Uma pesquisa do Instituto Tim, por meio do projeto “O círculo da matemática no Brasil”, constatou que cerca de 70% dos professores ouvidos relataram dificuldades em se adaptar às aulas remotas. A pandemia, no entanto, gerou nos docentes um sentimento de mais eficiência e otimismo em relação à carreira.
As condições para o trabalho remoto apresentaram dificuldades de adaptação para 66,4% dos entrevistados. Mais da metade dos professores, 58%, contaram não conseguir dar aulas sem barulho ou interrupções em casa. A pesquisa mostrou ainda que 78% dos docentes apresentaram problemas de insônia ou excesso de sono.
O levantamento revela que o ambiente em sala de aula é muito mais prejudicial à saúde mental dos professores do que trabalhar de casa. Conflitos nas turmas e violência nas localidades onde as escolas estão inseridas foram apontados como os principais fatores negativos do trabalho presencial.
Na pesquisa, 64% dos docentes responderam que presenciaram agressão física ou verbal contra professores ou funcionários feitas por alunos. Outros 72% relataram ter presenciado brigas entre estudantes.
Por isso, mesmo com as dificuldades de adaptação ao novo formato de aulas digitais, uma das conclusões do levantamento é de que a pandemia trouxe um respiro ao bem-estar mental de quem leciona.
O índice foi verificado pela escala Warwick-Edinburgh Mental Well-Being Scale (WEMWBS). De acordo com o estudo, a pandemia também reduziu o índice de Burnout entre os professores. A síndrome se manifesta quando há um esgotamento físico e emocional em relação ao trabalho.
Como consequência, houve aumento do sentimento de autoeficácia dos professores durante a pandemia e do otimismo em relação à carreira. Cerca de 45% dos entrevistados viam possibilidades de desenvolvimento e de promoções, indicador que aumentou 15 pontos percentuais nos questionários feitos mais recentemente. Mais de 80% dos docentes acreditam que suas qualificações continuarão válidas no futuro.
A avaliação, por outro lado, destacou ainda mais as desigualdades da sociedade brasileira: professores pardos e negros foram mais impactados pela pandemia. Entre as pessoas negras, 76% mencionaram dificuldades de adaptação às aulas on-line, 64% não conseguiram trabalhar bem de casa e 83% tiveram problemas de sono durante a pandemia.
O contexto familiar transpareceu diferenças: 79% dos professores negros contaram que suas famílias perderam parte da renda durante a crise sanitária, contra 61% dos profissionais brancos.
A pesquisa ouviu professores do ensino fundamental em diferentes estados do Brasil, da rede pública e particular, entre janeiro e novembro de 2020. A amostra foi calculada com um nível de confiança de 95%. Quase 80% trabalham em bairros economicamente mais vulneráveis, que dá uma média de 30 horas de aulas por semana, para cerca de 28 alunos por turma. Um quarto dos entrevistados trabalha em duas ou mais escolas e 24% exercem outra atividade para complementar a renda.
Principais resultados pré-pandemia
Contexto dos entrevistados
· 77% trabalham em bairros economicamente mais vulneráveis, dando uma média de 30,5 horas de aulas por semana, para cerca de 28 alunos por turma;
· 40% já experimentou nos últimos dois anos algum parcelamento de salário, sendo que 10% tem atraso frequente de salário, e 12% passou algum período de desemprego ou trabalho temporário no ano passado;
· 33% trabalham em escolas onde faltam recursos ou material didático para suas aulas;
· 25% trabalha em duas ou mais escolas e 24% exercem outra atividade para complementar sua renda.
· 65% sempre ou quase sempre levam trabalho para casa.
Violência:
· 64% presenciaram agressão física ou verbal contra professores ou funcionários, feitas por alunos;
· 21% relataram terem sido ameaçados por algum aluno;
· 72% relataram já ter presenciado brigas entre estudantes.
Principais resultados pós-pandemia:
· 17% testaram positivo para Covid-19 ou acham que tiveram a doença (entre a população negra ouvida, este índice foi de 27,6%; entre os brancos, de 13,7%);
53% tiveram alguém na família que testou positivo para Covid-19 ou acha que teve a doença;
· 66,8% têm algum conhecido que morreu de Covid-19;
· 66,7% teve ou vive com alguém que teve perda de renda por causa da pandemia (entre a população negra ouvida, este índice foi de 79,3%; entre os brancos, de 61,3%);
· 78% teve problemas de sono durante a pandemia;
· 82,5% apresentou ou tem alguém na família que apresentou sintomas de ansiedade ou depressão por causa da pandemia;
· 91% deu aulas online durante a pandemia para alguma das escolas em que trabalha;
· 66,4% teve dificuldade de adaptação às aulas não presenciais (entre a população negra ouvida, este índice foi de 75,9%; entre os brancos, de 64,3%);
· 58% relataram não ter condições em casa para ministrar as aulas remotas (sem barulho ou interrupções) (entre a população negra ouvida, este índice foi de 37,9%; entre os brancos, de 46,4%);
· 52% precisou também fazer as atividades domésticas durante o período em que trabalhou ou está trabalhando em casa.