De médiuns e João de Deus

'O bonito desta vida é poder costurar sonhos, bordar histórias e desatar os nós dos nossos dias.' Cidinha Araújo

DF - Concursos - Lorena Pacheco
postado em 21/12/2018 14:10
int(0) Ops! Que susto! Que surpresa! João de Deus é conhecido em Europa, França e Bahia. Muitos dizem ter sido curados graças às cirurgias espirituais feitas por ele. De repente, o mundo caiu. O Programa do Bial trouxe depoimentos de mulheres que dizem ter sofrido abusos durante os procedimentos. Abriu-se a caixa de Pandora. Denúncias pipocam às dezenas de norte a sul, de leste a oeste.

Veio ao cartaz, então, a palavra médium. Como lidar com ela? Tem feminino? Tem plural? O vocábulo serve aos dois gêneros – o médium, a médium. Tem plural — médiuns: Chico Xavier foi um dos médiuns mais conhecidos do Brasil. Encontram-se médiuns mundo afora. Você conhece alguma médium?

De longe

A palavra médium veio do latim medium. Na língua da Roma antiga, quer dizer meio. É a pessoa que, graças à mediunidade, estabelece comunicação com mortos. Mídia, que dá nome aos meios de comunicação social, tem a mesma origem. Mas chegou até nós por meio do inglês. Daí a diferença de pronúncia.

A lei da força

O governo federal decretou intervenção em Roraima. O assunto, claro, mereceu destaque no noticiário. Não deu outra. Gregos, romanos, baianos e sergipanos tropeçaram no verbo intervir. Muitos anunciaram que o Planalto “interviu” no estado. Valha-nos, Deus. É a receita do cruz-credo.  Intervir é filhote de vir. Ambos se conjugam do mesmo jeitinho.

Assim: venho (intervenho), vem (intervém), vimos (intervimos), vêm (intervêm); vim (intervim), veio (interveio), viemos (interviemos), vieram (intervieram), viesse (interviesse), viéssemos (interviéssemos), viessem (interviessem), vier (intervier), viermos (interviermos), vindo (intervindo). E por aí vai. Logo, o governo interveio em Roraima. Que dê certo!

Como é?

Temer disse que, “em face da situação em Roraima, a intervenção se impôs.” Muitos estranharam a locução “em face de”. Não seria “face a”? Nãooooooooooooooooo! Nesta alegre Pindorama, falamos português. A forma verde-amarela é em face de. Face a não pertence ao idioma de Camões. Nota 10 para o inquilino do Palácio do Planalto: Em face da situação em Roraima, a intervenção se impôs. Em face do exposto, encaminhamos as soluções sugeridas. Peço, em face do quadro tranquilizador, que as medidas de segurança sejam suspensas.

Vinicius e a locução

Viva! Vinicius conhecia não só as manhas e artimanhas do amor. Conhecia também os mistérios da língua. O “Soneto da fidelidade” serve de prova. Eis a primeira estrofe:

De tudo ao meu amor serei atento

Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto

Que mesmo em face do maior encanto

Dele se encante mais meu pensamento.


Sem penetras

Setecentas pessoas esperaram a chegada de Jair Bolsonaro. Iam assistir à diplomação do presidente eleito e do vice. Penetras não tiveram vez. Só entraram os convidados. Daí a importância de acertar a regência do verbo que abre portas e estende tapete vermelho. Convidar rege a preposição para: O presidente do TSE convidou autoridades para a cerimônia de diplomação.

Atenção

Antes de infinitivo, convidar exige a preposição a: Convidei-os a entrar. Depois, convide-os a sentar. Por fim, convidei-os a se retirar.

Leitor pergunta

Precisei empregar o verbo convir. Senti dificuldade na regência e na conjugação. Pode me ajudar?
Carla Rosa, Brasília

Convir, Carla, é transitivo indireto: A emenda convém aos partidos pequenos. Os senadores convieram na reforma do regimento. Conviemos com nossos amigos que voltaríamos antes das 10 horas.

A conjugação segue o modelo de vir, respeitadas as regras de acentuação: venho (convenho), vem (convém), vimos (convimos), vêm (convêm); vim (convim), veio (conveio), viemos (conviemos), vieram (convieram); vier (convier), vier (convier) viermos (conviermos), vierem (convierem); vindo (convindo).

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