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Com apoio de professores, alunos do Elefante Branco lançam livro

Educadores do colégio Elefante Branco apostaram no talento de estudantes para produzir coletânea com registros sobre temáticas urbanas, detalhados em variados gêneros textuais. Lançamento do livro que resultou do projeto ocorre na quinta-feira, pela internet

Mateus Salomão*
postado em 03/11/2020 06:00 / atualizado em 03/11/2020 19:51
Alunos e professores do Centro de Ensino Médio Elefante Branco irão lançar coletânea de textos -  (crédito: Marcello Casal/Agencia Brasil)
Alunos e professores do Centro de Ensino Médio Elefante Branco irão lançar coletânea de textos - (crédito: Marcello Casal/Agencia Brasil)

Estudantes e professores do Centro de Ensino Médio Elefante Branco (Cemeb) lançam, nesta quinta-feira (5/11), uma coleção de textos desenvolvidos pelos alunos durante o ano letivo de 2019. O livro, intitulado Coletânea interdisciplinar — Temáticas urbanas, trata de assuntos como amor, bullying, guerra e violência. Os estudantes escreveram sob supervisão de educadores da escola, e a obra conta com prefácio da editora de Opinião do Correio, Dad Squarisi. Em razão da pandemia, o evento de lançamento ocorrerá em cerimônia on-line, por meio de live no canal da escola no YouTube, onde os autores recitarão poesias e apresentarão os trabalhos.

O resultado é parte do projeto Laboratório de Língua Portuguesa do Cemeb, que busca exercitar a expressão artística escrita e visual com o recurso da interdisciplinaridade. Nas páginas, estão presentes oito gêneros textuais: contos, poemas, paródias, resenhas críticas, propostas de projetos de lei, dissertações, relatórios e peças teatrais. O projeto teve a adesão de oito professores de várias disciplinas, além de 88 escritores e cerca de 40 ilustradores.

A professora de artes Clara Rosa Cruz Gomes conta que se surpreendeu com o trabalho a qualidade do trabalho desenvolvido
A professora de artes Clara Rosa Cruz Gomes conta que se surpreendeu com o trabalho a qualidade do trabalho desenvolvido (foto: Arquivo Pessoal)

A professora de artes Clara Rosa Cruz Gomes, 45 anos, destaca que o livro havia sido finalizado no ano passado, mas, devido a percalços na edição, a publicação só ocorreu um ano depois. O sentimento que impera, porém, é de satisfação. “É o primeiro livro da escola, que engloba o processo de aprendizado e de construção. Teve uma equipe muito grande que ajudou para que a obra se tornasse realidade”, ressalta.

Clara destaca, também, que a atividade deixou muitos aprendizados para a escola. “Agora, nasceram novos escritores no Cemeb. Eles publicaram o primeiro livro, e a gente descobriu grandes talentos”, ressalta a professora, que coordenou a parte textual do projeto. “Eu me surpreendi com o resultado, pois muitos dos textos me emocionaram. Eles falam da realidade do aluno, que muitas vezes é de violência, é difícil e cruel. Muitos são da periferia de Brasília, e o Elefante Branco acolhe todos”, completa Clara.

A educadora lembra que a liberdade para a escolha das temáticas na composição dos textos tornou o projeto especial. Os assuntos ficaram a critério dos autores, portanto, estudantes e professores escolheram com o que trabalhar. “Os alunos são supercriativos. Se a gente lhes dá vez e voz, eles produzem trabalhos muito bacanas”, assinala Clara.

A professora  Maria Zuleide Vieira coordenou o desenvolvimento das ilustrações da coletânea
A professora Maria Zuleide Vieira coordenou o desenvolvimento das ilustrações da coletânea (foto: Arquivo Pessoal)

Além das composições textuais, o livro reúne ilustrações feitas por estudantes da Sala de Recursos do Cemeb, que atende alunos com altas habilidades em arte de diversas escolas do Distrito Federal. A professora Maria Zuleide Vieira, 63, destaca que os estudantes recebiam os textos e se debruçavam sobre o tema, para representá-los da melhor forma. “Eles mergulharam nas histórias para conhecer melhor o conteúdo, esboçar os desenhos e, por fim, elaborar o trabalho”, detalha. “Esse livro, para nós, é um grande projeto, porque estimulou a alegria e a dedicação dos alunos, envolvendo muita pesquisa e leitura. Na sala de recursos, trabalho com crianças a partir de seis anos, mas houve muita interação com os jovens do ensino médio. Foi um grupo coeso trabalhando, esse foi o grande aprendizado. Vi enorme respeito às singularidades e união no processo”, destaca Maria Zuleide.

Inspiração

 

Aleff de Sousa Dias já se formou no ensino médio pelo Cemeb no ano passado, mas lembra com gratidão do projeto
Aleff de Sousa Dias já se formou no ensino médio pelo Cemeb no ano passado, mas lembra com gratidão do projeto (foto: Arquivo Pessoal)

Aleff de Sousa Dias, 19, que se formou no ensino médio pelo Cemeb no ano passado, também participou do projeto. Ele define a experiência de desenvolvimento dos textos como um momento único. O estudante ressalta que teve o primeiro contato com esse tipo de escrita graças à proposta. “É maravilhoso saber que uma história que escrevi e criei do zero foi escolhida para fazer parte da coletânea. É extremamente gratificante”, comenta o ex-aluno.

