Eu, Estudante

João Gilberto no céu

''Não basta escrever certo. Elegância e fluência também contam.'' Josué Machado

O céu está em festa. Só se escutam os acordes do violão com a batida do mestre. Vinicius, Tom, Nara, Elis, Miúcha cantarolam baixinho. Ele se aproxima. Com jeito tímido, dá notícias do mundo. Pergunta pelos outros que foram na frente. Estão todos lá, preparados para o grande concerto. Deus, que andava por perto, se juntou ao grupo. Aproveitou uma pausa e pediu licença pra fazer uma pergunta:

— Estudei português há muito tempo, lá pelo século 12. Desde então, dedico um tempinho diário pra me aprofundar na língua. Mas tenho dúvidas, muitas dúvidas. Uma delas tem a ver com nosso novo morador. Ele criou a bossa nova. Ora vejo a duplinha escrita com hífen, ora sem hífen. Qual a diferença entre uma e outra?

Silêncio. Ninguém soube responder. Chamaram o Houaiss e o Aurélio, que se divertiam com a questão. Os dois sorriram e mataram a curiosidade do Senhor:

— O adjetivo se escreve com hífen. O substantivo não: João Gilberto criou a bossa nova. A bossa nova revolucionou a MPB. Gosto de música bossa-nova. É bom cantor bossa-nova.

João Gilberto ouviu a explicação. Sorriu discreto. E, lá com seus botões, sussurrou como se estivesse cantarolando: “Isso é lá coisa de artista?” Feliz, o dono da casa se afastou. Anjos, arcanjos e querubins o acompanham. Tocavam uma música bossa-nova. Com hífen.


Na origem 

O Houaiss, sempre curioso, acrescentou:
Bossa vem do francês bosse. Na língua de Voltaire, a dissílaba quer dizer inchaço, protuberância. Aqui tomou outro rumo. Significa jeitão, estilo de cada um ser ou fazer. Na metade do século passado, Tom Jobim, Nara Leão, Vinicius de Moraes & cia. lançaram a bossa nova. É o gênero musical verde-amarelo que mais sucesso faz mundo afora.  

Quem é quem

João Gilberto era... ops! São quatro substantivos muito parecidos. Todos se referem a instrumentos musicais de corda. Confundir é proibido. Quem toca...

Violão é violonista.

Violino é violinista.

Viola é violista.

Violoncelo é violoncelista.

É isso. João Gilberto era violonista.

Sobre morrer 

“Morrer é merecimento.” (Alan Kardeck)

“Morrer é não ser visto.” (Fernando Pessoa)

“Morrer não é acabar, é a suprema manhã. (Victor Hugo)

“Morrer é perder o entusiasmo.” (Honoré de Balzac)

“Morrer é ridículo.” (Victória Lellis)

“Viver bem é um direito, aprender a morrer é um privilégio.” (Marco Aurélio)

“A gente não morre. Fica encantado.” (Guimarães Rosa)

“Poeta não morre. Vira estrela.” (Dito popular)

“Nascemos para morrer, conhecemos pessoas para as deixar e ganhamos coisas para as perder.” (Buda)

“Morre-se apenas uma vez. Mas é por tanto tempo!” (Molière)

Sem confusão

Féretro é... caixão sim, senhores.

A letra distingue os times

Concerto com c. Conserto com s. A pronúncia é a mesma. A sílaba tônica também. O número de letras idem. Mas o significado joga em dois times que não se conhecem nem de elevador. Veja:

Concerto = harmonia, acordo, ajuste: João Gilberto & parceiros deram um concerto no céu. Assisti ao concerto da Orquestra Sinfônica de Boston. O Brasil faz parte do concerto das nações.

Conserto = remendo, reparo: O carro está no conserto. Preciso consertar o comprimento da saia. Quanto custa o conserto do chuveiro?

Leitor pergunta

Penso que enterrar é adequado para coisas ou animais irracionais. Sepultar seria mais adequado para pessoas. Será?
Joel Sampaio, lugar incerto 

Enterrar e sepultar são usados para pessoas e animais sem causar estranheza: O corpo de João Gilberto foi sepultado em cemitério de Niterói. O garoto sepultou o velho cão no jardim da casa. O corpo de João Gilberto foi enterrado em cemitério de Niterói. O garoto enterrou o velho cão no jardim da casa.

Viu? Sepultar é mais restrito. Enterrar, mais geral. Ninguém sepulta uma mesa, uma geladeira, um saco de lixo. A gente enterra mesas, geladeiras, sacos de lixo.