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Retomada

Colégio Militar retorna aulas presenciais com nono ano e ensino médio

Estudantes e professores avaliam o primeiro dia de atividades com restrições. Sindicato que representa os professores já havia manifestado ser contra a retomada

Nesta segunda-feira (21), o Colégio Militar de Brasília (CMB), com a adoção de sistema escalonado, permitiu o retorno apenas de alunos do 9º ano e do ensino médio às aulas. Mesmo sendo fruto de decisão do Exército da última terça-feira (15), em que se determinou a retomada das aulas nos colégios militares de todo o país para esta segunda, o sindicato que representa o corpo docente do Colégio se posicionou contra o retorno das atividades.

Em decorrência da pandemia, as instituições de ensino tiveram as atividades interrompidas em 11 de março e desde então estavam fechadas. Em Belo Horizonte, o Colégio Militar contrariou a decisão da Justiça Federal na última sexta (18), que barrou a volta presencial das aulas. Na unidade, somente professores militares voltaram às atividades e os civis permanecem ministrando remotamente. Porém, por decisão da Justiça Federal, a instituição de ensino continua proibida de receber os alunos e teve a multa diária por descumprimento aumentada nesta segunda (21).

Arquivo pessoal - Valéria é professora de história no Colégio Militar de Brasília e tem receio de ser contaminada pelo coronavírus

A professora civil de história, Valéria Fernandes, 44 anos, voltou a trabalhar presencialmente na quinta-feira (24) para ministrar aulas para os alunos do segundo ano do ensino médio no CMB. Para a docente, a retomada é precipitada devido ao elevado número de contaminações e mortes no Distrito Federal diariamente.

 

“Eu não sei se todas as medidas vão ser efetivamente colocadas em prática e mais ainda se o comportamento dos discentes, docentes ou funcionários vai estar de acordo com o que se pede em termos de regra de segurança”, pontua Valéria que também é uma das coordenadoras do Sindicato Nacional dos Servidores Federais de Educação Básica, Profissional e Tecnológica - Seção do CMB (Sinasefe). “Uma preocupação muito grande é que não foi feita a testagem entre professores e alunos.”


Outro ponto destacado pela professora é a possibilidade de contaminação dos alunos durante o percurso para a escola, pois muitos deles usam transporte escolar para chegarem à instituição. “Eu não sei também, se no trajeto dos nossos alunos, qual vai ser a segurança deles dentro dos ônibus escolares”, afirma a docente.


A professora tem receio de se contaminar ou que o marido e a filha de 6 anos contraiam a Covid-19. Para Valéria Fernandes, seria muito mais estratégico continuar as aulas remotas e elaborar um plano mais eficiente para 2021. “O Colégio Militar tinha condições de continuar com a estrutura de aulas e materiais oferecidos pela plataforma, que é muito boa, até o fim do ano, em segurança, e planejar um retorno no ano que vem vendo quais seriam as perspectivas de redução de danos”, explica Valéria.


Se puder, fique em casa

Arquivo pessoal - Mesmo com a retomada, Danilo Gonçalves segue assistindo aulas remotas

Uma das preocupações do retorno das aulas é de que a maioria das crianças não demonstra sintomas da doença. Por isso, caso sejam assintomáticas e morem com pessoas do grupo de risco, pode haver o contágio da doença. Para o estudante Danilo Gonçalves, 17, essa foi a principal preocupação dos pais, que mesmo com a volta presencial do CMB, preferiram que o filho assistisse às aulas on-line, pois eles têm mais de 55 anos. “O Colégio deu a opção de continuar com o ensino remoto por meio de um requerimento que deve ser enviado ao colégio”, explica o estudante do terceiro ano do ensino médio.


As atividades do colégio ocorrem pela plataforma virtual (AVA) desde o início da pandemia, e outro fator que tem desestimulado os estudantes, principalmente aqueles que se preparam para os vestibulares, é a falta de adaptação à aprendizagem on-line. “Acho que muita gente tem dificuldades de permanecer no ensino remoto e acaba não conseguindo acompanhar”, aponta Danilo Gonçalves. “Acho positivo (o retorno às salas de aula) para essas pessoas, ainda mais no terceiro ano do ensino médio, o último passo antes do vestibular”.

Arquivo pessoal - Estudante do terceiro ano Caio Paz não conseguiu se adaptar às aulas remotas

O estudante Caio Paz, 17, preferiu aderir ao retorno presencial justamente por não ter conseguido se adaptar ao aprendizado virtual. Ele afirma que não é o momento ideal, mas que o CMB se preparou com as medidas sanitárias necessárias. “Com o retorno podemos nos preparar melhor para concursos e vestibulares”, ressalta o estudante.


Medidas sanitárias


Além disso, Caio conta que foi surpreendido com as regras tomadas, mas nem todos os colegas tiveram a mesma precaução. “No primeiro dia de aula foi visível a preocupação dos profissionais com o distanciamento social dentro e fora das salas de aula. No entanto, nem todos os alunos colaboraram com as recomendações”, disse.


Entre outras medidas de segurança adotadas pelo CMB estão banners com orientações de saúde, profissionais bem instruídos e materiais de higiene por todo o colégio. Também há a presença de monitores para incentivar o uso de álcool gel e garantir que os alunos sigam as regras de distanciamento. Contudo, Caio Paz também reforça o papel dos docentes na retomada. “Os professores, nesse primeiro dia, buscaram orientar os alunos e informar como seriam as aulas nesse momento difícil”, informou o estudante do terceiro ano.

 

Atividades remotas continuam

Segundo nota divulgada pelo Sindicato Nacional dos Servidores Federais de Educação Básica, Profissional e Tecnológica da Seção Sindical do CMB, o plano de retomada não expressa medidas sanitárias adequadas para as aulas presenciais. As regras do colégio não previam testagem dos estudantes, docentes e servidores, como também o número de professores em trabalho presencial não seria o adequado.


Devido às condições da pandemia, docentes que se enquadram ou que moram com pessoas do grupo de risco estão trabalhando no regime de teletrabalho e não voltarão de forma presencial. Valéria Fernandes mostra que o número de estudantes pode ser muito maior do que o de professores. “Nós tínhamos só no terceiro ano 224 alunos. Se a adesão for grande assim de todas as séries, nós teremos uma quantidade significativa de adolescentes circulando”, explica a professora formada pela UFRJ. “Não há professores suficientes para cobrir esse número de aulas.”

 

Até o fechamento desta matéria, o Colégio Militar de Brasília não se posicionou sobre a retomada das atividades presenciais.

 

*Estagiária sob supervisão da editora Ana Sá