Embora a língua oficial do Brasil seja o português, não é raro encontrar vagas de emprego que peçam fluência ou, ao menos, um bom domínio da língua inglesa. Contudo, de acordo com dados de 2019 do instituto cultural British Council, apenas 5% da população brasileira sabe se comunicar em inglês. Dentre estes, 1% tem fluência no idioma. Com isso, o Brasil ocupa a 41ª posição de um ranking com 70 países. Em meio a este cenário, escolas que oferecem educação bilíngue têm ganhado força. Mas, afinal, o que faz uma instituição ser considerada bilíngue?
O inglês faz parte do currículo escolar desde o ensino fundamental em escolas públicas e privadas. Algumas instituições, no entanto, ampliam a carga horária obrigatória da língua inglesa prevista nas Diretrizes Curriculares Nacionais do Ministério da Educação (MEC) e se autodenominam bilíngues.
Para que a escola possa se encaixar nessa modalidade, é necessário que o estudante passe mais horas na instituição e que outros conteúdos, além do ensino regular do inglês, sejam ministrados no outro idioma.
Para a procuradora federal Roberta Negrão, 39 anos, mãe de Eduardo, 5, e de Anna, 3, a educação bilíngue sempre foi uma preferência, mas não uma exigência. Os dois puderam ter contato com o ensino simultâneo das línguas portuguesa e inglesa ainda muito cedo, com 4 e 2 anos, respectivamente. “Acredito que as crianças são esponjinhas e que a infância é um momento de estímulos”, diz a mãe.
A professora do Departamento de Línguas Estrangeiras Aplicadas (LEA) da Universidade de Brasília (UnB) Ana Emilia Fajardo, pesquisadora em bilinguismo e multilinguismo, ressalta que o momento ideal para que o estudante tenha contato com a educação bilíngue é ainda na educação infantil.
“Não há perfil para se aprender uma língua estrangeira. O diferente, o diverso é enriquecedor para qualquer pessoa, além de trazer ganhos cognitivos ao serem letrados em dois idiomas.”
Mas nem sempre é possível ter contato com o bilinguismo tão cedo. Como é o caso da família da nutricionista Claudiane Kenup Sathler, 45 anos. Os filhos Felipe, 20, Gustavo, 16, e Eduardo, 15, já cursavam o ensino regular quando a escola em que estudavam, o Mackenzie, implementou o High School — ensino médio — e o Middle School — ensino fundamental. Ela não hesitou em optar pelo ensino bilíngue oferecido pela instituição.
“O que meus filhos aprenderam e aprendem no Middle e High School vai muito além da língua inglesa. Foi ali que eles aprenderam a ter uma visão de mundo, a se inserirem como protagonistas da sociedade em que vivem. Aprenderam a falar em público com desenvoltura. Neles, foi desenvolvida a liderança, a solidariedade e se tornaram formadores de opinião.”
Certos objetivos devem ser levados em conta ao buscar uma educação bilíngue para os filhos, como a intenção de morar, estudar ou viajar no exterior. A mãe do adolescente João Pedro, 13, a médica Maria Claudia Armani, 42, afirma que o filho sempre se interessou por aprender outras línguas, mas que a oportunidade da fluência o estimulou ainda mais a viajar e a estudar em outros países. “Há a imersão na língua inglesa, uma troca cultural intensiva, além da cumplicidade e sociabilidade entre colegas e professor”, conta Maria Claudia.
Características
A coordenadora pedagógica da Avidus School, Mariana Caio Gonçalves, explica que um colégio bilíngue é aquele que instrui duas línguas com igual valor — ou seja, um idioma não se sobressai ao outro, seja ele de sinais, seja fonético.
Há, ainda, o caso das escolas internacionais, em que é utilizado o currículo do país-alvo, não o brasileiro. Em uma escola internacional britânica, por exemplo, o ano letivo tem início em setembro, assim como é proposto na Europa. O currículo e o calendário escolar são associados ao país ao qual a escola pertence.
Questionada se poderia haver uma confusão entre as línguas ao serem ensinadas simultaneamente, a pesquisadora Ana Emilia pondera que, pelo contrário. “Haverá maior discernimento e desenvolvimento de capacidades cognitivas como a de comparar, inferir, testar hipóteses, entre outros.”
Já Mariana Caio acrescenta que o que pode acontecer é o chamado code-switching — quando o estudante mistura os dois idiomas no dia a dia. “Isso é natural e mostra que a criança está em processo de construção daquele repertório linguístico e de desenvolvimento da fluência e proficiência da segunda língua.”