Eu, Estudante

Comic

Brasilienses lançam HQ que retrata o caos em uma Brasília devastada

Narrativa discorre sobre personagens sobreviventes de tempestades solares que dizimaram o planeta e deixaram a civilização sem acesso à tecnologia. Acesso é on-line e gratuito

Em tempos de caos e manifestações terroristas, artistas brasilienses lançam uma revista em quadrinhos on-line que discorre sobre personagens sobreviventes de tempestades solares que assolaram Brasília e passam a viver em uma era sem acesso à internet e outras tecnologias e com suas memórias perdidas no tempo.
O romance gráfico A Nuvem foi desenvolvido a partir da parceria entre o cineasta Thiago Foresti, que assina a história original, e o ilustrador e diretor de arte William Jungmann, durante o isolamento imposto pela pandemia de covid-19, período em que vários dramas e medos afloraram em todo o planeta.

Segundo os autores, trata-se de mera comprovação de que a ficção está muito mais próxima da realidade do que se imagina. “Basta analisar os tempos atuais”, resume Jungmann. Eles contam que a meta foi elaborar uma história distópica ambientada em uma Brasília sem acesso à energia elétrica ou qualquer outra possibilidade da vida moderna

O cenário caótico permeia o personagem protagonista Joseph, um fotógrafo de 60 anos que teve todo o trabalho de toda a vida armazenado em “nuvem”, palavra-chave pinçada do modelo de computação que dá nome à história.

William Jungmann/Divulgação - .

Joseph vive em uma época em que a única área pulsante em Brasília é a feira da Torre de TV e a moeda mais cobiçada é semente de abóbora. Guardava todo o seu acervo de fotos nos terabytes infinitos da nuvem. E passa os dias em busca de imagens do passado, como forma de tentar recuperar sua própria identidade.

Seu maior desejo é recuperar uma fotografia de família, porém, se sente amaldiçoado, pois o único trabalho impresso que guardou foi a capa de uma rara revista impressa com o retrato de um presidente déspota, o qual ninguém mais quer sequer lembrar. Muito sugestivo.

Durante a jornada de Josheph, os leitores se deparam, ainda com a tentativa de recriação da fotografia analógica, objetivo que pode ser alcançado com a revelação de um filme antigo que possivelmente guarda um grande tesouro.

William Jungmann/Divulgação - .

“Sei que as distopias estão em toda parte, mas decidimos mostrar essa vertente. Mesmo tendo sido executado durante a pandemia, esse antigo projeto retrata uma distopia brasileira e seus riscos reais. E refletem o presente momento do Brasil”, diz Foresti, destacando que o processo de produção da HQ foi pra lá de especial. “Foi ímpar. Vivenciamos os medos e as ansiedades num cotidiano sombrio, traduzidos em um cenário pós-apocalíptico.”

Produzida por Juliana Mendes e com produção executiva de Amanda Fernandes, a revista A Nuvem tem 28 páginas e foi viabilizada por recursos do Fundo de Apoio à Cultura do DF (FAC-DF). Não recomendada para menores de 12 anos, a publicação pode ser conferida no link, onde o pdf está disponível gratuitamente. Com sorte, num futuro não distópico, poderemos conferir também em um belo curta ou longa-metragem.