Para professores e especialistas, o início da vacinação contra a covid-19 é vista com esperança, mas não altera o cenário de precaução. A preparação para o ano letivo de 2021 ainda deixa dúvidas na comunidade escolar.
Na rede pública, as aulas poderiam começar em formato remoto e, depois, ao longo do ano e com a vacinação da população, passarem a ser presenciais? Existe a possibilidade de um formato híbrido? Restam mais perguntas do que respostas entre todos os envolvidos.
O retorno das escolas públicas do Distrito Federal está previsto para 8 de março, mas sem confirmação do método de ensino. Instituições particulares têm formato mais definido e retomam atividades com incentivo ao presencial.
Para definições concretas, professores e diretores da rede pública de ensino aguardam decisão da Secretaria de Estado de Educação (SEEDF), que não respondeu às perguntas do Eu, Estudante sobre o ano letivo. Famílias com filhos matriculados em escolas públicas enfrentam incertezas sobre a modalidade confirmada para o início das aulas.
Para Alexandre Veloso, diretor da Associação de Pais e Alunos (Aspa), a previsão é de que as escolas particulares recebam entre 70% a 80% dos alunos no formato presencial e o restante no ensino remoto. Ele espera mais biossegurança para o retorno, já que as unidades escolares precisaram fazer uma adaptação em 2020 e agora estão mais acostumadas aos cuidados necessários.
“Agora nós estamos colhendo um ambiente mais seguro para que os alunos possam retornar nessas aulas presenciais. Isso foi fruto de um esforço grande do ano passado que as escolas fizeram para permitir esse retorno presencial. A escola pública vai ter que percorrer esse caminho de aprimoramento dos protocolos e criação de rotina para permitir o retorno presencial”, explica.
Além disso, existem muitas particularidades que devem ser acompanhadas com precaução. De acordo com a Aspa, 90% dos alunos de escolas públicas usam transporte escolar. Nesse sentido, é preciso avaliar questões como transporte e preparação de alimentos nos colégios para definir aulas presenciais de forma segura.
Sem saber se o retorno será presencial, híbrido ou a distância, Marcos César, diretor da Escola Classe 302 Norte, conta que os professores estão montando planejamentos para revisitar conteúdos e habilidades que não foram alcançados no ano de 2020.
De acordo com o diretor, será difícil rever essas competências em um retorno on-line. “A alfabetização e todo o ensino fundamental necessitam de contato, vínculo, trocas e vivências entre as crianças e professores”, explica.
O Sindicato dos Professores no Distrito Federal (Sinpro-DF) acredita que não será possível um retorno presencial em 8 de março. Rosilene Corrêa Lima, diretora do sindicato, também descarta a opção híbrida.
“As providências que estão sendo tomadas claramente não são suficientes para que tenhamos recebido a vacina. Sem vacina para a população, nós não enxergamos condições de segurança para um retorno de aula presencial, ainda que híbrido”, explica.
Letícia Diniz, 15 anos, aluna do 2º ano do Centro de Ensino Médio Paulo Freire, torce para um retorno presencial. “Espero que (as aulas) comecem logo para que possamos descobrir como compensar o ano passado, pois a maioria dos alunos teve dificuldades para aprender apenas com atividades e aulas gravadas”, diz.
Faltam informações importantes sobre o futuro escolar, mas ela está confiante e aliviada com o início da vacinação. “A vacina vai nos permitir ter um contato mais direto com os professores e, sem dúvidas, ajudar no entendimentos de algumas matérias que não são tão simples de aprender por slides.”
Retorno seguro?
Apesar de a vacina trazer esperança, Leonardo Weissmann, médico infectologista e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia, explica que “não podemos condicionar a volta às aulas à vacinação”.
De acordo com o especialista, a novidade só terá impacto quando boa parte da população tomar as duas doses e estiver imunizada. “Não se pode falar com certeza sobre segurança para um retorno presencial nesse momento”, explica.
