Há três anos, o Serviço Social da Indústria (Sesi) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) deram início a uma experiência pioneira de implementar o novo ensino médio, reforma da grade curricular aprovada por lei federal em 2017. Agora, a primeira turma a cursar os três anos finais da educação básica nesse formato está se formando.
A formatura será hoje, às 16h30, com transmissão pelo canal do Seni no YouTube. Ao todo, 198 estudantes de Goiás, Bahia, Ceará, Espírito Santo e Alagoas receberão certificado do novo ensino médio, feito com um itinerário técnico, por isso, serão diplomados também em eletrotécnica.
Assista à formatura:
Todos estudaram os três anos de graça, sendo que 81,5% vieram de escolas públicas, 87% são da classe D e 13%, da classe C. Muitos dos formandos sonham agora com o ensino superior, no entanto, já estão também prontos para entrar no mercado de trabalho como técnicos em eletrotécnica e atuar em diferentes segmentos com salário médio de R$ 1.700 a R$ 3.390.
Um dos formandos do novo ensino médio, Weverton Júlio da Silva, 19 anos, se sentiu no centro do processo de ensino-aprendizado durante os três anos de estudo. O aluno do Sesi Senai Benedito Bentes, em Maceió (AL) conta que a experiência que teve com o novo ensino médio permitiu a preparação para as esferas profissional e pessoal.
“Muitas pessoas acham que a educação é simplesmente ir para escola sentar e assistir às aulas. Você é o aluno, você é o protagonista e o novo ensino médio faz com que o aluno se sinta assim”, diz.
Para Danielle Santos, coordenadora pedagógica do Sesi Euzébio Mota de Alencar, em Fortaleza (CE), tratar o estudante como prioridade é, de fato, a grande intenção da equipe. “O grande ganho é colocar o aluno como protagonista da aprendizagem, fazer com que o ensino tenha significado e, assim, garantir que ele desenvolva habilidades e competências, que é o que o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e a vida cobram”.
A coordenadora celebra o esforço desses alunos e está animada para ver o que o futuro lhes reserva. “Todos têm muito a contribuir para o mercado de trabalho e retornar para a sociedade tudo o que aprenderam com qualidade ímpar.”
A pós-graduada em gestão escolar explica que “o que diferencia o novo ensino médio do regular é o currículo integrado”. A matriz trabalha por áreas de conhecimento, o que favorece o desenvolvimento de uma visão holística do aluno em relação ao ensino.
Danielle destaca que alguns dos diferenciais para que o projeto-piloto desse certo foram o apoio da comunidade e as capacitações oferecidas à equipe pedagógica. “Tudo era muito novo, mas abraçamos o projeto e vendemos o para pais e alunos. Se você não tem uma equipe que acredita no projeto você não consegue evoluir”, pondera.
Mais horas
De acordo com o diretor-superintendente do Sesi e diretor-geral do Senai, Rafael Lucchesi, o grande diferencial do novo ensino é a grade horária ampliada, de 2.400 horas para 3.000 horas.
Desse total, 1.800 horas seguem as normas da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), e as outras 1.200 horas são destinadas ao itinerário formativo, que pode ser composto por linguagens, matemática, ciências naturais, ciências sociais aplicadas e educação profissional técnica.
Os 198 estudantes que se formam hoje são só os primeiros: atualmente, de acordo com o diretor-superintendente do Sesi e diretor-geral do Senai, Rafael Lucchesi, o novo ensino médio está em vigor em 22 estados brasileiros, com 6.538 estudantes matriculados em unidades dos dois serviços.
Formação na pandemia
A pandemia colocou em risco as antigas práticas do ensino, mas o diretor Rafael Lucchesi comenta que o Sesi e Senai se adaptaram bem à nova realidade, graças à parceria com a plataforma de ensino on-line Plural. “Aqui tem toda uma rede de suporte e isso nos permitiu fazer um trabalho muito sólido, mesmo com a educação a distância”, pontua.
Para o futuro, Rafael cogita um ensino híbrido, que combine os formatos remoto e presencial, “utilizando de forma mais intensa as plataformas tecnológicas, e sempre valorizando, também, a função do professor”.
Apesar de as aulas ocorrem a distância este ano devido à pandemia, as unidades contam com salas de matemática, laboratórios de ciência e robótica para fornecer todo o apoio necessário ao desenvolvimento dos jovens.
Para o estudante Carlos Eduardo dos Santos, 18 anos, o primeiro desafio com o novo ensino médio, ao ser contemplado com a bolsa para estudar no Sesi de Maceió, foi se acostumar à metodologia, diferente da que ele teve acesso no ensino fundamental.
Após três anos de imersão, percebe que o sistema, na verdade, é mais prático e intuitivo. Durante a pandemia, a principal barreira para ele foi conseguir estudar em casa e sem distrações. Além disso, sentiu saudade do ambiente escolar.
“Eu sou uma pessoa que gosta muito de interagir na sala de aula com as pessoas e tirar dúvidas”, revela. Amanhã, quando pegar o diploma, o jovem se prepara para ingressar numa carreira na área. Pensa em cursar engenharia no ensino superior.
Para Carlos Eduardo, o curso representa um esforço de três anos que no futuro farão a diferença. “Conhecimentos novos sempre são válidos e valem a pena no nosso futuro. Quanto mais conhecimentos você tiver, mais diferenciais você tem”, reforça Carlos.
Desafios superados
O instrutor de educação profissional na unidade do Sesi Senai de Aparecida de Goiânia (GO), João Paulo Vilela Júnior revela que o ensino a distância não impactou o rendimento dos concluintes, pois, de acordo com ele, “os estudantes estavam bem autônomos”.
No novo ensino médio, eles foram acostumados a aprender e investigar sozinhos. O maior desafio imposto pela pandemia, portanto, foi o “fator psicológico”, uma vez que o momento de incerteza amedrontou parte dos alunos.
“Nós, docentes, tivemos que trabalhar a escuta ativa e a parte emocional dos estudantes. Várias vezes, o psicólogo da unidade entrou nas reuniões e houve um momento diferenciado de dinâmica ou fala pontual”, explica.
Por empregabilidade e renda
Sair da escola com uma formação profissional é um dos grandes diferenciais do ensino médio integrado ao técnico. Nos países-membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), 48% dos estudantes do ensino médio fazem educação profissional; no Brasil, esse percentual é inferior 10%. Considerando que 44,2% dos brasileiros de 14 a 17 anos e 31,4% dos de 18 a 24 anos de idade estão desempregados e em busca de trabalho, esse tipo de formação pode fazer grande diferença na empregabilidade.
*Estagiárias sob supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa