Vamos combinar? O poder funciona como ímã. Muitos do time de lá passam pro time de cá. Buscam oportunidade no governo — seja ele qual for. Daí a ressurreição da duplinha vira-casaca. Com ela, a curiosidade sobre a origem da expressão. A história vem de séculos atrás. Carlos Manuel III (1701-1771), rei da Sardenha, não descia do muro.
Pra evitar problemas com a França ou a Espanha, vestia as cores de um dos reinos de acordo com as circunstâncias. Ficou 43 anos no poder. De tanto troca-destroca da roupa de cerimônia com duas abas nas costas (casaca), o hábito virou piada e ganhou a boca do povo. Vira a casaca quem defende opiniões, pessoas ou times que antes condenava. Em geral, tem objetivo oculto — tirar vantagem.
Supersuper
O governo Bolsonaro terá superministérios. Economia será um. Justiça, outro. Dará certo? Só o tempo dirá. Enquanto isso, vale responder a uma questão. Por que superministério e superministro se escrevem coladinhos? A razão: o prefixo super- só pede hífen quando seguido de h ou r. No mais, é tudo junto como unha e carne: super-homem, super-história, super-herói, super-região, super-rico, super-racional, super-rapidez, superativo, supereficiente, supermercado.
Os Bolsonaros
A família Bolsonaro é campeã das urnas. Além do Jair Messias, eleito presidente, a filharada fez a festa. Flávio foi o senador mais voltado do Rio. Carlos, o vereador mais guloso da Cidade Maravilhosa (2016). Eduardo, deputado federal ungido pelos paulistas, obteve o melhor desempenho de um candidato na história.
O fato, claro, mereceu manchetes. Parte delas falava em os Bolsonaros. Outra parte, os Bolsonaro. E daí? Substantivo próprio tem plural como o comum. Sempre que se fala no assunto, Os Maias, de Eça de Queiroz, vem à tona. Assim como a ilustre família portuguesa, as demais se flexionam conforme manda a gramática: os Castros, os Cavalcantis, os Souzas. E, claro, os Bolsonaros.
Anticlímax
Marcos Pontes comemorava a indicação para o Ministério de Ciência e Tecnologia. No entusiasmo, prometeu “criar novos empregos”. Ops! Baita pleonasmo. O primeiro brasileiro a voar para o espaço não se deu conta de pormenor pra lá de importante. Só se cria o novo, assim como só se sobe pra cima e só se desce pra baixo. Que tal poupar? Basta criar empregos.
Operação Tritão
A Polícia Federal deflagrou a Operação Tritão. Administradores das Docas de Santos tremeram nas bases. Com razão. Até o presidente foi pro xilindró, acusado de desviar milhões pra engordar contas bancárias particulares. Entre tantas falcatruas, chamou a atenção algo diferente — o nome Tritão. O que o ente da mitologia grega tem a ver com a história santista?
Resposta: a água. Tritão era filho de Possêidon, o deus dos oceanos. Meio homem, meio peixe, morava nas profundezas do mar. Tinha um grande poder — serenar as ondas. Com frequência, aparecia sobre elas num carro puxado por cavalos que chamavam a atenção por duas marcas. Uma: a beleza. A outra: as patas terminavam em pinças de caranguejo.
Leitor pergunta
Ouvi no rádio a palavra viloa. Seria o feminino de vilão. Levei um baita susto. É isso mesmo? O palavrão está correto?
Severino Castro, Recife
Com a palavra, o Aurélio. Lá está a resposta. Vilão tem dois femininos. Um: vilã. O outro: viloa.
Ao nível de? Em nível de? As locuções me confundem.
Sara Lise, BH
Ao nível de significa à mesma altura: Santos está ao nível do mar. Meu cargo está ao nível do cargo de diretor.
Em nível de tem os sentidos de em instância, no âmbito, paridade: A decisão foi tomada em nível de diretoria. O consenso só será possível em nível político. Faço um curso em nível de pós-graduação.
Olho vivo
A nível de? Cruz-credo! A dupla não existe. É praga.