em defender a vida e a segurança”, finaliza.

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