A editora de Opinião do Correio Braziliense e comentarista da TV Brasília, Dad Squarisi, e o médico hematologista e hemooncologista do Hospital Israelita Albert Einstein, Nelson Hamerschlak, lançam nesta terça-feira (6/12), às 19 horas, pelo Instagram @livrariadavila, o segundo volume do livro Desafios, que reúne depoimentos de 35 pacientes que fizeram transplante de medula óssea em decorrência de leucemia. O evento marca os 35 anos do primeiro procedimento no realizado no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.
Coordenadora e editora das publicações, Squarisi se submeteu duas vezes ao transplante e ao tratamento — que prossegue até hoje — de leucemia, em 2016 e em fevereiro de 2021, aos 75 anos. O primeiro volume de Desafios foi lançado em 2017, marcando os 30 anos do primeiro transplante no Einstein, com 30 depoimentos de pessoas que venceram a doença.
Squarisi lembra que a ideia das publicações partiu de Hamerschlak, chefe do Centro de Oncologia e Hematologia do Albert Einstein e que acompanha seu tratamento desde o início, ao ler alguns artigos que ela escreveu sobre o assunto e que pretendia publicar no Correio.
“Ele foi o mentor, o coordenador geral da obra. Minha meta era fazer apenas quatro ou cinco entrevistas. Como se aproximava a marca de três décadas do primeiro transplante no Eistein, ele teve a ideia de ampliar as entrevistas e transformar em um livro”, conta Squarisi, que nutre por Hamerschlak total carinho e respeito.
“É a pessoa mais generosa, mais competente e mais convincente do mundo. Me fez decidir pelo primeiro e também pelo segundo transplante, quando a dúvida me levou a ficar com um pé na morte e outro na vida. Estava quase desistindo, quando ele citou uma frase que havia lido na traseiras de um caminhão: 'lutar sempre, desistir jamais'. Foi quando vi que a morte poderia esperar”, recorda.
Sobre a elaboração de textos para o segundo volume de Desafios, Squarisi afirma que a mecânica foi a mesma aplicada no primeiro, segundo ela, histórias de pessoas que reagiram das mais diversas formas ao tratamento contra a leucemia.
“O resultado é emocionante, daria uma minissérie com todos os personagens, que vão de crianças a jovens, adultos e idosos. Todos sofreram com a leucemia e lutaram bravamente contra a doença”, revela, frisando que essas batalhas não são nada fáceis, muito pelo contrário. “Cada dia é um dia vivido e devemos sempre pensar em coisas boas, nunca em nada ruim. A vida é muito boa e passa bem rápido", diz.
"Quem tem o diagnóstico de leucemia fica frente a frente com a morte que, ao contrário do que muita gente pensa, não tem nada de feio. A morte é uma senhora generosa, acolhedora. Diante de algum quadro mais grave em nossas vidas, é natural ficarmos em dúvida se vamos ou se ficamos. No meu caso, decidi que ela pode esperar.”
Geralmente de origem desconhecida, a leucemia é uma doença maligna dos glóbulos brancos e tem como principal característica o acúmulo de células doentes na medula óssea, que substituem as células sanguíneas normais. Pode ser provocada por exposição a altas doses de radioatividade e idade avançada, assim como tabagismo e contato prolongado com produtos químicos, como o benzeno e pesticidas. Síndromes genéticas como a Down (em especial para as leucemias agudas) também podem desencadear a enfrermidade.
A doença representa a principal causa de morte infantil no Brasil e corresponde a 33% dos casos de câncer que afetam crianças e adolescente, de acordo com o Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer (GRAAC). “O tratamento é doloroso e exaustivo, envolve muita quimioterapia antes de partir para o transplante. É preciso matar a medula doente”, conta Squarisei, que encontrou em sua irmã Nariman, 65, a doadora compatível de células tronco. “É a minha eterna rainha do Egito”, celebra.
Squarisi destaca dois relatos que a tocaram profundamente nas publicações. O primeiro, de uma menina muito frágil que nasceu com a doença e o hospital estava com dificuldade em encontrar um doador. “A angústia dos pais dessa menina os levaram a uma decisão difícil, arranjar um irmão biológico mas que não poderia nascer com a mesma doença. Partiram, então, para a fecundação in vitro e o resultado foi um bebê lindo e saudável, que salvou a vida dela pelo cordão umbilical. Hoje, os irmãos vivem plenamente. O mais novo nasceu para dar vida à irmã”, conta.
O segundo caso que ela destaca é de, provavelmente, o único homem que achou bom receber o diagnóstico da moléstia. "Ele tinha uma coceira infernal havia mais de cinco anos e nunca encontrava o diagnóstico. Era um formigamento tão intenso que coçava até a alma. Como era uma pessoa abastada, buscou tratamento em vários países, até que uma médica norte-americana, do famoso Memorial Hospital de Nova Iorque, acertou em cheio e, hoje, ele está livre da leucemia e da coceira.”
Com especialização em linguística e mestrado em teoria da literatura pela Universidade de Brasília (UnB), Dad Squarisi é autora, entre outras publicações, dos livros Dicas da Dad Português com Humor, Escrever melhor: guia para passar os textos a limpo, Sete pecados da língua, A Arte de escrever bem, Superdicas de Ortografia e Deuses do olimpo Pra Gente Pequena e Gente Grande Também.
O lançamento do segundo volume de Desafios estava previsto para ocorrer de forma presencial, também nesta terça, na Livraria da Vila, em São Paulo, mas o aumento de casos de covid na capital paulista forçou o cancelamento do evento ao vivo. O livro custa R$ 100 e pode ser adquirido no site.