“De forma geral, as crianças apresentam infecções mais leves e disseminam menos os vírus, se comparadas aos adultos. Porém, é importante avaliarmos que o país está em um momento crítico, com importante aumento no número de casos e isso pode representar um risco maior a professores e demais funcionários”, completa.
Comunidade aposta no ensino híbrido
No cenário da rede particular, a escola SEB Dínatos aposta na liberdade de escolha. Segundo o diretor Daniel Souza, as famílias podem optar por iniciar as atividades escolares em modelo exclusivamente remoto ou retornar para o ensino presencial.
Em 2020, o colégio registrou entre 15% e 20% de presença nas turmas. Para 2021, a instituição vai manter o ensino híbrido com aulas síncronas, mas a expectativa é de mais alunos em sala de aula.
Com treinamentos de equipe e protocolos de segurança, a escola está confiante para o retorno. “Estamos começando este ano com mais segurança para ofertar mais opções de atividades presenciais. Então ano passado era só aula, já, para este ano, vamos oferecer monitoria e plantões no contraturno de forma síncrona”, explica.
Rodrigo de Paula, diretor jurídico do Sindicato dos Professores em Estabelecimentos Particulares de Ensino do Distrito Federal (Sinproep), acredita que o início do ano letivo vai ser acompanhado de fiscalizações a respeito dos protocolos de segurança. Os professores foram incluídos no quarto grupo de vacinação, e a expectativa é de que essa etapa ocorra em abril.
Katia Machado, 51, é mãe de uma aluna do ensino fundamental da rede particular e apostou no modelo híbrido para o ano letivo de 2021. Apesar das incertezas, a empresária espera que o ano supra as lacunas de aprendizado que 2020 deixou. “Estou preocupada e sem instrução. A cho que vai ter que ir acontecendo para eles tomarem providências”, conta.
Novidade no DF
Será inaugurada em 8 de fevereiro, na Asa Sul, a primeira unidade da Escola Eleva no DF. Direto do Rio de Janeiro, o colégio de período integral aposta em treinamentos da equipe para o ensino presencial. Para manter a segurança, será desenvolvida uma abertura gradual para que alunos e professores pratiquem os protocolos de segurança na escola durante duas semanas.
Outra medida foi a criação de uma célula de monitoramento, equipe formada por profissionais de saúde da escola, enfermaria, médicos de consultoria e time pedagógico, para manter a segurança. O objetivo é monitorar suspeitas e casos de covid-19 confirmados para alimentar um painel visual disponível para toda a comunidade escolar.
Além da campanha para a manutenção das medidas sanitárias e psicológicas dentro e fora do ambiente escolar, o projeto permitirá informar pais e alunos em tempo real sobre casos de covid-19 e procedimentos a serem tomados.
Para Isabella Sá, diretora da Escola Eleva, a vacina chegou para aumentar a esperança e trazer otimismo. “Ela não muda (nosso cenário) ainda diretamente, porque a maioria dos nossos professores e as crianças não têm idade ainda no cronograma, mas ela nos traz muita esperança de dias melhores”, comenta.
O Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Distrito Federal (Sinepe) informa que as escolas vão precisar seguir à risca todos os protocolos de segurança, como distanciamento e higienização dos ambientes para ter o ensino presencial.
Para Marcos Scussel, vice-presidente do sindicato, ainda é preciso olhar o cenário pela frente com muito cuidado. “Até (as vacinas) chegarem às crianças, às famílias e à população em geral, ainda temos um longo período pela frente. Então o que muda é em relação à esperança de que essa vacina irá resolver o problema”, diz.
Protocolo de segurança
A ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) lançou um protocolo de retomada para auxiliar no retorno das atividades escolares de forma segura. A prática recomendada tem o objetivo de garantir o bem-estar da comunidade escolar.
Dentre as medidas, estão a criação de horários diferenciados e dicas de higienização para materiais escolares. Para acessar o material completo, basta acessar o site da ABNT.
*Estagiária sob supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa