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Solidariedade

Projeto de professor ajuda menores no Distrito Federal com uso do rap

Iniciativa do educador para jovens em processo de ressocialização é uma das escolhidas para disputar prêmio no exterior

O trabalho desenvolvido por um educador do Distrito Federal para a reintegração ao convívio social de menores que cumprem penas por atos infracionais está na disputa de um dos mais importantes prêmios de Educação no Mundo: o World Best School Prizes (Prêmios para as Melhores Escolas do Mundo, em inglês). Criado em 2015, o Projeto RAP (Ressocialização, Autonomia e Protagonismo, do professor de história Francisco Celso Leitão Freitas utiliza o estilo musical vinculado ao hip-hop como ferramenta pedagógica. Entre outros benefícios, a iniciativa tem ajudado os meninos que passaram ou estão na Unidade de Internação de Santa Maria (UISM) a assimilarem com mais facilidade os conteúdos ensinados pelo historiador. Prova disso é que a britânica T4 Education — entidade organizadora da premiação, que conta com parceiros como, American Express, Fundação Lemann e Accenture — incluiu a proposta no concurso deste ano.

O educador, que prefere ser chamando apenas de Francisco Celso, disse ao Correio que teve a ideia de usar o hip-hop ao perceber que os adolescentes não se identificavam com as informações contidas nos livros didáticos. Porém, segundo ele, assimilavam rapidamente as mensagens das canções do gênero melódico. "Talvez eu tenha sido o camarada que tenha tido a sensibilidade, como diz o Paulo Freire, de perceber que os nossos estudantes não são copos vazios e que eles carregam essa potência do hip-hop, da cultura urbana. O que a gente fez foi dar uma oportunidade a eles", considerou.

Ontem, na UISM, o Correio acompanhou internos e outros jovens que passaram uma temporada na instituição confraternizando no Sarau Dá a Voz. Esse evento faz parte do projeto e ajuda a mostrar os resultados da ação.

"O projeto mudou minha vida de uma forma inexplicável, eu consegui dar a volta por cima", garantiu a rapper Ingrid Gabrielle. "É uma satisfação, hoje, frequentar o local como cantora e não mais como uma interna", comemorou a moça, com 18 anos, que trocou a unidade de internação pelos palcos.

"O projeto me transformou tanto do ponto de vista profissional quanto pessoal, e hoje é sinal de esperança e de superação na minha vida. Quem conhece a minha história e sabe de onde eu vim e os lugares que eu frequentava vê, hoje, onde eu estou e o que eu tenho alcançando. São conquistas que tenho através do rap", revelou a rapper Magestosa, outra ex-interna.

"O professor (Francisco Celso) sempre se empenhou pelos alunos da unidade e em dar voz às vozes mais caladas. Quando estou compondo e cantando, me sinto livre e mostro situações por que já passei", contou ao Correio a rapper Colombo MC, outra egressa da UISM.

Perspectiva

O diretor da unidade de Santa Maria, Lucian da Rocha, destacou que um dos pilares do trabalho do professor é modificar, de forma positiva, o futuro dos jovens. "Esse projeto vem justamente dar oportunidade de uma nova vida através da arte, da cultura, e ele é essencial, hoje, para a nossa unidade", avaliou.

O Projeto RAP, que pertence à UISM, ganhou, até hoje, 22 prêmios nas áreas de educação e cultura, no Brasil. Agora, segundo a T4 Education, disputa com outras 9 escolas estrangeiras, consideradas de elite, o World Best School Prizes na categoria Superando as Adversidades.

A premiação está na fase da escolha popular, que vai de 13 a 28 de junho. Quem quiser, poderá participar da votação acessando (ou clicando) neste link: worldsbestschool2.us.launchpad6.com/public-vote-2024/entry/1335

"Eu costumo dizer que a principal premiação é ver esses jovens saindo dos ciclos viciosos das infrações e entrando nos ciclos virtuosos por meio da arte", declarou o professor Francisco Celso.