Ir às ruas protestar contra o racismo gera, de fato, um efeito de mudança em preconceituosos? A resposta obtida pelo pesquisador Max Primbs é sim. Ainda que temporariamente. O psicólogo social da Radboud University Nijmegen, na Holanda, analisou como as pessoas reagiram às manifestações do Black Lives Matter (BLM) de 2020, nos Estados Unidos, e concluiu que as reações em razão do assassinato de George Floyd reduziram o preconceito racial entre os americanos brancos.
“Os protestos surgiram da noite para o dia e alcançaram uma escala tremenda imediata. O efeito foi rapidamente visível nos dados: os brancos americanos, de repente, pensaram muito menos negativamente sobre os negros americanos”, relata Primbs. Para chegar aos resultados, o pesquisador e a equipe submeteram voluntários a uma tarefa simples. Pelo computador, os participantes tinham de classificar algumas palavras como “boas” ou “ruins” pressionando um botão. Seguindo as mesmas regras, designavam fotos de rostos de pessoas como “negras” ou “brancas”.
- Leia também: Ex-policial envolvido na morte de George Floyd é solto
- Leia também: Morte de George Floyd completa um ano de reflexões nos EUA
A associação mais negativa com os negros diminuiu imediatamente após o início dos protestos do BLM. À medida que a atenção ao movimento diminuiu, porém, o preconceito voltou a aumentar, quase se igualando ao patamar anterior ao crime contra Floyd cometido por um policial branco. Essa brecha, aposta Primbs, é uma oportunidade para ações mais estruturadas, capazes de melhores resultados tanto nos Estados Unidos quanto em outros países.
Sem subestimar o efeito Donald Trump, o psicólogo social aposta que um efeito a longo prazo depende de mudanças políticas. “Ele normalizou a retórica de ódio nos Estados Unidos, mas os políticos também podem introduzir políticas para promover a igualdade”, afirma. “Um exemplo disso é um estudo de Eugene Ofosu (pesquisador da Princeton University, nos Estados Unidos) mostrando que a decisão da Suprema Corte de legalizar o casamento gay acelerou a diminuição do preconceito implícito em relação a gays e lésbicas”. Os resultados da pesquisa de Primbs foram publicados na revista científica Social Psychology and Personality Bulletin.
Natal na quebrada
Embalado pelo espírito natalino, o Jovem de Expressão vai promover na próxima sexta-feira, dia 20, uma tarde de diversão e solidariedade na Praça do Cidadão, em Ceilândia Norte. Estão previstas a doação de brinquedos para as crianças, lanches e um repertório de atividades culturais e recreativas. Tudo gratuito, das 13h às 17h. Não há necessidade de inscrição prévia. Só chegar!
Samba na rodô
Amanhã é dia de bis do tradicional projeto Rodoviária do Samba. A 18ª edição da iniciativa, realizada em 2 de dezembro, Dia Nacional do Samba, fez tanto sucesso que os organizadores decidiram repetir a dose, “um presente para trabalhadores e trabalhadoras que constroem essa cidade e esse país diariamente”, diz a cantora e produtora Cris Pereira. O encontro será na plataforma inferior, das 17h às 21h.
Recortes de cor: acesso à água
O Instituto de Água e Saneamento (IAS) e o Centro de Estudos e Dados sobre Desigualdades Raciais (CEDRA) fizeram um levantamento inédito sobre acesso à água tratada em escolas públicas brasileiras considerando a desigualdade racial. A partir de dados do Censo Escolar, constatou-se que quase 1,4 milhão de estudantes não têm acesso a esse recurso, sendo a maioria deles negros.
» Dos estudantes sem acesso básico à água potável, 768,6 mil estão em escolas predominantemente negras; 528,4 mil, em escolas mistas; e 75,2 mil, em escolas predominantemente brancas.
» A chance de um aluno estar em uma escola de predominância negra que não fornece água potável é cerca de sete vezes maior, quando comparada aos matriculados em uma escola de predominância branca.
*Escolas de predominância branca ou preta são aquelas com mais de 60% de alunos declarados negros ou brancos, respectivamente. As demais foram consideradas mistas.