Foi realizada, nesta segunda-feira (7), uma audiência pública on-line da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) para debater a troca do nome da Ponte Costa e Silva. A ideia é homenagear o ícônico líder estudantil da Universidade de Brasília Honestino Guimarães. A transmissão ocorreu no canal do YouTube da CLDF.
Agora, a previsão é que o projeto seja votado pelos parlamentares da Câmara já no início do próximo semestre. Caso seja aprovada pelo plenário, o passo final será a sanção do governador Ibaneis Rocha (MDB-DF) para que a mudança na nomenclatura da construção seja enfim oficializada.
O organizador do evento foi o deputado distrital Leandro Grass (REDE-DF), formado em sociologia pela UnB. Ele defende que defende que Honestino é “um símbolo de luta pelas liberdades e também um exemplo de morador de Brasília”. O estudante foi perseguido e morto no ano de 1973 e o seu corpo jamais foi encontrado.
Além do parlamentar, integraram a mesa de debates a professora Eneá Almeida, da Faculdade de Direito da UnB, Betty Almeida, autora do livro “Paixão de Honestino”, uma biografia do estudante , Gabriel Barros, integrante do Diretório Central dos Estudantes da Universidade de Brasília (DCE-UnB), o jornalista Hélio Doyle, o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil no Distrito Federal (OAB-DF), Délio Lins, Maria Victoria Hernandez, presidente da Comissão de Memória e Verdade da OAB-DF, e Mateus Guimarães, sobrinho de Honestino.
Durante a audiência, os participantes relembram a história do ex-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) contra a repressão durante o período do Regime Militar. Liderança assídua dos direitos estudantis, Honestino foi perseguido junto com outros estudantes da UnB, o que levou à invasão da instituição por policiais em agosto de 1968, fato amplamente lembrado pelos integrantes da reunião.
A Ponte Costa e Silva foi inaugurada em 1976 e liga o Setor de Clubes Sul com o Lago Sul. Idealizada pelo arquiteto Oscar Niemeyer, a construção foi batizada de “Ponte Monumental”, mas foi renomeada como “Ponte Costa e Silva”, em homenagem ao 27º presidente do Brasil Arthur da Costa e Silva, que governou o país durante o período do Regime Militar entre 1967 e 1969.
Durante o seu governo, em dezembro de 1968, o presidente instituiu o Ato Institucional nº5, considerada a mais repressiva medida governamental durante o Regime. Para o deputado distrital Leandro Grass (REDE-DF), esse é um dos principais motivos da troca de nomenclatura do logradouro. “Com o ato, pessoas foram perseguidas, torturadas e mortas enquanto ele era a autoridade máxima do país.” afirma.
Outras tentativas de alterações
Não é a primeira vez em que é discutida na Câmara Legislativa a mudança da passagem que liga o Setor de Clubes Sul ao Lago Sul. Uma possível alteração foi debatida em diversas ocasiões, nos anos de 1999, 2000, 2003 e 2012 e 2015.
Na última ocasião foi aprovado o projeto de lei PL 130/2015, de autoria do deputado distrital Ricardo Vale, do Partido dos Trabalhadores (PT), que alterou o nome da ponte para “Ponte Honestino Guimarães” em agosto do mesmo ano, após sanção do governador Rodrigo Rollemberg (PSB). Mas em novembro de 2018, três anos após a alteração, uma ação popular movida pela deputada federal Bia Kicis (PSL) fez com que o logradouro voltasse a ter o seu nome original “Ponte Costa e Silva”. Um dos motivos citados para a reversão, foi o fato de não ter existido uma audiência pública para discutir a mudança.
Em 2012, o coletivo de arte “Trans-Verso” alterou o nome das placas indicativas que indicam o local, rebatizando-a como “Ponte Bezerra da Silva” em homenagem ao sambista pernambucano falecido em 2005.
Desde o retorno da nomenclatura que homenageia o ex-presidente, outros movimentos populares foram até as localidades próximas da ponte a fim de modificar as indicações dos letreiros ao redor do logradouro. Em março deste ano, o local teve novamente a sua placa indicativa alterada, dessa vez, rebatizado como “Ponte Marielle Franco”, em lembrança dos três anos do assassinato da vereadora carioca Marielle Franco (PSOL-RJ). A ação foi feita pelo “Movimento de Mulheres Olga Benário” que divulgou fotos do ato nas redes sociais da organização.
Quem foi Honestino Guimarães?
Entre os perseguidos e mortos durante o período, está o próprio Honestino Guimarães, que foi um líder estudantil e ex-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), a principal organização entre estudantes de ensino superior do país.
Nascido em 1947 na cidade de Itaboraí (GO), Honestino se mudou com a família para Brasília em 1960 e antes de completar 18 anos, passou em um vestibular e ingressou no curso de geologia na Universidade de Brasília (UnB). Ao longo da sua graduação, Honestino se engajou na militância acadêmica em meio à ditadura militar, protestando contra o governo com pichações, panfletos e manifestações.
Dois meses antes de se formar em geologia, foi expulso da universidade e foi perseguido pelos órgãos repressores do Estado. Honestino desapareceu misteriosamente em 10 de outubro de 1972, após ser preso pela sexta vez no Rio de Janeiro, e o seu corpo nunca foi encontrado.
Em março de 1996, a sua família recebeu um atestado de óbito póstumo cedido pelo Poder Judiciário do Rio de Janeiro, sem mencionar a causa da morte. 18 anos depois, em abril de 2014, Honestino recebeu a sua anistia política “post mortem”, e o motivo do seu falecimento foi enfim preenchido com “atos de violência praticados pelo Estado”.
Hoje, o Diretório Central dos Estudantes da Universidade de Brasília (DCE-UnB) — entidade estudantil que representa os estudantes da instituição — leva o seu nome em homenagem. No centro da capital, o líder estudantil também nomeia o Museu Nacional da República.
*Estagiário sob supervisão da editora Ana Sá