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CRÍTICAS

Candidatos do CNU contestam termos de acordo entre MGI e MPF

Reintegração de candidatos que não preencheram corretamente o cartão de resposta e a inclusão da exigência de títulos são questionados por participantes do CNU. Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI) aponta "igualdade de condições e promoção da diversidade"

Um coletivo formado por candidatos habilitados (ou seja, classificados, mas não aprovados) do Concurso Público Nacional Unificado (CPNU) contestam termos do acordo judicial firmado pelo Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI) com o Ministério Público Federal (MPF) em novembro deste ano. 

Dentre os termos contestados, estão os que asseguram a reintegração de candidatos que não preencheram corretamente o cartão de resposta e também o termo que inclui a exigência de títulos para o cargo de analistas técnicos de políticas sociais (ATPS) nos blocos 4 e 5. 

"Ao propor tal acordo, o MGI assume uma posição completamente contrária ao princípio da legalidade. Não se trata de uma simples alteração administrativa, mas de uma mudança substancial no que foi previamente acordado e divulgado aos candidatos, comprometendo a lisura e a moralidade do concurso", aponta o coletivo.

Ao Correio, Mariana Dornellas, membro e uma das advogadas do grupo, sugere que a razão destes novos termos realizados pelo ministério pode ser uma consequência de uma correção que foi necessária para a ampliação do número de cotas para negros no concurso (em conformidade com a Instrução Normativa nº 23). "Sabiam que tinha esse erro e que era um erro grave e que eles iam ter que corrigir", frisou Dornellas.

Vale pontuar que o coletivo não se manifestou contra a ampliação do número de cotas para negros, mas sim em relação aos termos sobre incluir candidatos que não preencheram corretamente o cartão de respostas e a exigência de títulos para o cargo de analistas técnicos de políticas sociais (ATPS) nos blocos 4 e 5.

Gabaritos mal preenchidos e inclusão de títulos

Segundo o coletivo, a reintegração dos candidatos "representa uma flagrante violação dos princípios constitucionais e administrativos que regem este concurso público, a Administração Pública e o próprio Estado de Direito". Ainda de acordo com o coletivo, a obrigatoriedade de preencher todo o gabarito estava prevista no edital e que o documento "não pode ser alterado a bel-prazer de interesses particulares, ferindo a confiança da sociedade na Administração Pública e instaurando um ambiente propício a fraudes e favorecimentos ilícitos".

Sobre  a inclusão de títulos para analistas técnicos de políticas sociais (ATPS), o coletivo afirma que ela fere preceitos constitucionais de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. O grupo também alega que a inclusão "causa perplexidade e prejuízo a vários candidatos que se inscreveram no concurso com base nas exigências do edital original". 

De acordo com Dornellas, era possível fazer a alteração sem causar prejuízos para os candidatos. "Poderia convocar normalmente para o curso de formação e depois colocar a prova de títulos, ou seja, ainda está dentro do concurso, porque o curso de formação é uma etapa do concurso, e colocando os títulos depois, por exemplo, não ia prejudicar as pessoas". A advogada conta que essa foi uma das sugestões enviadas ao MGI, mas não obteve repostas por parte da pasta.

Resposta do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI):

O Correio entrou em contato com a pasta solicitando um posicionamento sobre o caso. O MGI se limitou a enviar uma nota-notícia sob o título: "Gestão assina acordo que garante segurança jurídica, transparência e continuidade do CPNU". No texto, a pasta aponta que o acordo judicial "garante igualdade de condições para todos os candidatos e reforça compromisso da Gestão com a promoção da diversidade".

A nota também traz uma fala da consultora jurídica do MGI, Karoline Busatto, indicando que "esse acordo confere mais segurança ao CPNU sem prejudicar a realização de um novo certame. É um amadurecimento de uma política nacional. No Enem, por exemplo, também houve um longo período de debates, e esse acordo proporciona aprendizados valiosos que, sem dúvida, contribuirão para as decisões que a gestão precisará tomar em uma segunda edição".

