Domingo de revisão divertida

%u201CReescrevi 30 vezes o último parágrafo de Adeus às armas antes de me sentir satisfeiro.%u201D Ernest Hemingway

DF - Concursos - Lorena Pacheco
postado em 19/12/2017 11:13
int(0) Muitos consideram a língua portuguesa pra lá de difícil. Há quem diga que é a mais difícil do mundo. Mito? Verdade? Todas as línguas de cultura têm complexidades. Daí por que estudamos fonética, morfologia, sintaxe. À medida que avançamos nos mistérios do idioma, mais o dominamos. Ele se torna nosso aliado. Permite até que o transformemos em objeto de brincadeiras. Vale o exemplo do texto abaixo, encaminhado por Mirtô Fraga.

Como é uma Professora de português?

Professora de português não nasce; deriva-se.
Não cresce; vive gradações.
Não se movimenta; flexiona-se.
Não é filha de mãe solteira; resulta de derivação imprópria.
Não tem família; tem parênteses.
Não envelhece; sofre anacronismo.
Não vê TV; analisa o enredo de uma novela.
Não tem dor aguda; tem crônica.
Não anda; transita.
Não conversa; produz texto oral.
Não fala palavrão; profere verbos defectivos.
Não se corta; faz hiato.
Não grita; usa vocativos.
Não dramatiza; declama com emotividade.
Não se opõe; tem problemas de concordância.
Não discute; recorre a proposições adversativas.
Não exagera; usa hipérboles.
Não compra supérfluos; possui termos acessórios.
Não fofoca; pratica discurso indireto.
Não é frágil; é átona.
Não fala demais; usa pleonasmos.
Não se apaixona; cria coesão contextual.
Não tem casos de amor; faz romances.
Não se casa; conjuga-se.
Não depende de ninguém; relaciona-se a períodos por subordinação.
Não tem filhos; gera cognatos.
Não tem passado; tem pretérito mais-que-perfeito.
Não rompe um relacionamento; abrevia-o.
Não foge a regras; vale-se de exceções.
Não é autoritária; possui voz ativa.
Não é exigente; adota a norma padrão.
Não erra; recorre a licenças poéticas. (autor desconhecido)

Mais do mesmo? Nãoooooo

A professora usa pleonasmos? Talvez. Mas um, com certeza, não figura no discurso da mestra. Trata-se do há...trás. Por ser condenável, planta batata no asfalto. “Há dois dias atrás”? Nem pensar. Há indica passado. Atrás também. Ela e nós ficamos com um ou outro: Tempos atrás, ninguém acreditava na punição de poderosos. Há tempos, ninguém acreditava na punição de poderosos.

Sem originalidade

Como a professora, o verbo abster é derivado. O paizão: ter. Pai e filho se conjugam do mesmo jeitinho, observadas as regras de acentuação: eu tenho (me abstenho), ele tem (se abstém), nós temos (nos abstemos), eles têm (se abstêm), eu tive (me abstive), ele teve (se absteve), nós tivemos (nos abstivemos), eles tiveram (se abstiveram); se eu tiver (me abstiver), se ele tiver (se abstiver), se nós tivermos (nos abstivermos), se eles tiverem (se abstiverem); eu tenho tido (me tenho abstido); ele está tendo (está se abstendo).


A só? A sós?

A amiga íntima da língua transita com familiaridade na norma culta. Evita cruzamentos, que ocorrem com mais frequência do que afirma nossa vã filosofia. É o caso de só e a sós:

Só é adjetivo. Quer dizer sozinho. Flexiona-se em número de acordo com o sujeito: Eu estou só porque vivo só. Trabalho só (sozinha) no escritório. Nascer e morrer são atos solitários. Nascemos sós. Morremos sós.

A sós, locução, é invariável. Só aparece no plural: Maria prefere viver a sós. Moramos a sós no mesmo apartamento. Estamos a sós.

Entendeu a manha? A só é cruzamento de jumento com elefante. Xô, mostrengo!

Leitor pergunta

Ele volta volta para trás das grades ou para atrás das grades?
Jaime Cortez, Camaquã

Jaime, guarde isto. Antecedida de preposição, só trás tem vez: Olhou para trás. Viu-o por trás das cortinas. Voltou para trás das grades.

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