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LITERATURA

Beco dos quadrinhos expõe trabalhos de 15 quadrinistas na FeLiB

No painel que abre a Feira, a obra Conto dos Orixás, de Hugo Canuto, traduz os "heróis brasileiros", na área externa

Com curadoria realizada por Emerson Vasconcelos, mestre em comunicação e integrante da ComicCON-RS, a mostra de quadrinhos está exposta até o próximo domingo, no Beco dos Quadrinhos — um dos estandes da 36ª FeLiB. Entre os 15 quadrinistas, Hugo Canuto, graduado em arquitetura, ilustrador e autor de histórias em quadrinhos que busca expressar a relação entre cultura, mitos e heróis. Sua mostra Conto dos Orixás compõem o painel que abre a feira e está montada na área externa.

Ao Correio, Hugo disse acreditar que "num momento como o que o Brasil vive, com intolerância, barbárie, além de violência ideológica e física, é importante fazer da arte um instrumento de mudança, de transformação e afirmação".  Canuto conta que, como autor de quadrinho, sempre teve por meta falar das coisas que o "atravessam". "Sou baiano e acho que parte da cultura baiana, os orixás e todo esse universo afro-brasileiro está incutido em meu espírito.

Para Hugo Canuto, trazer seu trabalho para Brasília, ou levar a outros lugares e pessoas, "é uma oportunidade de alcançar públicos e fazer da nossa arte um caminho para desconstruir preconceitos, para provocar reflexões para e despertar interesse sobre esse universo imenso". O ilustrador explica que seu trabalho "é pequeno, é um fragmento de algo muito grande, mas que, ao mesmo tempo, tem a capacidade de chegar a lugares onde uma tese acadêmica sobre o tema não alcança".

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Fronteiras e paixões

Na desconstrução de preconceitos, a aceitação dos orixás atravessa fronteiras: "O trabalho tem uma repercussão muito grande. A rede social, apesar de muitos problemas, tem a potência de chegar em lugares muito distantes de nós. Temos leitores na Grécia, Nigéria, Angola, Singapura, Islândia. É interessante porque é a rede que liga estudiosos ou adeptos do tema sobre religiões diversas. Conseguimos conciliar e conectar com diferentes visões e também pessoas que não têm ligação com o tema e de repente passam a se interessar, ter curiosidade. Por depoimentos, vejo que há uma mudança de percepção. As pessoas começam a olhar de maneira diferente".

Ao ser indagado sobre heróis com cara de Brasil, Hugo é taxativo: "Meu trabalho fala muito do aspecto mítico, mas o aspecto heroico é dos próprios orixás. A característica guerreira, do rei da magia, das divindades, das cores, das ferramentas, traz todo esses arquétipos ativados, e a minha arte, a partir dela, eu traduzi para os quadrinhos, que também têm muita ligação com a figura do herói".

Para Canuto, neste momento que vivemos, é importante buscar referência no que constitui a cultura brasileira, que sempre foi muito estigmatizada e violentada. "Costumo dizer que minha grande inquietação, e talvez um dos motivos de fazer esse trabalho, foi porque, nas livrarias, eu só encontrava, na área cultural, títulos sobre mitos da Grécia, Itália. Não encontrava, em Salvador, sobre a cultura ioruba, por exemplo. Então, por que isso? Que processos nos levam a ter uma sociedade que não se aprofunda em seus próprios fundamentos? Nossos orixás também são heróis."

A série de historias em quadrinho Conto dos Orixás, segundo Hugo Canuto, surgiu com a atração de duas paixões do quadrinista: o legado das culturas que moldaram sua terra de origem, a Bahia, e as tradições ancestrais representadas pelas histórias das divindades de povos que vieram dos atuais Benin e Nigéria.

Leitura para todos

Até domingo, saraus prometem movimentar o estande Coletivo Celeiro Literário, das 19h às 20h. Roda de conversa, palestras, oficina de poesia e lançamento da coletânea também estão programadas. Na cesta Um sorriso por Poesia, poetas infantis mostram seus versos. Para Ismar Lemes, escritor e presidente do Celeiro, e a poeta Lúcia Araújo, a "feira é uma oportunidade de divulgar autores para o grande público. O espaço é bom e com estrutura. A FeLiB atrai o público e a gente quer ser lido", diz Lúcia.

 

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