O anúncio feito pelo secretário de Educação do Distrito Federal, Leandro Cruz, de que o ano letivo presencial nas escolas públicas do Distrito Federal só retornará em 2021 repercutiu na comunidade escolar nos últimos dias. E não há consenso se essa foi a melhor decisão e se engloba todos os desafios enfrentados por cada família. O anúncio foi feito em transmissão no perfil pessoal do secretário no instagram, nesta quarta-feira (30/1), onde o secretário fez o balanço dos 100 dias à frente da secretaria e foram apresentados resultados nos último meses.
“Vamos garantir também que para que, em 2021, quando retornarmos as aulas de forma presencial, a gente retorne com segurança. O novo normal que está aí vai permanecer: o ato de lavar as mãos, de higienizar as escolas, de ter uma rotina mais cuidadosa com a possibilidade (de contaminação) por vírus e bactérias”, afirmou o secretário.
Em outro momento, o secretário afirmou que o objetivo da secretaria é proteger a saúde e a vida de alunos e professores, uma vez que os déficits educacionais podem ser recuperados, mas que “ninguém recupera uma vida perdida”. O anúncio desta quarta-feira serve de alívio para pais, alunos e professores que ainda temiam os danos que um retorno presencial precoce pudesse causar. Porém, representantes do segmento acreditam que não basta o simples adiamento das datas, são necessárias mais medidas.
Uma conquista parcial
A monitora da educação infantil Patrícia Raquel Carvalho avalia que a decisão tem que ser vista com cuidado. Por um lado, ela considera positivo porque parte dos alunos na rede pública mora com pessoas idosas, o que pode fazer com que eles, que são do grupo de risco, se exponham à contaminação. “Também sei que é muito difícil, pois os alunos não têm o devido acesso à internet, o que prejudica em muito a qualidade dos estudos”, lamenta.
Patrícia, que trabalhar fora, tem filhos matriculados na rede pública de ensino do DF e teme uma possível volta ao presencial. “Ainda tenho certo receio pelos meus pais, que são (do grupo) de risco e que moram com meus filhos. Apesar de todas as medidas de segurança que temos tomado, o risco ainda existe e não há como não ficar temerosa”, afirma.
“Minha expectativa era de que já estivéssemos prontos para o retorno com as devidas providências. Porém, para mim, por exemplo, que trabalho com crianças da educação infantil, sei o quanto é mais difícil manter as crianças o dia todo com máscaras sem se aproximarem umas das outras”, ressalta a monitora.
O problema não se resolverá em 2020
“Nesse caso específico, temos a mesma posição de que não é possível pensar em retorno às aulas presenciais. Como tudo indica, infelizmente, isso só será possível a partir de 2021”, pondera a diretora do Sindicato dos Professores do Distrito Federal (Sinpro-DF), Rosilene Corrêa. “Para o retorno, seja ele quando for, inclusive no ano que vem, as escolas precisam passar por uma reorganização, e nós sabemos que isso não foi feito e não se faz em uma semana.”
Além disso, a diretora destaca que, devido à pandemia ainda estar em curso, não há tranquilidade, neste momento, em pensar em um retorno às aulas. Mas ela destaca que pensar na volta vai além de planejar medidas de profilaxia. “Agora o que é preocupante nisso tudo é que nós precisamos discutir uma reorganização curricular. Nós precisamos ressignificar os conteúdos, não podemos nos esquecer que existem muitos estudantes fora da escola neste momento. Então, que tratamento será dado a esses estudantes?”, questiona.
“Precisamos pensar no ano letivo de 2020 que não vai terminar neste ano, ele tem que ter sequência”, destaca a sindicalista. “Na nossa avaliação, a gente não resolve o problema em 2021, vamos ter que pensar em uma proposta curricular que, certamente, vai por dois a três anos para recompor tudo. O que a gente não pode é punir mais ainda aqueles que mais precisam.”
É necessário um cuidado especial
O presidente da Associação de Pais e Alunos das Instituições de Ensino do Distrito Federal (ASPA-DF), Alexandre Veloso, destaca que a associação viu a decisão com certa preocupação. O presidente questiona porque o governo afirma que a situação da pandemia vem se estabilizando, mas não há um planejamento para retornar presencialmente dos alunos de famílias que precisam do apoio da escola para continuar a trabalhar. “Seria interessante que a Secretaria de Educação fizesse uma sondagem com os pais para verificar os alunos que têm necessidade de retornarem de maneira parcial para deixar a família em uma melhor situação”, propõe.
“Estamos recebendo relatos de (responsáveis de) crianças com necessidades especiais, ou seja, portadores de deficiência, como autismo e síndrome de Down. Essas crianças, em especial, precisam de um apoio presencial porque a educação remota não alcança”, alerta o presidente da associação. Outra preocupação do presidente é quanto à evasão escolar. “A secretaria de Educação tem que ficar atenta a isso, temos conhecimento que há um aumento da evasão escolar naturalmente pela falta de acesso dos alunos a equipamentos e à internet.”
*Estagiário sob a supervisão da editora Ana Sá