Teatro nas escolas

Estudantes de Taguatinga participam de júri simulado sobre racismo

A peça O racismo no banco dos réus levou reflexões sobre racismo e escravidão para alunos do Centro de Ensino Médio Escola Industrial de Taguatinga, no Distrito Federal. Atividade também ocorreu em escolas do Guará

Fabio Nakashima*
postado em 08/11/2024 19:35 / atualizado em 08/11/2024 19:36
 As apresentações acontecem entre 06 e 08 de novembro, em três instituições de ensino: CEM EIT – Taguatinga;  CED 01 – Guará e CEM 01 – Guará.
 -  (crédito: Divulgação/Blue Tape Media)
As apresentações acontecem entre 06 e 08 de novembro, em três instituições de ensino: CEM EIT – Taguatinga; CED 01 – Guará e CEM 01 – Guará. - (crédito: Divulgação/Blue Tape Media)

Entre 6 e 8 de novembro, uma iniciativa que une teatro e educação envolveu estudantes do Distrito Federal, em especial, o Centro de Ensino Médio Escola Industrial de Taguatinga (CEMEIT), para promover debates lúdicos sobre racismo e o sistema de justiça brasileiro. Os estudantes tiveram a experiência de simular um júri popular na peça O racismo no banco dos réus, escrita e dirigida pela advogada e professora Ana Luiza Flauzina. Alunos do Guará, do Centro Educacional 01 e do Centro de Ensino Médio 01, também participaram da atividade.

A atuação se inspira no caso histórico de Francisco, o último escravizado condenado à pena de morte no Brasil, em 1876. Apesar do contexto histórico, o texto foi atualizado com elementos que dialogam com a atualidade, como explica a autora. “Temos personagens mulheres ocupando papéis que eram, predominantemente, ocupados por homens à época, por exemplo. A linguagem usada é coloquial. A plateia também é o corpo de jurados, ou seja, são os estudantes que dão a sentença”, diz.

Ao final, o público de alunos é chamado para decidir pela condenação ou absolvição do protagonista, discutindo temas que transbordam os fatos históricos e incentivam um debate sobre o racismo e o período escravista no Brasil. 

Experiência

O ator e escritor William Costa, 31 anos, que integra o elenco, compartilhou sua experiência ao interpretar um tema que considera pessoal. "Eu, como homem preto, vivo essa realidade do racismo, então foi fácil de acessar esse entendimento, mas teve muita pesquisa e preparação. Foi um processo intenso", relata.

Sobre a interação com os estudantes, William menciona a importância de levar o debate sobre racismo para as escolas, para que os jovens possam se informar sobre as questões raciais. “Quando eu soube que ia ter esse momento em que os estudantes iam decidir o final da peça, eu vi uma oportunidade de aflorar ou despertar um senso crítico maior. Porque muitas pessoas ainda negam o racismo”, salienta.

Ator e escritor, William Costa, 31 anos
Ator e escritor, William Costa, 31, falou sobre a intensidade de interpretar um personagem que vivencia o racismo (foto: Divulgação/Blue Tape Media)

A diretora da peça, Ana Flauzina, conta os desafios de levar o teatro para as escolas e inserir os alunos como participantes ativos do processo. “A causa do teatro precisa ser ressaltada. Engajar os estudantes para que sejam atores definitivos nesse processo, decidindo se Francisco é inocente ou culpado, e como isso faz refletir sobre a realidade do passado e do presente em termos da população negra”. Ela enfatizou também o trabalho coletivo envolvido na produção, que incluiu tradução para Libras e mediação dos debates com os alunos após cada apresentação. 

Diretora e idealizadora do projeto, Ana Flausina (ao centro), conversa com os alunos após a apresentação (foto: Arquivo pessoal)

A escolha de novembro para a realização da peça também é estratégica, em consonância com o chamado Novembro Negro, campanha que visa reforçar a importância do debate racial nas escolas e a implementação da Lei 10.639/2003, que torna obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira.

Segundo a professora da escola, Fabiana de Oliveira Santos, a peça soma-se às práticas pedagógicas realizadas na escola para discutir as relações raciais. “Já trabalhamos os direitos humanos e a educação para as relações raciais enquanto eixo estruturante das nossas práticas pedagógicas. Então, a peça veio para complementar as reflexões que viemos fazendo desde o início do ano", conta a professora. 

Maria Eduarda, 16 anos, aluna do CEMEIT, descreve a peça como uma experiência única e transformadora. “Achei incrível, pois, mesmo retratando uma época antiga, fala de um assunto muito atual. Todos do grupo estavam com o olhar bem crítico quanto à decisão, e percebemos o peso do racismo no julgamento", afirma.

A aluna comentou também sobre a importância de debater o racismo entre os jovens, que, muitas vezes, normalizam expressões e atitudes racistas. “A peça foi crucial para despertar essa visão e perceber como algumas falas, tratadas como brincadeira, machucam e atrapalham o desenvolvimento de uma sociedade antirracista", reflete.

Aluna do CEMEIT, Maria Eduarda, 16 anos, descreve a peça como uma experiência única e transformadora (foto: Foto: Arquivo pessoal)

Além das apresentações nas escolas, o projeto vai disponibilizar uma plataforma digital com materiais didáticos sobre os temas tratados na peça, estimulando uma reflexão contínua e acessível para estudantes e professores em todo o país. A diretora Ana Flausina comemorou o sucesso da peça e contou que já tem solicitações de outras escolas para continuar a iniciativa. "Estamos abertos para seguir e continuar. A recepção dos estudantes e dos professores tem sido positivas", finaliza.

Para saber mais sobre a peça e o processo de solicitação das escolas, acesse o perfil no Instagram: https://www.instagram.com/bradonegro/.

  •  Registros do júri simulado pelos estudantes de Taguatinga e do Guará
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*Estagiário sob supervisão de Marina Rodrigues

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