Mesmo com uma alta taxa de abstenção — entre 52% a 53% dos 2,1 milhões de inscritos não compareceram — o governo exaltou o resultado do Concurso Público Nacional Unificado (CPNU), o "Enem dos concursos". Dos que fizeram a inscrição, cerca de um milhão se dirigiram aos 75 mil locais da prova em todo o país.
A ministra da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck, entende que o percentual de ausência de candidatos estava dentro da expectativa do governo, dada a "envergadura" do concurso e afirmou que o número de presentes "surpreendeu bastante positivamente".
"Não teve outro concurso com esse quantitativo de gente. O número de abstenção, se comparado com concursos mais recentes, ficou até abaixo. Foi uma surpresa positiva dada a envergadura desse concurso", comentou a ministra, ontem, ao fazer o balanço do certame.
Um argumento repetido pela ministra para justificar esse índice de abstenção foi a comparação com um concurso para o Banco Central, no qual os ausentes chegaram a 62% do total de inscritos. "Demos a oportunidade de a pessoa desistir ou não. Tem questões pessoais de cada um, decisões que são tomados nesse percurso. Vi gente dizendo que 'arrependi de não fazer a prova'. Concurso grande se chega nessa abstenção, na casa dos 50%. Não foi novidade. Faz parte. Cada um tem suas razões para não fazer a prova no dia."
Dweck listou ainda outras razões para justificar o número tão alto de faltantes, como a explicação de que, entre os inscritos, tem um número de pessoas que nunca fizeram concurso federal antes e citou também o fato de que gente do país inteiro se inscreveu. Segundo a ministra, apenas em 10 municípios do Brasil não foram registradas inscrições.
"Foi um concurso de um alcance gigante, com provas acontecendo em 228 municípios. Um milhão de pessoas (que compareceram) foi um número que surpreendeu bastante positivamente. Ficamos bastante felizes", seguiu Esther Dweck.
A ministra lembrou ainda que o candidato teve chance de desistir do concurso e ter o valor da inscrição ressarcido. Essa oportunidade aconteceu quando o exame foi adiado por conta das chuvas no Rio Grande do Sul. Entre os inscritos, a abstenção maior foi de candidatos que concorreram às vagas de nível médio. Apenas 30 mil desistiram de fazer a prova e pediram a restituição do dinheiro, entre a suspensão do exame e sua realização.
Entre os poucos tipos de problema registrados, a ministra citou a falta de energia em algumas salas, mas que foi restabelecida na sequência, sem necessidade de se suspender a prova. Mencionou também uma ou outra ocorrência, como tumulto isolado. Esses problemas, disse, ocorreram apenas em 0,2% dos locais onde foram realizadas as provas.
A aplicação do concurso mobilizou cerca de 200 mil pessoas, das quais 12 mil homens da segurança pública, incluído contingente da Força Nacional de Segurança.
Dweck reafirmou que o formato das provas foi elaborado para obrigar as pessoas a "pensarem fora da caixinha". Episódios de candidatos levarem o caderno de provas, que gerou eliminação, foram bem poucos também, segundo a ministra. Ela ressaltou que sair com o caderno não configura vazamento de prova.
Em torno de 500 candidatos, que representam 0,05% dos inscritos, foram eliminados por alguma razão, que vai desde criar confusão no local da prova ou esse de sair com o caderno do exame.
O menor índice de abstenção ocorreu no Distrito Federal. O maior, no Ceará. Candidatos que concorreram a vagas de nível médio foram os mais ausentes entre os vários grupos. Entre esses grupos temáticos, o de menor abstenção ocorreu entre os interessados em vagas da área ambiental e biológicas. Os dados exatos serão apresentados hoje pelo ministério.
As mulheres representaram 56% do total de inscritos. O custo da reaplicação da prova foi de R$ 33 milhões adicionais. A mudança da prova em si, por conta da catástrofe no Sul, não é apontada pela ministra como a razão pela abstenção.
"Tem gente que deixou de trabalhar para estudar (na primeira data de realização da prova), e que teve que voltar ao trabalho. Gente que tirou férias. Gente que não se achou preparada suficientemente ou porque mudaram de projeto. Mas é difícil dizer isso", entende Dweck.
Para Francisco Braga, professor de curso preparatório para concursos e procurador do Estado de São Paulo, comparando-se a abstenção do concurso de ontem com outros para cargos e níveis semelhantes, a abstenção foi muito alta.
"Na minha avaliação, isso se deve a dois motivos. O primeiro deve-se ao fato de ser um concurso muito grande. Isso fez com que muita gente que não estava empenhada se inscrevesse, tendo em vista a grande oferta de vagas, e, no dia da prova, desistem por não ter estudado. O segundo motivo deve-se à remarcação da data da prova. Pessoas que haviam se preparado para a primeira data e não puderam comparecer ontem", afirmou Braga.
*Estagiárias sob a supervisão de Edla Lula