Ano letivo

Aulas aos sábados ainda surpreendem alunos da rede pública do DF

Portaria divulgada em 31 de dezembro define ano letivo de 2021 com 200 dias e reposição aos sábados. Segundo a SEE-DF, a escolha foi feita a partir de consulta à comunidade

EuEstudante
postado em 05/01/2021 18:59 / atualizado em 05/01/2021 20:14
 (crédito: Diana Raeder/Esp. CB)
(crédito: Diana Raeder/Esp. CB)

Por Gabriella Castro*

Se aulas remotas de segunda a sexta-feira já pareciam maçantes, ainda mais para os estudantes mais novos, em 2021, os alunos da rede pública do Distrito Federal terão de se adaptar a um desafio extra: ter aulas também aos sábados a fim de garantir que o ano letivo de 2021 acabe, de fato, neste ano.

Com atrasos no calendário acadêmico devido à pandemia, o planejamento do ano letivo de 2021 prevê reposições aos sábados nas escolas públicas do Distrito Federal. Ainda não há determinação que defina se o ensino será totalmente remoto, pois isso dependerá das condições sanitárias.

Portaria do Governo do Distrito Federal que cravou o calendário com 200 dias letivos e reposições aos sábados foi publicada em 31 de dezembro. Para muitos pais, alunos e professores, o documento se “perdeu” em meio às comemorações de fim de ano. Por isso, o novo calendário ainda é surpresa para muita gente, principalmente para os estudantes.

2020 ainda não acabou

A virada do ano já aconteceu, mas a virada no ano letivo não. Em março de 2020, estudantes do Distrito Federal e de todo o Brasil tiveram o semestre suspenso por causa da pandemia do novo coronavírus.

A paralisação, prevista inicialmente para durar 15 dias, durou bem mais do que o esperado. As aulas da rede pública do DF foram retomadas a distância em julho e isso provocou um atraso no calendário acadêmico.

O ano letivo de 2020 será concluído em 28 de janeiro. O calendário letivo de 2021 se inicia em 8 de março e se estende até 22 de dezembro. Esse calendário foi decidido com 67,8% dos 15.280 votos em consulta no site da Secretaria de Estado de Educação (SEE-DF).

Estudantes se surpreendem com aulas aos fins de semana

Aluno do Centro de Ensino Fundamental (CEF) 1 do Cruzeiro, Isaac Oliveira Galvão, 13 anos, relata estar confuso com o fim do ano letivo de 2020. Ele não sabia se já iria para o 9º ano do ensino fundamental agora em janeiro ou se continuaria no 8º. Sobre os sábados, o jovem afirmou estar “sem opinião por falta de informação”.

Aulas aos fins de semana também foram novidade para Gabrielle Silva, 16 anos. Estudante do Centro de Ensino Médio (CEM) 1 de Planaltina, ela afirmou que a possibilidade de ter aulas no sábado não tinha sido conversada com ela.

Gabrielle está no 1º ano do ensino médio
Gabrielle está no 1º ano do ensino médio (foto: Arquivo Pessoal)

 

Também aluna do CEM 1 de Planaltina, Laura Brotas de Sousa, 16, está atenta a estratégias para conseguir acompanhar os conteúdos. “Acredito que depende da aula, é necessário o tempo de descanso para o aluno, acho que se for uma aula leve o aprendizado não é afetado”, afirmou a jovem.

Danielle Sobrinho, 20 anos, estudante de relações internacionais, faz curso do idioma espanhol no Centro Interescolar de Línguas (CIL) de Brasília desde 2011. Ela não sabia, até a entrevista ao Eu, Estudante, sobre a reposição aos sábados.

A estudante participa de um grupo no aplicativo de mensagens WhatsApp com a professora, mas ainda não teve nenhum aviso sobre o calendário. Para ela, “aulas aos sábados não parecem uma boa ideia”. A jovem já teve atividades nesse dia e diz achar muito cansativo.

Danielle Sobrinho é estudante de espanhol do CIL
Danielle Sobrinho é estudante de espanhol do CIL (foto: Arquivo Pessoal)

 


 

Aulas aos sábados chocam professores

Assim como o ensino remoto, as aulas aos sábados também dividem opiniões entre os alunos e professores. Para a professora do Centro de Ensino Médio Integrado do Gama (Cemi Gama) e mãe de aluno Jacqueline Cavalcante, a melhor alternativa seria reduzir o número de dias letivos.

Jacquelina de Araújo é professora e mãe de aluno
Jacquelina de Araújo é professora e mãe de aluno (foto: Arquivo Pessoal)

Segundo ela, a secretaria deveria “se sensibilizar mais” com a situação dos estudantes. “Nossos alunos não têm psicológico nem maturidade para lidar com a aula virtual”, ressalta. A docente também destaca a necessidade de montar estratégias para que o ano não seja tão cansativo.

Luciana Custódio, da formação sindical do Sinpro-DF (Sindicato dos Professores do Distrito Federal), diz que a categoria foi surpreendida pela enquete promovida pela SEE-DF. "Historicamente, defendemos o calendário escolhido pela categoria, após consulta feita por meio de enquete. Ocorre que, desta vez, após um ano atípico em que a escuta e o diálogo com o Sinpro precisariam ser fortalecidos, fomos surpreendidos com uma enquete paralela realizada pela SEE, que aprovou o calendário letivo, inserindo o conceito de legitimar os sábados como dias letivos", diz.

"Isso nos causa muita preocupação porque considerar 11 sábados letivos como parte do calendário escolar é romper com a premissa básica de garantir o descanso legítimo do fim de semana tanto para a categoria quanto para estudantes." Luciana explica que "o Sinpro tem o histórico de defender um calendário escolar que seja debatido e construído a partir da consulta à categoria".

"Sempre apresentamos uma enquete com pelo menos três propostas, a partir da preservação de alguns conceitos básicos, como o cumprimento dos 200 dias letivos, sendo 100 no primeiro semestre e 100 no segundo para respeitar também as normativas da EJA (Educação de Jovens e Adultos) quanto das modalidades do Regime de Semestralidade", afirma.

Questionada sobre o diálogo com a comunidade, a assessoria de imprensa da SEE-DF respondeu que “os calendários escolares de 2021 foram decididos pela comunidade escolar e demais interessados”, mas não deu mais informações sobre a participação de professores e alunos no processo.

 

*Estudante de jornalismo da Universidade de Brasília (UnB) sob supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa

 

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