Novo ensino médio

Sesi e Senai formam a primeira turma do novo ensino médio do Brasil

Cerimônia de formatura será transmitida no YouTube, a partir das 16h30. Ao todo, 198 alunos de cinco estados receberão o diploma do curso de eletrotécnica

Vitória Silva*
Isabela Oliveira*
postado em 17/12/2020 07:00 / atualizado em 17/12/2020 16:54
Estudantes da unidade de Aparecida de Goiânia antes da pandemia -  (crédito: Alex Malheiros/FIEG)
Estudantes da unidade de Aparecida de Goiânia antes da pandemia - (crédito: Alex Malheiros/FIEG)

Há três anos, o Serviço Social da Indústria (Sesi) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) deram início a uma experiência pioneira de implementar o novo ensino médio, reforma da grade curricular aprovada por lei federal em 2017. Agora, a primeira turma a cursar os três anos finais da educação básica nesse formato está se formando.

A formatura será hoje, às 16h30, com transmissão pelo canal do Seni no YouTube. Ao todo, 198 estudantes de Goiás, Bahia, Ceará, Espírito Santo e Alagoas receberão certificado do novo ensino médio, feito com um itinerário técnico, por isso, serão diplomados também em eletrotécnica.

 

Assista à formatura:

 

Todos estudaram os três anos de graça, sendo que 81,5% vieram de escolas públicas, 87% são da classe D e 13%, da classe C. Muitos dos formandos sonham agora com o ensino superior, no entanto, já estão também prontos para entrar no mercado de trabalho como técnicos em eletrotécnica e atuar em diferentes segmentos com salário médio de R$ 1.700 a R$ 3.390.

Carlos Eduardo e Weverton estão entre os 40 estudantes de Alagoas a se formarem no novo ensino médio
Carlos Eduardo e Weverton estão entre os 40 estudantes de Alagoas a se formarem no novo ensino médio (foto: Arquivo Pessoal, Reprodução/Sesi)

Um dos formandos do novo ensino médio, Weverton Júlio da Silva, 19 anos, se sentiu no centro do processo de ensino-aprendizado durante os três anos de estudo. O aluno do Sesi Senai Benedito Bentes, em Maceió (AL) conta que a experiência que teve com o novo ensino médio permitiu a preparação para as esferas profissional e pessoal.

“Muitas pessoas acham que a educação é simplesmente ir para escola sentar e assistir às aulas. Você é o aluno, você é o protagonista e o novo ensino médio faz com que o aluno se sinta assim”, diz.

Danielle Santos, coordenadora pedagógica de Sesi em Fortaleza
Danielle Santos, coordenadora pedagógica de Sesi em Fortaleza (foto: Arquivo Pessoal)

Para Danielle Santos, coordenadora pedagógica do Sesi Euzébio Mota de Alencar, em Fortaleza (CE), tratar o estudante como prioridade é, de fato, a grande intenção da equipe. “O grande ganho é colocar o aluno como protagonista da aprendizagem, fazer com que o ensino tenha significado e, assim, garantir que ele desenvolva habilidades e competências, que é o que o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e a vida cobram”.

A coordenadora celebra o esforço desses alunos e está animada para ver o que o futuro lhes reserva. “Todos têm muito a contribuir para o mercado de trabalho e retornar para a sociedade tudo o que aprenderam com qualidade ímpar.”

A pós-graduada em gestão escolar explica que “o que diferencia o novo ensino médio do regular é o currículo integrado”. A matriz trabalha por áreas de conhecimento, o que favorece o desenvolvimento de uma visão holística do aluno em relação ao ensino.

Danielle destaca que alguns dos diferenciais para que o projeto-piloto desse certo foram o apoio da comunidade e as capacitações oferecidas à equipe pedagógica. “Tudo era muito novo, mas abraçamos o projeto e vendemos o para pais e alunos. Se você não tem uma equipe que acredita no projeto você não consegue evoluir”, pondera.

