Em ode à escritora e às mulheres, a Cia Em Comma leva às escolas públicas e espaços públicos do DF o espetáculo inédito Anáguas. A produção, que conta com direção de Ernandes Silva, fundador da trupe, e com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal (FAC-DF), terá estreia, com entrada franca, pelas unidades de ensino, na próxima terça-feira (20), no Centro Educacional São Francisco, em São Sebastião, às 19h. Na segunda-feira (19), a Cia se apresenta no Complexo Cultural de Samambaia, às 10h. O espetáculo não é recomendado para menores de 14 anos.
Em cena, Fátima Braga dá vida à matriarca Maria da Graça, mãe viúva que teve 21 filhos, dos quais restaram apenas seis. Genice Barego é Maria Exaurina, a filha considerada “o eixo e centro da casa”, tenta seguir o caminho do pai. A premiada atriz Clara Camarano é Maria Cândida, a caçula “revolucionária” que “bate de frente” com mãe e irmã ao questionar valores da época e querer romper com os laços sanguíneos.
Atemporal
“É uma peça que fala de temas atuais, Porque Lourdes Ramalho é atemporal. E são três personagens, três mulheres com personalidades extremamente fortes que, cada uma ao seu modo, falam sobre o ser mulher e sobre as relações familiares na década de 20. Temática que não muda na sua essência”, destaca o diretor Ernandes Silva.
Neste emaranhado de mulheres, segundo ele, cada personagem revela traços específicos. “A mãe que representa o rompimento do patriarcado da época. A filha mais velha que quer manter a tradição deste patriarcado que até hoje reverbera, e a filha mais nova, que chega para tentar romper com este formato que considera hipócrita”, comenta.
Bastidores
Para mesclar o atual com tradicional, que revelam a atemporalidade de Lourdes Ramalho, Ernandes Silva, que também assina a cenografia, mostra uma casa em ruínas de forma contemporânea, porém sem deixar de lado objetos cênicos de época e o figurino do período da década de 1920, assinado pela atriz e figurinista Fátima Braga.
A trilha sonora original de Marcelo Bopp também dá o tom destas personagens sofridas, porém cheias de garras e “vontades”. “É muito interessante viver esta mãe tradicional. Eu, Fátima, já passei por várias situações na minha vida que mostram este patriarcado tão pesado para nós, mulheres. De não poder andar de saia abaixo do joelho na infância, de ter que andar com vestimentas cobertas, mesmo no calor. E somos nós, mulheres, que sofremos com isso”, destaca Braga, que dá vida a protagonista Maria da Graça.
Sobre a autora
Maria de Lourdes Nunes Ramalho, conhecida literariamente como Lourdes Ramalho (1920-2019), foi uma professora, poeta, dramaturga e pesquisadora brasileira, nascida em Jardim do Seridó, no Rio Grande do Norte. Em 1958, fixou residência em Campina Grande, na Paraíba, cidade onde viveu até o seu falecimento.
Autora de uma extensa obra para o teatro, dentre elas “Anáguas”, a escritora passou ainda pela poesia infantil e de cordel e estudou a fundo as obras do dramaturgo espanhol Federico García Lorca (1898-1936).
Em Anáguas, peça teatral que conta com semelhanças com a famosa e eterna A Casa de Bernarda Alba, de Lorca, ela fala sobre relacionamentos familiares, conflitos dando voz à mulheres que vivem em uma casa em “ruínas”. Por uma tríade de personagens femininas, a dramaturga aponta para conflitos existentes entre as diferentes gerações de mulheres de modo a evidenciar a decadência do patriarcado no Brasil, em meados do século 20.
Confira o calendário de apresentações
19 de junho (segunda-feira), 10h, Complexo Cultural de Samambaia
20 de junho (terça-feira), 10h, Centro Educacional São Francisco, Quadra 17, Lote 100, São Sebastião
20 de junho (terça-feira), 19h, Céu das Artes, Estação Cidadania de Recanto das Emas
22 de junho (quinta-feira), 10h, Centro de Convivência (COSE), Gama Sul
22 de junho (quinta-feira), 20h, Centro De Ensino Fundamental 213, Santa Maria