Eu, Estudante

Palavra, pra que te quero?

%u201CManejar sabiamente uma língua é praticar uma espécie de feitiçaria evocatória.%u201D Clharles Baudelaire

O português tem palavras pra dar, vender e emprestar. Elas conversam, combinam, brigam, fofocam. Flexíveis como cintura de político mineiro, interpretam papéis variados com a desenvoltura de quem anda pra frente. No fim das contas, ampliam as possibilidades de comunicação e abrem as portas para que façamos delas gatos e sapatos. Quer ver?


Enlouquecemos significados

Pé é palavra pequena. Tem só duas letrinhas. Mas ajuda muito a língua. Com ela, formamos palavras e um montão de expressões. Muitas aparecem nas festas juninas…

Pé de moleque é uma. Já imaginou festa de São João sem o docinho gostoso? Nem pensar! Ele tem um jeito arteiro. O amendoim parece o pé de um menino que não para quieto.

Quem não para quieto adora dançar. Quem dança arrasta os pés. Pode ser na quadrilha, no forró ou no baile chique. Por isso o movimento animado se chama arrasta-pé.

E o foguinho que persegue o pé da gente? É o busca-pé. Que medo! O danado é tão rápido que parece avião. Ninguém pode com ele. Por isso, alguns o chamam de diabinho-maluco.

Para escapar, só há um jeito -- dar no pé. Garoto teimoso fica. Bate o pé e espera o ataque. Se sentir medo, sobe num pé de árvore. Espera o perigo passar. E, pé ante pé, põe o pé no mundo.

Confundimos sons

Qual é o melhor lugar da casa? Uns preferem o quarto. Lá, ligam a televisão, deitam na cama e veem desenhos animados. Outros gostam da sala. Ovem música, sentam-se no sofá, pegam um livro e ficam horas lendo. Esquecem-se da vida.

Todos adoram a cozinha. Ali a família se reúne. Conversa. Come pratos gostosos. Sobremesa nunca falta. Quando a fome bate fora da hora das refeições, é lá que a gente encontra frutas, um pãozinho com manteiga ou um iougurte jeitoso na geladeira.

Muitos frequentadores da cozinha gostam de preparar comidinhas. Às vezes é um bolo. Outras, brigadeiro. Quase sempre, vitamina. Eles conhecem os verbos cozer e coser. Os dois se pronunciam do mesmo jeitinho. Mas um não tem nada que ver com o outro.

Cozer significa cozinhar. É parente de cozinha, cozinheiro, cozido. Todos escritos com z.

Coser quer dizer costurar. Pertence à família de cosido, descosido. Todos grafados com s.


Moral da história: uma letra faz a diferença.
 

Adoçamos ações

Cleptomania é palavra pra lá globalizada. Ela tem duas partes. Uma nasceu na Grécia. É clepto. A outra veio de Roma. É a latina mania.

Clepto quer dizer roubar. A dissílaba aparece em muitos vocábulos. Um deles é cleptomania. O palavrão dá nome ao impulso irresistível de pegar algo dos outros. Pode ser uma caneta, um livro, uma joia.

O cleptomaníaco não consegue se controlar. Ele vê um objeto. Não precisa dele. Mas bate uma vontade louca de pegá-lo para si. Depois, arrepende-se. Deixa-o pra lá. Porém o mal está feito.
 

Dobramos acepções

Você sabia? A palavra jornal tem dois significados. O primeiro é velho conhecido nosso. Trata-se de publicações periódicas que dão notícias, como o Globo, o Correio Braziliense, a Folha de S. Paulo.

Jornal é, também, o pagamento por um dia de trabalho. Quem labuta um dia ganha o jornal (pagamento). A palavra vem de jornada.

Por isso jornaleiro tem duas acepções. Uma: pessoa que vende jornal. Ora, negocia nas bancas. Ora, na rua. Ela oferece o produto nas paradas ou sinais luminosos.

A outra: pessoa que trabalha por jornada, isto é, por dia. É o mesmo que diarista.

Dizemos o objetivo

Moda pra que te quero? Pra usar e deixar pra lá. A própria palavra diz isso. A danadinha significa uso passageiro. Pode se referir à forma de vestir, calçar, pentear ou enfeitar-se.

Numa estação, a moda é saia curta. Na outra, longa. Depois, nem curta nem longa. E as cores? Ora o vermelho ocupa todas as vitrines. Meses depois, dá vez ao amarelo. Em seguida, ao branco. E o pretinho? O cabelo não fica atrás. Muda de cor, de comprimento, de corte.

A moda vai além da roupa, do cabelo ou das cores. Intromete-se na decoração. Mete a colher nos restaurantes. Dá palpite nos carros. Nem os brinquedos escapam.


Leitor pergunta

Qual a regência do verbo avisar?
Carlos André, Goiânia

Prefira a regência com objeto direto de pessoa e indireto da coisa avisada: Ela saiu para avisar o delegado. Vou avisar o pai da chegada do filho. Paulo avisou o irmão de que seria interrogado pelo juiz.