Os objetivos de cada método

Entenda as metodologias pedagógicas existentes e decida qual se encaixa melhor nos propósitos de vida da criança e dos pais

Maíra Alves
postado em 10/12/2020 08:34 / atualizado em 10/12/2020 08:54
 (crédito: CB/D.A Press)
(crédito: CB/D.A Press)

Conceitualmente, as metodologias de ensino são modelos teóricos que suportam a criação de currículos escolares a fim de orientar os planos de aula. Ou seja, ao escolher determinado método, a escola estabelece a forma pela qual o conteúdo será transmitido aos estudantes, o tipo de avaliação e até como os professores se relacionarão com os alunos.

Ao passar dos anos, diferentes abordagens foram desenvolvidas. Tal diversidade nos modelos pedagógicos mostra que, além de o conhecimento poder ser transmitido de maneiras distintas, ele vai ao encontro dos objetivos da família, assim como as novas necessidades de mercado.

O doutor em psicologia Francisco José Rengifo-Herrera, professor da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB), avalia que, mais do que pensar no mercado de trabalho ou no vestibular, as famílias devem fazer uma reflexão sobre o projeto de vida que anseiam para os filhos.

“Cada família deve fazer um pequeno plano de valores e um exercício de prolepse — previsões de coisas ainda não conhecidas ou que não tenham acontecido — e ver o que quer para a trajetória de vida do seu filho. Quais valores? Qual ideia de liberdade? Como essa família vê o futuro dos filhos, das escolhas e as decisões deles, e como se posiciona diante das divergências entre essa prolepse e a vida?”, questiona Francisco. “A escola é um lugar de instrução, de desenvolver conhecimentos, mas, também, de se encontrar com aqueles valores e formas de vida que são totalmente diferentes dos que a família tem”, conclui.

Apesar de existir dezenas de correntes pedagógicas, o Correio selecionou as quatro principais metodologias de ensino presentes em todo o Brasil. O doutor em educação, professor e pesquisador da Universidade Católica de Brasília (UCB) Renato de Oliveira ajuda a entender cada uma delas.

Metodologia de Montessori

É caracterizada por dar ênfase à autonomia e à liberdade, com limites e respeito pelo desenvolvimento natural das habilidades físicas, sociais e psicológicas da criança, segundo destaca o professor Renato de Oliveira. Esse método permite que as escolas criem um ambiente organizado e atrativo, composto por materiais didáticos e utensílios da vida cotidiana, os quais são utilizados para fins didáticos. Dessa forma, mobiliza-se a aprendizagem ativa e o desenvolvimento social do estudante.

Metodologia de Vygotsky

Tal abordagem versa sobre as inter-relações sociais e culturais. E, a partir dessa mediação entre pares, a criança desenvolve funções psicológicas mais elevadas. “As relações da criança com a realidade, principalmente no ambiente escolar, têm uma função crucial e formativa no comportamento, na linguagem e no desenvolvimento cognitivo do aluno, assim, favorecendo um grau mais elevado do ser social”, diz Oliveira.

Desta forma, o professor deve mediar a aprendizagem, utilizando estratégias que levem o aluno a tornar-se independente e que estimule o conhecimento potencial, de modo a criar zonas de desenvolvimento a todo o momento. O docente pode fazer isso estimulando o trabalho em grupos, por exemplo, utilizando técnicas de motivação que facilitem a aprendizagem e diminuam a sensação de solidão do aluno.


Metodologia Piaget — Construtivismo

“Este método recorre à gênese do pensamento infantil a fim de acompanhar sua evolução até a fase adulta. Acredita-se que a inteligência resulta de uma adaptação e do equilíbrio entre os processos de assimilação e a acomodação diante de nossas interações com o meio”, explica o professor. Nesta abordagem, acredita-se que o conhecimento seja construído por meio das interações constantes entre os fatores hereditários e as experiências adquiridas no meio escolar e familiar.

Na teoria construtivista, considera-se que as crianças passam por estágios para adquirir e construir o conhecimento. Para que ocorra um trabalho baseado nessa abordagem, os professores devem compreender as produções da criança e saber respeitá-las, vendo-as como construções genuínas, indicadoras de progresso e não de erros — são os chamados “erros” construtivos. Desafios devem ser criados para alunos em contextos que façam sentido para eles, a fim de estimular a criticidade, a pesquisa, a discussão e o debate.


Método Freinet ou Método Natural

Esta abordagem pedagógica traz respostas às necessidades das crianças modernas, colocando-as no centro das atividades escolares, diferentemente do que ocorria com outros métodos de ensino tradicionais, salienta Renato de Oliveira. A proposta apresenta quatro segmentos essenciais: a cooperação, que é o meio para a construção social do conhecimento; a afetividade, que liga o sujeito e o objeto de conhecimento; a comunicação, que reflete a integração pelo conhecimento; e a documentação, que traz os registros da história dos alunos, as quais são construídas diariamente.

Quando se faz necessário, o método privilegia a escrita e a leitura. Acredita-se que as crianças aprendem a ler e a escrever em situações de imersão em seus diversos usos sociais, em situações comunicativas e em intercâmbios em sala de aula. A aprendizagem das convenções da escrita ocorreria da mesma forma, evitando-se o ensino direto de letras ou de palavras descontextualizadas, por exemplo. Sendo assim, as atividades de alfabetização são pouco dirigidas pelo professor, construindo autonomia em ações autênticas das crianças em torno dos atos de escrever e ler.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação