O estudante Mateus do Carmo Braga, de 17 anos, foi contemplado com uma bolsa para fazer um curso de verão imersivo na Universidade de Cambridge, em Londres. O programa da instituição propõe a alunos de todo o mundo a possibilidade de vivenciar o ambiente universitário por duas semanas entre julho e agosto de 2021. O rondoniense, porém, conquistou a bolsa que cobre metade do valor e não tem condições financeiras de custear o restante do curso e os gastos da viagem. Por isso, ele criou uma vaquinha on-line para conseguir tornar o sonho de estudar no exterior realidade.
A arrecadação foi criada sob orientação dos professores de Mateus do Instituto Federal de Rondônia (IFRO), pois até então o estudante estava inseguro sobre a decisão de pedir dinheiro para as pessoas seria certo. O resultado surpreendeu: a meta de R$ 25 mil foi batida no primeiro dia e o site tem hoje mais de R$ 42 mil em doações. Como o dinheiro arrecadado ultrapassou o valor inicial, Mateus quer proporcionar a mesma oportunidade que ele terá para alguns bolsistas. “Quero usar parte do valor para ajudar pessoas que também conseguiram a bolsa, mas não vão conseguir pagar”, disse.
O concurso de redação da Universidade de Cambridge, Immerse College Essay Competition, contou com várias temáticas a serem escolhidas pelos estudantes de acordo com o curso e a idade. Mateus escolheu um curso de verão de matemática, pois é o curso superior que pretende fazer. Para tanto, teve que escrever, em até 500 palavras, uma dissertação sobre o tema “Quem é o melhor matemático dos últimos 100 anos”.
As inscrições terminaram em 31 de agosto e 10 estudantes foram contemplados com bolsas de 100% e demais bolsistas em número não especificado conquistaram vagas de 70% a 50%.
Futuro professor
Muito além da intenção de ajudar colegas de curso de verão, o estudante almeja contribuir com a qualidade do ensino brasileiro. É por isso que espera que essa oportunidade seja multiplicada no futuro com outras pessoas, por meio da profissão de professor, que pretende escolher. “Eu quero que essa história se repita com outros alunos. O primeiro passo vai começar de mim, para que os meus alunos tenham uma boa educação e consigam realizar os sonhos mesmo com as barreiras financeiras”, afirma.
Muitas pessoas também questionam a razão pela qual ele quer entrar na docência se poderia fazer um curso com mais prestígio. “Não me importo com o status, mas com o trabalho que vou realizar”, pondera Mateus.
Estudante e youtuber
Uma forma que o estudante encontrou de prestar contas e agradecer as 488 pessoas que contribuíram para a arrecadação on-line foi criar um canal no YouTube. Ele pretende gravar vídeos durante o curso de verão em agosto de 2021 e registrar toda a experiência na internet, além de mostrar que, às vezes, o objetivo “pode ser distante, mas não é impossível”.
Além disso, toda vez que Mateus vê algum youtuber contando sobre intercâmbios e aprovações é sempre alguém das classes média e alta. Ou seja, pessoas que têm condições de arcar com esse tipo de de oportunidade e não enfrentam a barreira financeira. O estudante quer desmistificar a fala “quem quer consegue” contando sua história e dando o bom exemplo a outras pessoas. “Eu sei que por mais que eu me esforçasse durante toda minha trajetória, eu nunca conseguiria ir para lá (Reino Unido) sozinho, porque tem a questão financeira”, compartilha o aluno do 3º ano do ensino médio. “Temos muitas pessoas capazes, mas o dinheiro restringe muito as nossas possibilidades.”
Até a data da viagem, ele prepara o roteiro dos próximos vídeos para falar temas da educação que nem sempre são pautados, como inteligência e como ela é medida nas escolas por meio de provas. Para ele, ser inteligente não é ter tudo na ponta da língua, mas ver um problema e saber resolver com o conhecimento que se tem.
Autodidata
Além de ter ganho um concurso de redação internacional, Mateus participa desde o 6º ano de olimpíadas estudantis como a Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP) e a Olimpíada Nacional de Ciência (ONC), competições em que foi medalhista em 2017. Ele também aprendeu inglês sozinho, mas sempre teve o apoio da mãe, que é cozinheira e não tem condições de custear todos os sonhos do filho. Mas quando ficou sabendo do resultado, Mateus relata que a matriarca ficou feliz e se comprometeu em ajudar como pôde.
O estudante morou até os 15 anos no distrito de Jaci-Paraná (RO), que atualmente tem pouco mais de 10 mil habitantes. No ensino médio, se mudou para a capital com o objetivo de ter melhores condições de ensino, depois de passar no processo seletivo do IFRO. Para acompanhar atualizações, próximos vídeos e a futura viagem, acesse o canal dele no YouTube.
*Estagiária sob supervisão da editora Ana Sá