Veja a nota na integra:

"O Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI) reforça compromisso com a transparência e a segurança jurídica do Concurso Público Nacional Unificado (CPNU), que busca promover um serviço público mais inclusivo e diverso, e nesta quinta-feira, 21/11, divulgou o novo cronograma do certame, ajustado após acordo judicial firmado com o Ministério Público Federal (MPF). As novas datas foram estabelecidas para garantir que todos os candidatos tenham igualdade de condições, conforme previsto no edital e nas normas legais. A previsão de divulgação do resultado final do CPNU é no dia 11 de fevereiro.

Termos do acordo judicial

O acordo envolveu, além do MGI, a Fundação Cesgranrio, banca organizadora do certame, o MPF e a Advocacia-Geral da União (AGU). A decisão judicial contemplou três medidas principais:

  • Reintegração de candidatos: Inclusão de candidatos que não preencheram corretamente as opções de identificação no cartão de resposta, mas cuja prova pôde ser identificada de forma segura.
  • Ampliação do número de correções para cotistas negros equiparando-o ao da ampla concorrência, em conformidade com a Instrução Normativa nº 23.
  • Inclusão de títulos para ATPS: Correção do edital para incluir a exigência de títulos para Analistas Técnicos de Políticas Sociais (ATPS) nos blocos 4 e 5, atendendo à legislação vigente.

Como resultado, 32.260 novos candidatos passam a ter suas provas discursivas ou redações corrigidas. Deste total 4.325 são candidatos que tiveram a possibilidade de identificação do tipo prova no cartão-reposta mesmo não tendo preenchido o tipo de prova ou escrito a frase de segurança, sendo que parte destes candidatos concorrem as vagas reservadas as pessoas negras, indígenas e pessoas com deficiência. O restante desses novos candidatos habilitados à correção das provas discursivas e redações concorrem às vagas para pessoas negras, em cumprimento a Instrução Normativa nº 23.

“Essa decisão impacta diretamente o cronograma do concurso, pois exige o reinício de etapas importantes, como a correção de provas dos candidatos, a entrega de títulos pelos ATPS e a realização da banca de heteroidentificação”, explicou Alexandre Retamal, coordenador-geral de logística do CPNU. A formatação inicial do CPNU, acrescentou, estabeleceu como critério a correção de um número de provas discursivas equivalente a nove vezes o número de vagas para cotistas. “Essa regra já assegura o cumprimento do número de cotas previstas e o compromisso com a inclusão e a diversidade, mas optamos por adotar a medida prevista na Instrução Normativa do MGI”, disse Retamal.

Considerando que esta foi a primeira edição do CPNU, a consultora jurídica do MGI, Karoline Busatto, avaliou o acordo como parte natural do processo de amadurecimento dessa política pública de grande impacto para a sociedade.

Segundo Karoline, "esse acordo confere mais segurança ao CPNU sem prejudicar a realização de um novo certame. É um amadurecimento de uma política nacional. No Enem, por exemplo, também houve um longo período de debates, e esse acordo proporciona aprendizados valiosos que, sem dúvida, contribuirão para as decisões que a gestão precisará tomar em uma segunda edição", ponderou.

O novo cronograma inclui a habilitação de 32.260 novos candidatos para a correção das provas discursivas ou de redação, etapa que será realizada até o dia 6 de dezembro. Os candidatos reintegrados em cargos com avaliação de títulos deverão enviá-los entre os dias 4 e 5 de dezembro. É importante destacar que todos os candidatos já habilitados continuam no processo seletivo, sem alteração nas etapas cumpridas do cronograma. Assim, eles devem apenas aguardar o andamento do novo cronograma para os novos habilitados e o resultado do certame.

O novo cronograma já está disponível na página do Concurso Público Nacional Unificado."