Para o jovem, a participação de professores no processo é essencial. Ele explica que a professora de português ensinava sobre gêneros textuais e como colocar em palavras, da melhor forma, o que os estudantes pensavam. “Participar do projeto me inspirou muito a escrever mais e me ajudou bastante a me colocar no lugar do autor, não só do leitor. Durante o trabalho, tive de pensar, por várias vezes, sobre como o leitor vai interpretar a história”, observa Aleff.

A aluna do 3° ano do ensino médio Lorena Vargas, considera que o projeto contribui para sua visão de futuro
A aluna do 3° ano do ensino médio Lorena Vargas, considera que o projeto contribui para sua visão de futuro (foto: Arquivo Pessoal)

A aluna do 3° ano do ensino médio Lorena Vargas, 17, considera “incrível” a experiência de fazer parte dessa iniciativa. Ela não esperava ter um trabalho publicado em livro tão cedo e acrescenta que a escola valoriza bastante a arte, mas a composição de ilustrações para uma obra não era comum. Para a coletânea, ela fez três ilustrações, além do desenho da capa. “Foi inesperado, mas muito legal. A gente lia os textos, interpretava e pensava uma forma de passar a mensagem para o desenho”, destaca Lorena. A estudante conta que, ao ver o trabalho publicado, criou perspectivas e passou a acreditar mais em si mesma.

Vinícius Gomes de Oliveira, aluno do 3° ano do ensino médio pondera que o projeto é uma forma de dar valor à expressão dos alunos
Vinícius Gomes de Oliveira, aluno do 3° ano do ensino médio pondera que o projeto é uma forma de dar valor à expressão dos alunos (foto: Arquivo Pessoal)

Com o aluno do 3º ano do ensino médio Vinícius Gomes de Oliveira, 17, não foi diferente. Ele avalia que o trabalho, apesar de cansativo, foi prazeroso, pois a proposta pedia um tipo desafiador de escrita. “É muito bom ter feito parte do projeto e, hoje, ter entrado no livro. É muito bom ver que o Cemeb e a escola pública estão dando valor para o que os alunos produzem de artístico.” Na coletânea, o estudante teve dois textos publicados: uma peça teatral e uma resenha crítica. Vinícius conta que o principal sentimento resultante disso é confiança em si mesmo e no trabalho que faz. “O projeto dá uma perspectiva de como valorizar a escola pública ao reconhecer os estudantes e fazer com que percebam o próprio protagonismo”.

Cronograma de lançamento

Capa do livro lançado pelo Centro de Ensino Médio Elefante Branco (Cemeb)
Capa do livro lançado pelo Centro de Ensino Médio Elefante Branco (Cemeb) (foto: Lorena do Carmo Vargas/ Giovana Rodrigues Werneck/ Lucas Luz Salustiano )


Na quinta-feira, às 10h, ocorre o lançamento virtual do livro, por meio de um sarau transmitido pelo canal de YouTube do Centro de Ensino Médio Elefante Branco (Cemeb). Também haverá publicação da obra em formato digital para a comunidade escolar. Entre 9 e 12 de novembro, haverá a entrega de livros físicos para os autores, e eles poderão autografar o exemplar que ficará guardado na biblioteca da escola.

Além disso, a equipe da escola planeja enviar exemplares para outros acervos, como a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, a Biblioteca Nacional de Brasília, a Biblioteca do Senado Federal e a da Câmara dos Deputados. O lançamento da edição física do livro aberto ao público só deve ocorrer no aniversário de 60 anos do Cemeb, em 22 de abril de 2021. Em face do contexto de distanciamento social, neste primeiro momento, o lançamento será voltado apenas à comunidade escolar. No entanto, professores estudam formas de disponibilizar o livro para o público em geral, mesmo que em formato virtual.

Estreia madura

Dad Squarisi, editora de Opinião do Correio Braziliense
Dad Squarisi, editora de Opinião do Correio Braziliense (foto: Nicolas Braga/Esp. CB/D.A Press)

Surpreendente talvez seja o adjetivo mais adequado para definir a coletânea interdisciplinar Temáticas urbanas. Em primeiro lugar, sobressai a qualidade da obra. Escrita madura, não raro crua, longe do amadorismo estudantil. Em segundo, o pungente realismo. Jovens retratam o dia a dia das populações urbanas menos favorecidas, sujeitas à violência policial, ao abuso doméstico, à tortura do transporte público. Em terceiro, as propostas dos projetos de lei — concretas, pés no chão, apresentadas por quem vive o problema, não por quem ouve falar ou quer fazer bonito para angariar meia dúzia de votos.

A obra é inspiração para políticos, sociólogos, docentes, gestores e tantos quantos se interessam pela construção de um país mais justo, menos desigual e mais educado. Trata-se de precioso material que aponta rumos para políticas públicas, melhoras na qualidade do ensino e aperfeiçoamento do equipamento urbano. O melhor: reafirma a certeza de que o futuro do país está nas mãos da juventude. É um alerta para a urgência da modernização do poder. Nada mais contemporâneo do que um olhar cidadão e republicano de quem pode — e deve — transformar palavras em atos, e atos em fatos.

 

*Estagiário sob supervisão de Jéssica Eufrásio

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