Mais horas

Rafael Lucchesi, diretor-geral do Senai e diretor-superintendente do Sesi
Rafael Lucchesi, diretor-geral do Senai e diretor-superintendente do Sesi (foto: Reprodução/Sesi)

De acordo com o diretor-superintendente do Sesi e diretor-geral do Senai, Rafael Lucchesi, o grande diferencial do novo ensino é a grade horária ampliada, de 2.400 horas para 3.000 horas.

Desse total, 1.800 horas seguem as normas da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), e as outras 1.200 horas são destinadas ao itinerário formativo, que pode ser composto por linguagens, matemática, ciências naturais, ciências sociais aplicadas e educação profissional técnica.

Os 198 estudantes que se formam hoje são só os primeiros: atualmente, de acordo com o diretor-superintendente do Sesi e diretor-geral do Senai, Rafael Lucchesi, o novo ensino médio está em vigor em 22 estados brasileiros, com 6.538 estudantes matriculados em unidades dos dois serviços.

Formação na pandemia

A pandemia colocou em risco as antigas práticas do ensino, mas o diretor Rafael Lucchesi comenta que o Sesi e Senai se adaptaram bem à nova realidade, graças à parceria com a plataforma de ensino on-line Plural. “Aqui tem toda uma rede de suporte e isso nos permitiu fazer um trabalho muito sólido, mesmo com a educação a distância”, pontua.

Para o futuro, Rafael cogita um ensino híbrido, que combine os formatos remoto e presencial, “utilizando de forma mais intensa as plataformas tecnológicas, e sempre valorizando, também, a função do professor”.

Apesar de as aulas ocorrem a distância este ano devido à pandemia, as unidades contam com salas de matemática, laboratórios de ciência e robótica para fornecer todo o apoio necessário ao desenvolvimento dos jovens.

Para o estudante Carlos Eduardo dos Santos, 18 anos, o primeiro desafio com o novo ensino médio, ao ser contemplado com a bolsa para estudar no Sesi de Maceió, foi se acostumar à metodologia, diferente da que ele teve acesso no ensino fundamental.

Após três anos de imersão, percebe que o sistema, na verdade, é mais prático e intuitivo. Durante a pandemia, a principal barreira para ele foi conseguir estudar em casa e sem distrações. Além disso, sentiu saudade do ambiente escolar.

“Eu sou uma pessoa que gosta muito de interagir na sala de aula com as pessoas e tirar dúvidas”, revela. Amanhã, quando pegar o diploma, o jovem se prepara para ingressar numa carreira na área. Pensa em cursar engenharia no ensino superior.

Para Carlos Eduardo, o curso representa um esforço de três anos que no futuro farão a diferença. “Conhecimentos novos sempre são válidos e valem a pena no nosso futuro. Quanto mais conhecimentos você tiver, mais diferenciais você tem”, reforça Carlos.

Desafios superados

João Paulo Vilela Júnior, instrutor de educação profissional em Aparecida de Goiânia
João Paulo Vilela Júnior, instrutor de educação profissional em Aparecida de Goiânia (foto: Arquivo Pessoal)

O instrutor de educação profissional na unidade do Sesi Senai de Aparecida de Goiânia (GO), João Paulo Vilela Júnior revela que o ensino a distância não impactou o rendimento dos concluintes, pois, de acordo com ele, “os estudantes estavam bem autônomos”.

No novo ensino médio, eles foram acostumados a aprender e investigar sozinhos. O maior desafio imposto pela pandemia, portanto, foi o “fator psicológico”, uma vez que o momento de incerteza amedrontou parte dos alunos.

“Nós, docentes, tivemos que trabalhar a escuta ativa e a parte emocional dos estudantes. Várias vezes, o psicólogo da unidade entrou nas reuniões e houve um momento diferenciado de dinâmica ou fala pontual”, explica.

Por empregabilidade e renda

Sair da escola com uma formação profissional é um dos grandes diferenciais do ensino médio integrado ao técnico. Nos países-membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), 48% dos estudantes do ensino médio fazem educação profissional; no Brasil, esse percentual é inferior 10%. Considerando que 44,2% dos brasileiros de 14 a 17 anos e 31,4% dos de 18 a 24 anos de idade estão desempregados e em busca de trabalho, esse tipo de formação pode fazer grande diferença na empregabilidade.

 

*Estagiárias sob supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa

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