CONQUISTA

Haitiana consegue concluir curso de Técnico em Enfermagem no Brasil: "Me esforço muito"

Manise Savah já possuía a formação no Haiti, mas não conseguiu validar o diploma no Brasil

Mayara Souto
postado em 26/10/2024 19:33 / atualizado em 26/10/2024 19:40
"Estou muito feliz. Muito emocionada", contou a haitiana Manise Savah, 46, que concluiu curso técnico em Enfermagem na Escola Parque 308 Sul - (crédito: Mayara Souto/C.B./D.A. Press)

A haitiana Manise Savah, 46 anos, concluiu na noite desta sexta-feira (25/10) o curso de Técnico em Enfermagem na Escola Parque 308 Sul, em Brasília. Ao Correio, no final do ano passado, ela contou a difícil rotina de estudos que enfrentava para voltar a trabalhar na área em que já era formada em seu país.

“Estou muito feliz (com a conquista). Muito emocionada”, contou a haitiana, que é de poucas palavras, mas muitas expressões. Com os olhos marejados, ela celebrou a reconquista de seu diploma durante a sua colação de grau.

Agora, ela está ansiosa para tirar o registro do Conselho Regional de Enfermagem (Coren) e ter seu primeiro emprego na área da enfermagem no Brasil.

Veja vídeo:

 

Relembre

Manise saiu do Haiti há dez anos, após um terremoto que devastou o país, em 2010. Lá, ela era formada em Enfermagem, tinha experiência de anos em hospitais e também na organização Médicos Sem Fronteiras. Porém, desde que chegou ao Brasil, não conseguiu atuar na área.

Mãe solo, ela veio acompanhada da filha — que atualmente tem 19 anos — tentar construir uma nova vida. Desde então, ela já morou no Rio Grande do Sul e em Goiás. No último estado, foi onde ela conseguiu o primeiro emprego “próximo” da profissão que tem, como cuidadora de idosos. Também em solo goiano, ela deu à luz ao segundo filho, de 7 anos. Há alguns anos, a família vive em Brasília.

“Para os meus filhos viverem bem, para não passarem a dificuldade que eu passei na minha vida. É para isso que eu me esforço. Eu me esforço muito. Eu quase não durmo porque eu trabalho à noite, um dia sim, um dia não”, contou ao Correio, em novembro do ano passado.

A migrante fez parte do especial do Correio “Recomeçar: vida de migrantes e refugiadas”, publicado no início deste ano, e premiado na categoria de melhor texto do Prêmio Sebrae de Jornalismo-DF. O especial também é finalista do Grande Prêmio de Jornalismo do Sebrae Nacional.

À época da reportagem, ela fazia faculdade durante o dia, trabalhava como cuidadora de idosos à noite, e ainda conciliava o curso de Atendimento e Vendas, do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), que faz parte do projeto Empoderando Refugiadas. A iniciativa é promovida em Brasília, Curitiba e Boa Vista pela Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), ONU Mulheres e Pacto Global da ONU no Brasil.

“Eu trabalhava no hospital, mas cheguei aqui e não dá para trabalhar na minha área. Agora estou fazendo o curso de novo”, relatou ainda Manise, que até tentou validar o diploma que tinha, mas não conseguiu, pois não tinha todas as documentações e o processo é caro.

A legislação brasileira prevê que diplomas estrangeiros podem ser revalidados por universidades públicas brasileiras, que possuam o curso superior correspondente. Para isso, é necessário pagar uma taxa de, em média, de R$ 2.500 — o valor varia por instituição de ensino. A espera longa para a finalização do processo também é um empecilho. O próprio site de revalidação dos diplomas estrangeiros, o Carolina Bori, aponta problema histórico no funcionamento do processo. “Não foram poucos os processos de validação que poderíamos definir como processos de trâmite de duração longuíssima, realizados em prazos inaceitáveis”, diz o texto.

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