Educação

O amor à literatura: iniciativas transformam vidas no Distrito Federal

Encontros entre autores e estudantes da rede pública contribuem para desenvolver o hábito da leitura desde os primeiros anos na escola

Fernanda Cavalcante
postado em 26/05/2024 06:00
O escritor João Bosco Bezerra Bonfim lê obras em voz alta, como parte do projeto -  (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)
O escritor João Bosco Bezerra Bonfim lê obras em voz alta, como parte do projeto - (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)

O poder transformador da leitura pode fazer a diferença na vida e no futuro de uma criança. Por meio da imersão nas histórias, ela olha para as próprias experiências, acessa e cria outros mundos, vislumbra possibilidades. No Distrito Federal, existem projetos educativos que promovem o incentivo à leitura e contribuem para formar novos interessados.

Uma dessas iniciativas é a Jornada Literária, que teve início em 2016. Desde então, recebeu 140 mil alunos de escolas públicas, sendo que 6 mil vão participar da nova edição. A ideia é promover o encontro entre autor e leitor. Os eventos com os 21 autores serão de 3 a 7 de junho, na sede da Jornada Literária no Paranoá, e de 10 a 13 de junho, no Instituto Federal de Brasília (IFB) de São Sebastião.

Marilda Bezerra, presidente da Associação Cultural Jornada Literária do DF, elaborou o projeto com o mediador e escritor João Bosco Bezerra Bonfim.  "O imediatismo causado pelos aparelhos eletrônicos entra em conflito com a paciência que uma leitura exige. É fácil dizer que uma criança não tem interesse, quando ela não foi criada em um ambiente leitor", menciona, ao relembrar por que criou o projeto.

Na última quinta-feira, ocorreu uma sessão de leitura mediada na sede do projeto, com alunos do Caic do Paranoá, escolas classes 02 e 04. As crianças selecionadas tiveram que repetir algum ano do ensino fundamental (1º ao 5º ano) por dificuldades com leitura e interpretação de texto

João Bosco busca tornar essa prática mais atrativa, por meio da chamada mediação de leitura. "A mediação é necessária também porque esses novos leitores, mesmo aptos a ler imagens, em geral, ainda não estão completamente letrados na versão escrita da língua. Por isso, a leitura em voz alta, com entonação, ênfase nas distintas vozes, é o que dá vida ao discurso escrito", explica.

O imediatismo causado pelos aparelhos eletrônicos entra em conflito com a paciência que uma leitura exige. É fácil dizer que uma criança não tem interesse, quando ela não foi criada em um ambiente leitor”

Marilda Bezerra, presidente da Associação Cultural Jornada Literária

  • O Jornada Literária já chegou a 140 mil alunos de escolas públicas
    O Jornada Literária já chegou a 140 mil alunos de escolas públicas Minervino Júnior/CB/D.A.Press
  • Iniciativas de incentivo a leitura atendem adolescentes e crianças, a partir de 4 anos
    Iniciativas de incentivo a leitura atendem adolescentes e crianças, a partir de 4 anos Minervino Júnior/CB/D.A.Press
  • O escritor João Bosco Bezerra Bonfim lê obras em voz alta, como parte do projeto
    O escritor João Bosco Bezerra Bonfim lê obras em voz alta, como parte do projeto Minervino Júnior/CB/D.A.Press
  • O Jornada Literária já chegou a 140 mil alunos de escolas públicas
    O Jornada Literária já chegou a 140 mil alunos de escolas públicas Minervino Júnior/CB/D.A.Press
  • Depois da atividade educativa na Jornada Literária, crianças aproveitam para brincar
    Depois da atividade educativa na Jornada Literária, crianças aproveitam para brincar Minervino Júnior/CB/D.A.Press

Saúde mental

Para a garotada, é um momento de alegria, de aprender e brincar. Renata Alves, 13, compartilha sua parte favorita do livro Lobo-Guará de Hotel, que reflete sobre o destino dos animais selvagens com as transformações da cidade. "Gosto da parte em que a lua aparece, porque a noite chega e o lobo descansa", conta. 

Esse contato com o universo literário é benéfico psicologicamente para os participantes, na opinião da orientadora educacional Cleysiane Gomes. "É uma ótima aliada para a saúde mental, uma vez que pode ser uma atividade relaxante e prazerosa que proporciona um momento de paz e tranquilidade para as crianças", avalia. "Auxilia as crianças a entenderem seus próprios sentimentos e emoções. Elas se conectam com diferentes personagens e situações, o que as ajuda a desenvolver empatia e compreensão social", completa.

 

Roedores de Livros

A Biblioteca Comunitária, no Shopping Popular de Ceilândia, recebe 30 crianças, aos sábados, das 9h às 12h, no projeto Roedores de Livros. A partir de julho, os encontros serão ampliados para as quartas-feiras. A programação inclui uma conversa sobre os livros emprestados na semana anterior, a mediação de leitura de três a quatro obras, e um momento livre para que as crianças possam explorar o acervo do projeto, individualmente ou em grupo. Ao final, é realizado o empréstimo de novos exemplares. Além disso, há oficinas de arte, como desenhos, colagens, dobraduras, e um lanche no meio da manhã. 

"Nosso público é bastante diversificado, composto por crianças de 4 a 12 anos. Atendemos filhos dos comerciantes do Shopping Popular da Ceilândia, bem como crianças da comunidade local. Também recebemos crianças do Plano Piloto, cujos pais são voluntários ou apoiadores do projeto", detalha Paula Bernardes, coordenadora da iniciativa. Ela completa que, sempre que possível, são levadas crianças de outras instituições, como da Associação Despertar Sabedoria, do Sol Nascente, e do Instituto Farol da Quebrada, de Samambaia.

Rahídes Farias, 20, aprendeu a ler com 6 anos de idade, quando entrou para o projeto. Atualmente, faz engenharia química na Universidade de Brasília (UnB). "Ainda leio, não com a mesma frequência, por conta das tarefas do dia a dia, mas, sem dúvida, ganhei esse hábito com eles", relata. "À época, contribuiu para o meu progresso escolar e o convívio social. E me ajudou a chegar onde estou hoje, porque as provas do Programa de Avaliação Seriada (PAS) são bem interpretativas", completa.

*Estagiária sob a supervisão de Málcia Afonso

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