Com o objetivo de tornar mais acessível o estilo musical choro, recentemente reconhecido como patrimônio cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), um grupo de músicos teve a ideia de criar o Tenor Chorão. O objetivo é levar apresentações didático-musicais do ritmo para oito escolas no Distrito Federal, que começaram na última segunda-feira e vão até 19 de abril. Nessa quarta-feira (10/4), o Correio visitou a Escola Classe 10 de Taguatinga Sul para acompanhar uma das exibições.
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O idealizador do projeto, Nícolas Madalena, 29 anos, conta que, inicialmente, a proposta seria realizar os espetáculos em espaços públicos, como praças. "Os shows sempre foram pensados para ser de forma didática, onde explicaríamos o que era tocado. Posteriormente, foi decidido que o espetáculo seria em escolas", descreve.
Nícolas Madalena destaca que as expectativas para essas exibições são altas e espera que sejam acompanhadas por mais de 2 mil crianças. "Queremos fazê-las ter um apelo pelo choro, o pai de vários gêneros musicais brasileiros. Buscamos trazer o violão de tenor e o choro para a cultura atual, pois foram esquecidos com o passar dos anos. Esse resgate será feito com a educação. Muitas crianças e adolescentes não sabem do que se trata", assinala.
Aline Marques, 9, esteve na apresentação e comentou que adorou os músicos. "Gostei demais, acho que a escola deveria fazer isso todos os dias", opinou. Para ela, é uma forma de sair da rotina das salas de aula, além de ser mais alegre e contagiante. "Gostei de todos os instrumentos que eles tocaram, e os tios (músicos) são muito legais", afirmou.
A história da menina com a música vem de família. O pai tem uma banda amadora e Alice se apaixonou por essa expressão artística. O sonho dela é tocar guitarra. "Ainda vou aprender a tocá-la, mas não tenho coragem de me apresentar em público", confidenciou.
"Muitas dessas crianças nunca tiveram a oportunidade de acompanhar uma apresentação como essa", avaliou a professora Gracileide Alves, 43. A docente explica que o evento faz parte do currículo em movimento da rede pública de ensino do DF, ajudando a escola a sair da teoria e entrar na prática. "Outros estilos musicais estão fazendo parte da vida das nossas crianças. O que era muito conhecido antes passou a ser deixado para trás. Esse projeto resgata um pouco desse gênero", enfatizou.
Gracileide aprovou a forma que os artistas ensinaram sobre cada instrumento tocado e quais os sons que emitem. "Isso agrega muito para o conhecimento das nossas crianças. Eventos como esses são recebidos de braços abertos por todos da educação. Sempre trabalhei em locais que têm essas iniciativas. Além de bandas, já presenciei apresentações de mamulengos e cordéis", completa.
Apresentação
Responsável por tocar o violão de sete cordas e um dos condutores do projeto, Nelson Latif, 59, comentou que todos que vivem da música sempre sonharam com palcos, um grande público e várias viagens, algo que, às vezes, alcançam, mas o trabalho de formiguinha e a formação de plateia é o primeiro passo para o sucesso — sem contar que esse trabalho é o que forma os novos públicos.
Nelson relata que a garotada tem recebido os espetáculos de maneira muito positiva. "Nossa música tem raízes negras, indígenas, europeias e é o que nós somos por dentro. Então, quando tocamos, conseguimos nos conectar com algum passado das crianças. Pedi para elas fecharem os olhos e curtirem a melodia. Foi um momento lindo. Todas fizeram isso e toparam participar de todas as formas. Ficamos com receio de como elas receberiam as músicas, mas, até o momento, tem caminhado muito bem", comemorou.
Com duração de uma hora, a apresentação é focada em crianças de 10 a 14 anos, além dos docentes e pais. Durante o show é abordada a história do choro, suas características musicais e a importância do violão de tenor para esse estilo musical. Os alunos são convidados a participar ativamente conhecendo cada instrumento, os ritmos e as melodias.
No repertório são tocadas músicas que fizeram parte da história do choro, estão presentes até os dias atuais, como: Quinze de julho (Garotinho), Dengozinho (Claudionor Cruz), Ginga do Mané (Jacob do Bandolim), Dedeira com chocolate (Paulo Ramos) e para finalizar, Me engana que eu gosto (Nícolas Madalena).
*Estagiário sob a supervisão de Malcia Afonso
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