ASSÉDIO

UnB: comunidade acadêmica marcha contra casos de assédio na universidade

Estopim foi denúncia contra assédios praticados por professor do Instituto de Biologia. Manifestação também lembrou assassinato de Louise Ribeiro, em 2016

Letícia Mouhamad
postado em 06/12/2024 17:52
"O que vou aprender com professor assediador?" - (crédito: Leticia Mouhamad/CB/D.A Press)

Professoras, estudantes e técnicas administrativas da Universidade de Brasília (UnB) realizaram uma marcha contra casos de assédio ocorridos no ambiente acadêmico, nesta sexta-feira (6/12). O Correio acompanhou a mobilização, que partiu do Bloco de Salas de Aulas (BSA) Sul e seguiu até a Reitoria. Sob pedidos de justiça, os manifestantes clamam por mais segurança nas dependências da universidade. 

Organizada pelo Instituto de Biologia, a marcha chama atenção para as denúncias contra o ex-diretor do instituto, Jaime Santana, acusado de assediar duas professoras. Além disso, a mobilização cobra da Reitoria punições mais severas para o professor, que teve suas atividades acadêmicas suspensas por 15 dias. Para a defesa do professor, a advogada Maria Brito do escritório Brito e Colavolpe, o processamento ocorreu de “forma justa e equânime”. “Todas as partes tiveram chance de se manifestar e as provas foram analisadas por pessoas qualificadas”, afirmou Brito.

A professora do Instituto de Biologia Cristiane Ferreira, 50 anos, definiu como covarde a atitude da universidade frente às denúncias de assédios. "Não podemos nos omitir nem normalizar esse fato. O assédio é uma violência silenciosa, mina a autoconfiança e a psique das pessoas. A denúncia foi desqualificada e o caso, minimizado", disse a docente, uma das organizadoras da mobilização. 

Com faixas brancas na boca, os manifestantes exibiam cartazes com dizeres como "por uma UnB sem assédio", "se eu assediasse um professor, eu também receberia férias?" e "contra a impunidade do Jaime". O movimento reuniu cerca de 500 pessoas e lembrou o assassinato da estudante Louise Ribeiro, em 2016, morta aos 20 anos pelo também estudante de biologia, Vinícius Neres. 

Entenda o caso 

Na última terça-feira (3), o Centro Acadêmico de Biologia publicou uma nota de repúdio em que detalhou as denúncias contra o ex-diretor do Instituto de Biologia, Jaime Santana, acusado de assediar sexualmente duas professoras do mesmo departamento.

"O professor e ex-diretor foi denunciado, através de um processo administrativo, por forçar beijos em professoras e colegas de trabalho. Tal prática é denominada beijo lascivo e integra o rol de atos libidinosos e, se obtido mediante violência ou grave ameaça, importa na configuração do crime de estupro, como previsto no Código Penal", descreveu o texto, publicado no Instagram.

Ainda segundo a nota, a Universidade, sob a então gestão da reitora Márcia Abrahão, suspendeu por 15 dias as atividades profissionais de Jaime Santana, "alegando 'apenas' uma 'falta de urbanidade'", conforme diz o texto. O conceito de falta de urbanidade é semelhante à falta de ética. "A reitoria não encaminhou as denúncias ao Ministério Público, para que o processo pudesse caminhar na esfera criminal, nem mesmo acatou o parecer da comissão responsável pelo processo administrativo disciplinar, a qual recomendou a demissão de Jaime Santana", completou a nota.

Enfrentamento

Em carta de compromisso publicada no site da UnB, a reitoria destacou o compromisso da universidade com a prevenção e o enfretamento ao assédio. "Entre as ações planejadas, destacam-se: o fortalecimento de instrumentos de prevenção e resposta; a ampliação de políticas de gestão de pessoas e promoção de saúde mental; a promoção de capacitações e da sensibilização de servidores; e a consolidação de uma educação e de uma gestão antidiscriminatórios", descreveu o texto.

Além disso, a reitoria frisou que serão realizados programas de capacitação para docentes e técnicos administrativos, com foco na inclusão, diversidade e no enfrentamento de situações de assédio. "O intuito é fomentar maior empatia e compreensão das diferentes realidades que compõem nossa instituição", completou a nota.

Colaborou Bruna Pauxis

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