O flagelo da fome no Brasil, que já tinha sido eliminado do Mapa da Fome da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), acomete hoje 33 milhões de brasileiros. No ano em que o Brasil comemora 200 anos de independência, 15% da população não tem o que comer e mais da metade não tem certeza se poderá se alimentar ou dar de comer aos filhos nos próximos dias. Essa triste realidade e iniciativas para superar a fome são retratadas em dois livros, num só volume — uma capa de cada lado. Fome: como enfrentar a maior das violências e A Terra é plena: como alimentar o mundo e cuidar do planeta (Editora Discurso Direto). O lançamento acontece na próxima terça-feira (7/2), às 18h30, no Feitiço das Artes (antigo Feitiço Mineiro), na 306 Norte.
O livro foi idealizado e escrito por Camilo Vannuchi e Simone de Camargo, como resultado de um esforço coletivo para registrar os efeitos da pior agressão a que um ser humano pode ser submetido: a violação do direito fundamental à vida, à alimentação em quantidade e com qualidade suficientes, num momento em que assistimos a uma escalada inédita da desnutrição e da extrema pobreza.
Três décadas após o lançamento da Ação da Cidadania Contra a Fome e 20 anos depois do Programa Fome Zero, os autores visitaram os escombros de um Brasil em frangalhos, com o firme propósito de contribuir para a construção de uma nova política agrícola e de segurança alimentar, que volte a colocar os mais pobres no orçamento e que seja, desde a origem, justa, solidária, restaurativa, diversa e sustentável.
Nas 248 páginas da publicação, os autores narram episódios dramáticos da violência praticada contra quem tem fome: a disputa por ossos; a prisão de uma mãe por furtar comida; a rotina de quem luta pela sobrevivência em lixões ou nas ruas do país. Foram entrevistados especialistas no assunto, como José Graziano da Silva, Padre Júlio Lancellotti, Frei Betto, João Pedro Stédile, Kelli Mafort, Walter Steenbock, Namastê Messerschmidt, Leosmar Terena, Diogo Cabral e trabalhadores do assentamento Mário Lago, em Ribeirão Preto (SP).
O livro traz, ainda, um capítulo especial sobre os resultados do Fome Zero em Guaribas, cidade piloto do programa, escrito pela jornalista Dorian Vaz, que visitou a cidade em cinco ocasiões. Lá, a fome foi vencida. As fotografias são assinadas por João Paulo Guimarães, Sérgio Silva, Célio Alves Ribeiro, Ylder Silva, Daniel Kfouri, Rogério Assis, Jonas de Souza Santos, Wellington Lenon, Organização Caianas e Associação Agrodóia.
Os autores buscaram, também, inspiração na agricultura ancestral, visitando assentamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), e descrevem, em profundidade, as transformações vividas no município de Guaribas (PI) como resultado de políticas públicas bem conduzidas nos primeiros governos Lula, além de denunciar os malefícios dos agrotóxicos e apresentar experiências bem-sucedidas em agricultura regenerativa e em sistemas agroflorestais agroecológicos — práticas altamente recomendáveis para superar o maior desafio da atualidade: como vencer a fome sem destruir o planeta.
Os autores
Camilo Vannuchi é jornalista, pesquisador e escritor com ênfase em direitos humanos, mestre e doutor em ciências da comunicação pela Universidade de São Paulo (USP) e professor de Jornalismo na Faculdade Cásper Líbero, em São Paulo. Mantém, desde 2019, uma coluna semanal no UOL. É autor, entre outros, da biografia Marisa Letícia Lula da Silva e do livro-reportagem Vala de Perus, uma biografia, finalista do Prêmio Jabuti 2021.
Simone de Camargo se divide entre Los Angeles, nos Estados Unidos, e Trairi, no Ceará, onde se dedica, desde 2010, a regenerar biodiversidade e produzir alimentos agroecológicos em sistemas agroflorestais, junto com a equipe de agricultores da Fazenda Coringa. Antes de se reconectar à agricultura, trabalhou por anos como controller de produção na indústria do cinema.