CIÊNCIA

Brasileiros enviam projeto científico à Estação Espacial Internacional

A iniciativa Missão Garatéa-ISS leva trabalhos de estudantes para o espaço. O objetivo é analisar como os experimentos se comportam em microgravidade

Isabella Almeida*
postado em 11/12/2020 20:35 / atualizado em 11/12/2020 20:43
 (crédito: Créditos: Marcel Campos)
(crédito: Créditos: Marcel Campos)

Três alunos e uma professora do Colégio Regina Coeli, escola particular em Sorriso (MT), enviaram um experimento científico para a agência federal dos EUA Nasa (Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço, na tradução para o português). O trabalho da docente de física Michele Poleze em parceria com os estudantes Eduardo Vieira, Karine Ascoli e Larissa Paes, todos de 17 anos, investiga como a molécula de lactose se comporta no espaço.

O experimento deles embarcou rumo à Estação Espacial Internacional (ISS) no último domingo (6/12) em um foguete da empresa aeroespacial Spacex, lançado no Cabo Canaveral, na Flórida. O projeto de MT foi contemplado pela iniciativa Garatéa-ISS, patrocinada pelo Instituto TIM, que leva experimentos de estudantes brasileiros para o espaço há três anos.

O projeto de Sorriso (MT) superou uma concorrência considerável: em 2019, 2.800 estudantes de 70 escolas de todo o Brasil se inscreveram na seleção da Missão Garatéa.  

“Nosso experimento basicamente busca entender justamente se a microgravidade, ou a ausência de gravidade, interfere de alguma maneira no processo de degradação, consumo e quebra da lactose”, explica Karine Ascoli, 17, aluna do 3º ano do ensino médio.


Para Eduardo Vieira, 17, o maior incentivo foi a possibilidade de ter um experimento do qual ele participa ser enviado para a ISS. “Foram muitos desafios: pensar nos pequenos detalhes, ajustar os tempos, qual bactéria, quanto de cada bactéria, quanto de lactose. Foi preciso fazer testes envolvendo essas questões, além de pesquisas extensas”, afirmou o estudante do 3º ano do ensino médio.


A estudante Larissa Paes, 17, reconhece que a pandemia afetou a vivência da equipe. Em outras edições, o grupo participaria de um congresso nos Estados Unidos para apresentar o experimento. “Ter toda essa experiência de falar a pessoas que estão no ramo da ciência e receber um feedback seria uma experiência incrível”, admite. Claro que ver o próprio projeto ir para o espaço já é um prêmio e tanto mesmo assim.

 

A professora Michele Poleze e os estudantes Eduardo Vieira, Karine Ascoli e Larissa Paes mostram o projeto
A professora Michele Poleze e os estudantes Eduardo Vieira, Karine Ascoli e Larissa Paes mostram o projeto (foto: Arquivo pessoal)

 

A professora de física Michele Poleze, que orientou os alunos, conta que a equipe teve 12 semanas de formação sobre conceitos básicos e iniciais, como o que é a ISS e a microgravidade. Posteriormente, houve discussões sobre método científico com a identificação do problema, criação de hipótese e possíveis objetivos.

“O projeto é todo científico, então tem introdução, desenvolvimento e possíveis conclusões, em que entram nossas possíveis respostas.” A professora relata que os alunos fizeram muita pesquisa e que toda a referência bibliográfica foi baseada em artigos científicos.

 

Projeto de incentivo espacial


A Garatéa-ISS promove a participação de estudantes brasileiros dos ensinos fundamental e médio no Student Spaceflight Experiments Program (SSEP), programa que incentiva o estudo de ciências espaciais embarcando projetos e desenhos em foguetes que serão lançados ao espaço. O objetivo é mostrar aos adolescentes como os experimentos que eles desenvolveram se comportam em um ambiente de microgravidade.


Como explica o engenheiro espacial e diretor da Missão Garatéa, Lucas Fonseca, 36 anos, a iniciativa busca despertar nos jovens o interesse pela ciência espacial. Uma das ramificações do programa é o Garatéa-ISS, realizado há três anos com suporte do Instituto Tim.

Anualmente, por volta de 100 escolas enviam sugestões de experimentos que gostariam de realizar fora da Terra. Uma das instituições é escolhida, o projeto é então desenvolvido por um grupo de alunos sob orientação de professores e, finalmente, enviado ao espaço.


O trabalho escolhido este ano visa estudar a molécula da lactose e como ela se comporta no espaço ao longo do tempo. “O teste serve para fazer uma comparação e ver se as coisas que estão em órbita, flutuando no espaço, agem de maneira similar em comparação com o ambiente terrestre. As equipes fazem o experimento no espaço ao mesmo tempo que fazem o experimento de controle, na Terra, e depois comparam os resultados”, explica Lucas.


O engenheiro espacial Lucas Fonseca trabalhou na agência espacial alemã, participou do pouso de uma sonda em um cometa e, atualmente, dirige a Missão Garatéa
O engenheiro espacial Lucas Fonseca trabalhou na agência espacial alemã, participou do pouso de uma sonda em um cometa e, atualmente, dirige a Missão Garatéa (foto: Gustavo Morita)


O engenheiro ressalta que os resultados da pesquisa permitirão entendimentos sobre a possibilidade de mudar a dieta dos astronautas porque, fora da Terra, a lactose pode não ser degradada e digerida da maneira adequada. O estudo poderá também auxiliar na produção de medicamentos para pessoas intolerantes à lactose. O projeto desenvolvido pelos alunos do Colégio Regina Coeli deve ficar um mês e meio na ISS antes de voltar à Terra.


  • Estudante analisando o experimento
    Estudante analisando o experimento Arquivo pessoal
  • Estudante analisando o experimento
    Estudante analisando o experimento Arquivo pessoal
  •  Estudante analisando o experimento
    Estudante analisando o experimento Arquivo pessoal
  •  O lançamento do foguete foi realizado no Cabo Canaveral, na Flórida.
    O lançamento do foguete foi realizado no Cabo Canaveral, na Flórida. Lucas Fonseca

 

*Estagiária sob a supervisão da editora Ana Sá e da subeditora Ana Paula Lisboa

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