A rede pública do Distrito Federal registrou, em 2019, mais de 108,7 mil estudantes em situação de fracasso escolar, termo utilizado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) para definir o ciclo composto por reprovação, distorção idade-série e abandono de estudos. Secundaristas, negros e indígenas são maioria no montante total.
Os dados são de estudo divulgado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) na manhã desta quinta-feira (28/1), em entrevista coletiva feita por meio do aplicativo Zoom. Representantes do Unicef e dos parceiros na iniciativa do estudo, o Instituto Claro e o Cenpec Educação, explicaram os principais pontos do levantamento.
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“A cultura do fracasso escolar se constitui numa ameaça severa para o pleno desenvolvimento de crianças e adolescentes em sua vida cotidiana, tanto no presente quanto na construção de seus futuros”, pontua o Unicef no estudo.
No DF, 27,6 mil (7,8%) alunos estavam na primeira fase do ciclo em 2019: a reprovação. A organização afirma que, se não houver o cuidado e o engajamento necessário, esses alunos podem continuar a reprovar e migrar para a segunda etapa do fracasso escolar: a distorção idade-série.
O DF registra 74,5 mil (21%) estudantes com idade inadequada para a série em que estudam. O abandono escolar é o último passo do ciclo e, em 2019, o DF teve 6,5 mil (1,8%) crianças e adolescentes que desistiram de concluir a educação básica.
Fracasso escolar é maior em escolas localizadas em regiões administrativas com menor renda per capita
De acordo com o estudo, o Centro Educacional nº 1 da Estrutural registra 650 alunos em situação de fracasso escolar. São 467 (36,9%) estudantes com distorção idade-série, 129 (10,2%) reprovados e 54 (4,3%) que decidiram abandonar os estudos.
Já o Centro Educacional da Fercal, situado na região administrativa que há cerca de uma década foi alvo de mobilização para melhorar o ensino da região, registra taxa de 45,5% de estudantes em distorção de idade-série. O índice de reprovados é de 12,4%. No entanto, o estudo não registrou taxas de abandono escolar.
Em contrapartida, o Centro Educacional nº 1 do Cruzeiro, localizado na área central do Distrito Federal, apresenta apenas 54 estudantes no mesmo ciclo. Enquanto 46 (16%) estão em série em desacordo com a idade deles e oito (2,8%) são repetentes. Não há alunos que abandonaram os estudos.
Negros e indígenas são maioria entre estudantes reprovados
Mais de 27,6 mil alunos do DF eram repetentes em 2019. As maiores taxas de reprovação estão no ensino médio (11,67%) e nos anos finais do ensino fundamental (8,58%) e se referem, em sua maioria, a estudantes do gênero masculino (9,4%).
Pretos (8,79%) e indígenas (8,52%) são o perfil da maior parte dos repetentes, seguidos pelos estudantes pardos (8%). Brancos representam 6,43% do total.
Distorção idade-série é maior no ensino médio
Cerca de 29,12% dos estudantes do ensino médio estão com idade inadequada para a série em que estudam. A segunda maior taxa de distorções é vista nos anos finais do ensino fundamental (26,98%), seguida pela marca de 11,67% dos anos iniciais do mesmo grau de ensino. No total, 74,5 mil alunos estavam nessa condição em 2019.
A maioria dos alunos com atraso na escolarização são do gênero masculino (24,86%). Ao filtrar os dados por cor e raça, indígenas aparecem no topo do ranking e formam 31,25% do total de estudantes com atraso, seguidos por estudantes pretos (24,59%) e pardos (22,6%).
1º ano do ensino médio tem alto índice de abandono escolar
A partir da lógica proposta pelo Unicef, o terceiro passo do ciclo do fracasso escolar é o abandono, prática feita, muitas vezes, por quem reprovou diversas vezes e sofre com a distorção de idade-série.
No DF, o ensino médio registra a maior taxa de desistência (4,71%) e o 1º ano da parte final da educação básica registrou, em 2019, mais de 1,9 mil abandonos dos estudos. A prática também representa taxa significativa no 2º ano, com 1,2 mil desistentes.
A maioria dos abandonos foram feitos por alunos do gênero masculino (2%), o que representa 3,6 mil alunos. Indígenas (2,27%), amarelos (2,2%), pretos (2,21%) e pardos (1,88%) são as cores e raças dos grupos que mais apresentaram desistência.
*Estagiária sob supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa