
Cantar vai muito além do entretenimento: é uma prática capaz de transformar o estado emocional, aliviar o estresse e até melhorar a saúde física. Márcia Maria Prates, de 72 anos, afirma que esse potencial é real. "Existe aquele ditado, né? 'Quem canta os males espanta'! E espanta mesmo, viu?", brinca.
A aposentada faz parte do Coral da Universidade de Brasília, um dos coros mais antigos da cidade, criado em 1981 por um grupo de alunos da instituição. Mineira de Belo Horizonte, ela veio para Brasília em 1976 para acompanhar o marido, que havia passado em um concurso. Em 1985, após se divorciar, resolveu retornar ao movimento do canto coral. "Sempre cantei em corais, desde criança, mas parei quando me mudei para cá. Aí, quando me divorciei, resolvi voltar a praticar meus hobbies e entrei para um coral", relembra.
Após alguns anos em outro grupo, foi chamada, em 2002, para fazer um teste para o Coral da UnB. Foi aceita e permanece até hoje, sendo uma das integrantes mais antigas. "Cantar em coral mudou meu astral. A música tem um poder impressionante na nossa vida, ela traz leveza. Além disso, cantar em grupo fortalece laços e nos dá a sensação de pertencimento. Conviver, aprender com os outros e fazer novas amizades é maravilhoso", declara a aposentada.
Márcia afirma que grupos como esse são essenciais para a saúde mental dos moradores da capital. "Como a cidade recebe pessoas de todas as partes, é comum que muitos se sintam sozinhos ou deslocados. Por isso, participar de grupos é tão importante. Essas conexões fazem muita diferença", diz.
Vindo do Maranhão, o estudante de direito Pedro Henrique Santos, de 19 anos, afirma que resolveu ingressar no coral, pois tinha a vontade de participar da história da universidade. "É um projeto muito antigo que marca esse ambiente universitário e participar dele traz um senso de pertencimento", explica. Apaixonado por música, ele afirma que também entrou no projeto para criar vínculos e aprofundar seu gosto pelo mundo musical. "Eu sempre quis que a música estivesse presente na minha vida, independentemente da área profissional que eu seguisse, então resolvi por em prática essa ideia já na universidade", diz.
O impacto do Coral na vida de Pedro foi profundo. Além de promover um forte sentimento de pertencimento, o coral proporcionou uma rica troca de conhecimentos e experiências com pessoas de diferentes áreas, formações e trajetórias. Ele destaca o quanto é enriquecedor conviver com integrantes tão diversos, desde estudantes até mestres e veteranos do grupo. Para ele, cantar no coral é um momento de paz, lazer e bem-estar, mesmo exigindo dedicação e estudo.
Premiações
Atualmente, o Coral da UnB conta com 40 integrantes de diferentes idades e profissões. Reconhecido como um dos principais coros de Brasília, o grupo já conquistou diversas premiações em concursos nacionais e internacionais, como três diplomas de ouro no Concurso Internacional de Coros em Calella, Barcelona, o diploma de ouro e prêmio de melhor performance no Festival Lisboa Canta (2024) e outros.
Éder Camúzis, regente do coral há 24 anos, destaca que o grupo leva elementos da cidade mundo afora. "Fazemos questão de carregar no peito, e na voz, a afirmação de que 'nós somos de Brasília', exaltando com orgulho e celebrando toda a beleza e singularidade dessa cidade maravilhosa", celebra.
Segundo Éder, a capital é uma cidade que canta, onde a música está presente de forma marcante, especialmente por meio do movimento coral, amplamente reconhecido. "Costumo brincar que não temos praia, mas temos muitos corais, bandas e músicos talentosos", destaca. Ele afirma que Brasília é conhecida como a cidade do rock, mas também é a cidade do coral. "Quando participamos de festivais pelo Brasil e mencionamos que somos um coro daqui, sempre percebemos um grande respeito por parte dos outros estados", completa.
Assim como Márcia, o regente também reconhece o poder da música para a qualidade de vida. "A música é terapêutica, e a música coral ainda possui uma série de elementos agregadores", explica. Ele cita que, além de exercitar os músculos utilizados no canto e a respiração, estar em um coro é uma experiência coletiva que promove pertencimento e conexão.
A professora de inglês Carolina Mendes, de 43 anos, afirma que cantar no coro é seu momento de terapia. "Aqui é onde me sinto leve, focada no que me faz bem, que é cantar. É maravilhoso estar cercada de pessoas unidas pela paixão pela música e movidas pelo amor à arte", conta. Graças a esse amor pelo canto, ela resolveu ingressar no Coral da UnB.
Alívio
Carolina destaca que, graças ao coral, teve a oportunidade de conhecer lugares que talvez nunca conheceria, participando de concursos em diversas regiões do Brasil e do mundo. "Esses concursos geram muita tensão, mas ensinam muito sobre o preparo necessário para ser avaliado", explica. Ela afirma ainda que aprende muito e também transmite seus conhecimentos ao público.
"É uma experiência rica, que vivo internamente, mas que também alcança quem está na plateia. O coral oferece acesso a uma variedade de repertórios, gêneros e estilos musicais, revelando a imensidão de formas de produzir e vivenciar arte", compartilha.
Edgar Raman iniciou sua história no canto coral ainda na infância, no colégio. Agora, aos 66 anos, é médico epidemiologista e professor da Universidade de Brasília desde 1997. Nascido na Colômbia, chegou a Brasília para estudar, passou pelo Rio de Janeiro e pelos Estados Unidos, até retornar à capital federal como docente.
Ele conta que, desde sua época de universitário, sonhava em fazer parte do Coral da UnB, grupo do qual participa desde 2005. Para Edgar, o canto coral é mais do que um hobby ou válvula de escape: é trabalho, dedicação, escuta, disciplina e, principalmente, emoção. "A gente canta e encanta, e depois vê a emoção do público, vê as pessoas dançarem. Isso não tem preço", celebra.
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Ele fala com brilho nos olhos sobre a alegria das viagens, dos festivais, dos concursos. Ao refletir sobre a importância de grupos como o coral para a comunidade de Brasília, Edgar destaca o papel transformador da arte e ressalta o aprendizado contínuo proporcionado pela convivência com diferentes culturas e crenças: "Não é apenas tolerância, é respeito", afirma.