Responsável por incrustar em Belo Horizonte um pouco da cultura, da história e da gastronomia espanhola, o artista plástico Carlos Carretero morreu, neste sábado (19/11), aos 75 anos, em decorrência de um infarto que sofreu há 11 dias. Desde então, ele estava internado no CTI da Santa Casa de Misericórdia.
Nascido em Madri e criado em Granada, ele se mudou para o Brasil em 1971, depois de passar por Barcelona e Paris. Na capital mineira, fundou, em 1976, no coração da Savassi, o restaurante e centro de cultura flamenca La Taberna. Filho do também artista plástico Angel Carretero, que foi amigo do poeta e dramaturgo Federico García Lorca, Carlos fez daquele espaço uma espécie de enclave espanhol em solo mineiro.
Já estabelecido em Belo Horizonte, casou-se com a bailarina flamenca Fátima Carretero. Juntos, eles conduziram ao longo de anos uma gama de atividades artísticas e culturais no La Taberna, tendo sido os pioneiros e responsáveis por estabelecer, difundir e fomentar essa modalidade de dança na cidade. O restaurante e centro cultural serviu não só como palco para apresentações, mas também abrigou uma escola de flamenco.
Além do flamenco, o La Taberna acolheu diversas outras formas de expressões artísticas, abrindo espaço para a música, para exposições de artes visuais e para encontros literários. Também foram gestadas naquele espaço as “Romerias del Rocio” – festa em homenagem à Virgen del Rocio, que ganhou as ruas de Belo Horizonte, estabelecendo uma ponte entre a capital mineira e Granada. Em sua trajetória como artista plástico, Carlos ganhou alguns prêmios e bolsas para estudar na Escola de Artes e Ofícios de Granada e no Círculo Artístico São Lucas, em Barcelona.
CARREIRA Por aqui, conviveu com nomes como Inimá de Paula, Chanina, Álvaro Apocalypse, Haroldo Mattos, Fernando Pacheco, Carlos Wolney e Yara Tupinambá. Sobre Carlos Bracher, disse, certa vez, se identificar com “o despojamento, a pincelada solta, a força da pintura dele”. Entre suas obras, destaca-se, por exemplo, a pintura que fez do pai do bailarino flamenco Alejandro Garcia, como homenagem à família, por ocasião de sua morte.
Personalidades da cena cultural de Belo Horizonte expressaram seu pesar pela morte de Carlos Carretero. “Perdemos um artista criativo, que soube unir as artes visuais, a gastronomia, a dança e a arte flamenca à cidade. Que sua história na cultura de Belo Horizonte seja sempre lembrada”, escreveu a secretária municipal de Cultura, Eliane Parreiras.
O diretor teatral Pedro Paulo Cava também se manifestou: “Quando conheci Carlinhos, éramos muito meninos, eu tinha 20 e poucos anos, ele também. Ficamos amigos para o resto da vida. Fui dos primeiros a chegar no dia da inauguração do La Taberna. Não havia dúvidas que o lugar ia ser um sucesso, e foi. Fiz uma das poucas exposições do Carlos, na galeria da Escola Guignard, nos anos 1970. Era um poeta das tintas e também das palavras”.
O escritor, produtor e gestor cultural Afonso Borges se recorda que o La Taberna abrigou o projeto Sempre um Papo em seu estágio embrionário. “Fizemos ali debates memoráveis com Décio Pignatari, Frei Betto, Leonardo Boff, entre tantos outros. Num momento difícil da vida brasileira, em 1986, Carlos teve a coragem e a visão para enxergar num pequeno projeto de debates a extensão que ele tem hoje, com mais de 9 mil eventos realizados”, escreveu.
Carlos Carretero deixa a esposa Fátima, duas filhas, Aixa e Marien, e as netas Marisol e Analiz. O velório será realizado nesta segunda-feira (20/11), das 9h30 às 12h, no Memorial Grupo Zelo (Av. do Contorno, 8.657, Gutierrez). A cremação será com acesso restrito a familiares.