PISA

Brasil sai mal em relatório do Pisa: sem acesso à internet e alto índice de repetência

A OCDE, organização responsável pelo PISA, divulgou novo relatório com dados obtidos no exame. A realidade no Brasil mostra que ainda há muito para avançar

Mateus Salomão*
postado em 01/10/2020 14:55 / atualizado em 01/10/2020 15:57
Relatório da OCDE baseado nos dados do PISA 2018 aponta uma realidade preocupante para a Educação do Brasil -  (crédito: CDC/ Unsplash)
Relatório da OCDE baseado nos dados do PISA 2018 aponta uma realidade preocupante para a Educação do Brasil - (crédito: CDC/ Unsplash)

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgou, esta semana, relatório em que faz apontamentos sobre a situação educacional de países que participaram do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA) de 2018. O Brasil, porém, se destaca por diversos pontos negativos, como o de oferecer, em média, apenas um computador para cada quatro estudantes nas instituições de ensino, a desigualdade entre escolas públicas e privada e o alto índice de alunos que reprovaram ao menos uma vez antes de completarem 15 anos.


O levantamento Políticas Efetivas, Escolas de Sucesso (Effective Policies, Successful Schools, em tradução livre) utiliza dados de 79 países, o que inclui os membros e parceiros da OCDE. Foram somente analisados os países que participaram da última edição do PISA, no caso, a de 2018, levando em conta notas obtidas e as respostas de alunos e diretores a questionários respondidos juntos ao exame.


O levantamento desta terça-feira já é o quinto volume de uma série de resultados divulgados desde 3 de dezembro. Porém, esse em específico tem como objetivo a análise “das escolas e sistemas escolares em comparação com os resultados educacionais de maneira geral”. “O volume analisa a gestão escolar, ao selecionar e agrupar estudante, e os recursos humanos, financeiros, educacionais e de tempo dirigidos ao magistério e ao aprendizado”, destaca em trecho traduzido.


Disponibilidade de computadores e tecnologias


É ressaltado no estudo que uma boa infraestrutura das escolas e a disponibilidade de materiais educacionais para alunos e professores são características importantes para se alcançar uma educação de qualidade. Os especialistas envolvidos concluíram que em parte considerável dos países onde quase não há falta de materiais, tais como TCIS (tecnologias da informação e comunicação), bibliotecas e laboratórios, houve melhor desempenho no quesito de leitura. Os dados utilizados para avaliar essa disponibilidade de materiais pedagógicos foram colhidos a partir das respostas dos diretores das escolas a questionários.


Englobados nos materiais que podem ser úteis para uma melhora educacional estão os computadores. No entanto, o Brasil se destaca negativamente. Enquanto os países membros da OCDE têm, em média, praticamente um computador para cada estudante de 15 anos, no Brasil existe um computador para cada quatro estudantes nas escolas. Tal situação é preocupante para o país, uma vez que o documento ressalta que, no país com escolas que têm menor quantidade de alunos por computadores, as notas em leitura foram mais altas.


No questionário respondido junto à realização dos exames do PISA também foi perguntado se os diretores consideravam a capacidade da banda larga ou velocidade da internet da escola suficiente. No Brasil, somente 26% dos diretores responderam que concordam ou concordam fortemente com a afirmação. Também questionados se o número de equipamentos digitais conectados à internet presentes na unidade escolar eram suficientes, somente 27,5% concordaram ou concordaram fortemente. Na Eslovênia, porém, a resposta positiva para esse questionamento chegou a 89,3%.


Alto índice de reprovados


Mesmo não estando na pior das posições, outro aspecto em que o Brasil se destaca negativamente é na quantidade de alunos que, até os quinze anos, já reprovaram ao menos uma vez. O país aparece na quarta posição com 34,1% de estudante que já repetiram algum período escolar, sendo que a média dos países da OCDE é de 11,4%. Com esses números, o Brasil só fica atrás do Marrocos, com 49,3%; da Colômbia, com 40,8%; e do Líbano, com 34,5%.


Ao tratar desse altos índices de reprovados, o relatório cita estudos que apontam que estudantes que repetiram pelo menos uma série até os quinze anos tendem a ter uma performance menor e mais atitudes negativas na escola quando comparados a estudantes não repetentes. Além disso, o estudo ressalta que essa parcela de alunos é a mais prováveis de abandonarem a escola quando chegam ao ensino médio.

 

Diferença entre rede pública e privada


Outro aspecto em que o Brasil falha é quanto a desigualdade entre escolas públicas e privadas. O relatório ressalta que, em média, nos países membros da OCDE e em outros 40 sistemas educacionais analisados, a rede privada teve melhor desempenho que a rede pública em aspecto de leitura. No entanto, o Brasil é lembrado como uma caso especial por apresentar uma diferença grande entre os dois sistemas: a educação privada está com 102 à frente.


O apontamento torna-se ainda mais preocupante pelo fato de que a maior parte dos alunos brasileiros estarem matriculados na rede pública de ensino. No país, entre os estudantes que participaram do PISA 2018, 85% estavam na rede pública, enquanto 15% estavam matriculados em escolas particulares, que são divididas entre as dependentes do governo (4,1%) e as independentes (10,9%).

 

Relembre o desempenho do PISA 2018


Na edição de 2018 do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA), divulgada em 3 de dezembro de 2019, o Brasil apresentou aumento na pontuação nas três áreas avaliadas. Em leitura, a nota foi de 413 pontos; em matemática, 384; e em ciências, 404. Confira a evolução de acordo com as edições realizadas a cada três anos:

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