Eu, Estudante

A conexão necessária

Pesquisa do Datafolha mostrou que 55% dos docentes brasileiros consideram que as instituições nas quais trabalham não têm uma conexão adequada para as atividades on-line.

A barreira tecnológica no contexto da pandemia da covid-19, sobretudo entre alunos de escolas públicas, teve outra face: a do acesso. Pesquisa do Datafolha mostrou que 55% dos docentes brasileiros consideram que as instituições nas quais trabalham não têm uma conexão adequada para as atividades on-line. Enquanto isso, quase 30% dos profissionais disseram que não há qualquer acesso à internet nas escolas. Os pesquisadores ouviram mais de mil professores da rede pública de todo o país. E, apesar do baixo suporte técnico, 73% deles disseram que, após a pandemia, utilizarão mais ferramentas digitais em sala de aula.

Foi com essa realidade de dificuldade de conexão que Maria Eunice da Silva, 49 anos, professora de geografia do CEF 8 do Gama, deparou-se ao longo de 2020. “Já começamos sabendo que seria uma luta. Atendemos alunos de baixa renda, que só têm um aparelho na casa para várias pessoas, ou usam a internet de vizinhos. E até para quem tem internet em casa, o sinal, muitas vezes, é ruim. Então, não consegue acompanhar muito bem aulas ao vivo”, detalha.

Segundo ela, nos primeiros dias, os próprios professores se juntaram com a coordenação em uma força-tarefa que ligou para a casa de cada estudante para saber quais as condições de acesso da família. Diante desses problemas, ela diz que cada equipe vem elaborando, individualmente, maneiras de atender às diferentes realidades dos alunos. “A nossa escola tem alguns casos específicos. Eu tenho um aluno surdo e, para ele, gravo as aulas separadamente e mando para a professora intérprete, que coloca o quadro com a tradução em Libras.”

Tanto esforço, mais uma vez, resultou em bons frutos. O levantamento do Datafolha mostra que a região Centro-Oeste desponta no melhor índice de acesso aos conteúdos escolares: 97% receberam atividades — 17 pontos a mais que a primeira pesquisa, realizada em março. A média nacional é de 92%.

Sobrecarga

Maria Eunice da Silva admite, porém, que ainda falta vislumbrar resultados mais efetivos para todo esse esforço, uma vez que a adesão dos estudantes é baixa. “O máximo que conseguimos em uma reunião no Meet é 50% de uma das turmas presente. Mesmo assim, há alunos que nunca chegaram a acessar a plataforma de exercícios. Trabalhamos com a noção de que, nos próximos anos, vamos ter de rever o conteúdo que deveria ter sido passado em 2020”, prevê a professora de geografia.

Para o professor Rairy de Carvalho, o sucesso dos modelos a distância dependem ainda mais do educador. “Se ele ficar só falando e não criar instrumentos para chamar a atenção do aluno, não terá nenhuma resposta. Dificilmente, surge alguma pergunta espontânea. E a forma de fazer isso na aula on-line é diferente da aula presencial.”

Segundo o professor de língua portuguesa, essas diferenças geram um outro peso para o docente quando são postas simultaneamente, em um modelo em que parte dos estudantes vai para a sala de aula presencial e os demais seguem acompanhando remotamente.

Na coordenação, a professora Melrilin de Almeida percebeu mais estresse, sobrecarga e ansiedade dos colegas. “Recebemos muitas queixas de ansiedade desde o início, porque essa pandemia não trouxe nenhuma situação estável. A cada mês, íamos descobrindo algo novo, uma situação diferente à qual tínhamos de nos readaptar. Na nossa escola, demos sorte de estarmos participando, neste ano, de um projeto do município que cedeu uma psicóloga e uma assistente social”, relata. Segundo ela, a presença das duas profissionais foi essencial para que eles conseguissem manter o equilíbrio.

Novos caminhos

“Precisamos de ações concretas ainda em 2021, pois a tecnologia veio para ficar na educação. No ano que vem, uma escola conectada vai ser chave para garantir o modelo híbrido que seguiremos tendo. Fomos pegos de surpresa em 2020, mas não podemos terminar o ano sem uma ação significativa que resolva a conexão da educação. Nossos senadores e deputados têm nas mãos a oportunidade de conectar milhões de estudantes, especialmente aqueles que mais precisam”, acredita Cristieni Castilhos, gerente da Força Tarefa Educação/Covid-19 da Fundação Lemann.


Reconhecimento


Confira iniciativas que vão premiar e apoiar professores em projetos durante a pandemia

Prêmio Educação Infantil

» A Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, em parceria com o Itaú Social e a Undime, lançou o Prêmio Educação Infantil: boas práticas de professores durante a pandemia. O edital vai dar R$ 1 mil a 100 profissionais selecionados para aplicar em seus projetos. As inscrições vão até 14 de dezembro pelo endereço www.premioeducacaoinfantil.com.br. Prêmio Professor Transformador

» A Bett Educar, com o Instituto Significare e a Base2edu, lançou o Prêmio Professor Transformador. Podem se inscrever docentes que tenham implementado projetos inovadores em qualquer ano do ensino básico, em escolas públicas ou particulares, até 1º de março de 2021 pelo site significare.org.br/premio. Os três primeiros colocados receberão uma gratificação em dinheiro que vai de R$ 2,5 mil até R$ 7 mil.