Brasília, com 64 anos recém-completados, nasceu de uma confluência dos povos brasileiros que deixaram seus estados e vieram construir e habitar a nova capital. A cultura própria da jovem cidade surgiu com aquilo que os candangos trouxeram e do que os brasilienses começaram a criar a partir de suas raízes e heranças.
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Nesse contexto, nasce uma iniciativa que faz um caminho um pouco diferente. Criado no Planalto Central, o Game On: Maracatu Rural e Congada tem como objetivo ser um disseminador da cultura brasileira entre os jovens. Começando nas escolas de Brasília, as manifestações culturais de diversos estados são valorizadas e inseridas em uma realidade mais próxima das novas gerações.
A iniciativa consiste em jogos de computador educativos, que têm como objetivo incentivar jovens e crianças a conhecer melhor o folclore do país. O atrativo é a possibilidade de salvar o Maracatu Rural, originário de Pernambuco, e a Congada, de origem afro-brasileira e mais comum nos estados do Sudeste, que estão ameaçados pelos vilões do jogo, chamados Inimigos da Cultura.
Eraldo Peres, a mente por trás da ideia, conta que tudo surgiu do desejo de valorizar o patrimônio imaterial brasileiro, trazendo uma roupagem atraente para as novas gerações, evitando que essa rica cultura se perca com o passar dos anos.
"Temos todo esse material cultural e queríamos chegar de forma mais lúdica nos jovens, que nem sempre têm paciência para ler ou ver um documentário de 20 minutos, por exemplo. O game é uma forma de aproximação", explica.
Inicialmente, o jogo foi lançado em 11 e 12 de abril, no Centro de Ensino Fundamental (CEF) Doutora Zilda Arns, no Paranoá, e no CEF 15, em Taguatinga Sul. Desde a última quinta-feira, ficou disponível para todos os interessados, por meio do projeto Filhos da Terra e sua Rede Cultura Game, pelo site filhosdaterra.org.
Os alunos foram os jogadores beta, os primeiros a testar e dar o feedback. "Jovens e crianças são o público mais sincero, se não gostam, eles falam mesmo. E foi maravilhoso, ficaram com vontade de jogar, empolgados", comemora.
Eraldo enfatiza que, embora o jogo tenha sido criado pensando no ambiente educacional para a faixa etária de 11 a 16 anos, a intenção é ir além das salas de aula e atingir pais, pesquisadores, gamers e qualquer pessoa que tenha interesse tanto em jogos quanto em ampliar os conhecimentos sobre a cultura brasileira.
E o projeto não vai parar no Maracatu Rural e na Congada. O objetivo é ampliar o jogo e trazer outras expressões culturais, uma vez que o trabalho de resgate desse material é feito pelos pesquisadores do Filhos da Terra há bastante tempo. Na fila, destacam-se a Vaquejada, o Vale do Amanhecer, a Marujada e Ayahuasca — A Doutrina do Santo Daime.
A proposta é pioneira. Em sua pesquisa, Eraldo encontrou poucos jogos semelhantes e acredita que eles podem começar uma tendência de valorização cultural. "Os três pilares do nosso projeto são conhecer, refletir e valorizar. E isso é necessário quando se trata da nossa cultura, que é a nossa identidade, o que nos faz brasileiros", completa.
Personagens
Um dos primeiros personagens que os jogadores conhecem é Beto, âncora de um telejornal, que atua como uma espécie de mestre de cerimônias do jogo. É ele quem apresenta os desafios e as tarefas. Conforme as fases vão passando, surgem novas figuras, como o Caboclo de Lança e a Dama do Paço.
Em cada uma das festas, surge uma história ensinando sobre as origens e os costumes das manifestações culturais. Também é possível participar de ensaios rítmicos do Maracatu, de uma corrida pelas praças da cidade que busca recrutar pessoas para a Congada ou até mesmo treinar seus reflexos como Lanceiro.
O desenvolvedor e game designer Gabriel Andrade de Souza, da MAD Pixel, conta que a sua empresa — na época, na incubadora da Universidade de Brasília (UnB), projeto de extensão que funciona como um centro de desenvolvimento, crescimento e consolidação de negócios inovadores — já trabalhava com jogos educacionais quando foi escolhido por Eraldo para ajudar na criação dos jogos.
Para Gabriel, foi o casamento perfeito. O jogo começa a imersão através dos cenários e é bem diverso, incorporando uma mistura de artes e de cultura. "Eu queria essa cara, algo bem brasileiro e que transmitisse todo esse lado lúdico das nossas culturas", explica.
Em alguns momentos, o jogo está em pixelarte, estilo mais retrô. Em outros, em 3D. Com isso, vão surgindo os personagens, que auxiliam o jogador a salvar as festas culturais. "A gente quis fazer tudo de acordo com a manifestação que aparecia naquele momento, então a arte, a música, as cores, tudo isso vai mudando junto com a história", observa.
Outra preocupação de Gabriel foi manter o jogo simples e leve, no sentido mais técnico da palavra, para que seja acessível a partir de qualquer computador, pelo próprio navegador de internet.
Para ele, o jogo é um espelho das culturas, além de ser uma fonte de conhecimento, o que em sua opinião é um forte aliado contra o preconceito e, por isso, é tão importante. "É um aprendizado para todos, até para nós que trabalhamos e estudamos muito para criar. É sobre salvar essa herança que é tão rica", completa.
Filhos da Terra
Quem quiser se aventurar e ir além dos jogos pode acessar o site do Filhos da Terra. A iniciativa tem como objetivo documentar e divulgar a cultura popular e o patrimônio imaterial brasileiro.
Além da fotografia, em que o projeto começou, e da Rede Cultura Game, onde estão os novos jogos, existem diversas referências textuais, rotas culturais, galerias e produtos editoriais.
"Buscamos construir conexões para um futuro novo, aproximando pessoas e grupos e lançando um olhar atencioso sobre nosso patrimônio imaterial", destaca Eraldo. O projeto conta com patrocínio do Fundo de Apoio a Cultura (FAC-DF) da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal.
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