A onda de violência que assola as escolas brasileiras, transformando-as em palcos de tragédias inimagináveis, exige uma reflexão profunda e medidas urgentes. Não podemos nos contentar em apenas questionar "por que isso está acontecendo?". É preciso ir além e buscar compreender as raízes do problema, reconhecendo a saúde mental dos adolescentes como um pilar fundamental na construção de uma sociedade mais segura e resiliente, uma verdadeira cultura de paz.
Dados recentes revelam um panorama preocupante: 93% dos agressores em escolas brasileiras são do sexo masculino, com a maioria entre 14 e 17 anos. Cerca de 60% são alunos da própria instituição e 33% são ex-alunos. Em um dado ainda mais alarmante: em praticamente todos os casos, o alvo tem algum significado ou vínculo com o agressor. São números que demonstram a importância da participação ativa e intensa da família, educadores e da sociedade em cuidar desses adolescentes e evitar que novas tragédias aconteçam em nossas escolas.
Os sinais de alerta muitas vezes passam despercebidos, exigindo atenção redobrada de pais e responsáveis, educadores e toda a comunidade escolar. Ausência de regras e limites em casa, exposição frequente à violência, comportamentos extremos, isolamento social, dificuldades de relacionamento e até mudanças repentinas de apetite podem ser indicadores de um jovem em sofrimento e em potencial risco.
Educar um indivíduo é uma tarefa árdua e complexa que exige o engajamento de toda a comunidade. Não podemos nos omitir. Famílias, escolas, autoridades e a sociedade como um todo precisam trabalhar em conjunto para criar um ambiente seguro e propício ao desenvolvimento saudável das crianças e adolescentes.
É fundamental reconhecer a responsabilidade dos pais e responsáveis pelos comportamentos dos menores sob sua tutela. Respeitar o espaço do menor não significa abdicar do controle, da orientação e do diálogo. O acesso à internet, sem acompanhamento e restrições, é tão perigoso quanto as questões do mundo offline, pois permite o contato com conteúdos nocivos e potencialmente perigosos e criminosos.
O acompanhamento próximo é essencial: aplicativos de controle parental, diálogo aberto e honesto e, quando necessário, apoio profissional, podem fazer a diferença. Exercer a autoridade com clareza, definindo limites claros de comportamentos e atitudes, é fundamental para a segurança dos jovens e para a prevenção de tragédias.
A prevenção de ataques violentos nas escolas é um desafio que exige o envolvimento de cada um e a atenção de todos. Ao cuidarmos da saúde mental dos adolescentes, promovendo o diálogo aberto, fortalecendo os laços familiares e sociais, e trabalhando em conjunto como comunidade, podemos construir um futuro mais seguro e promissor para as próximas gerações.
* Ana Elisa Dumont é presidente do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Distrito Federal (SINEPE/DF)