O professor é o berço de todas as profissões. Desde a primeira infância, o papel do docente é bem maior do que a simples passagem de conteúdo. Para que esse processo educacional aconteça, é necessário estabelecer um vínculo de confiança entre aluno e educador, além da família, que acompanha tudo isso de perto.
Arte, educação e transformação. O poder desses três elementos fez com que Luciany Oliveira Osório Borges, 42, dedicasse boa parte da vida a atuar como professora para alunos especiais. Acreditar, ser exemplo e inspirar outras pessoas sempre foi o desejo dela. Quando criança, carregava a certeza de que mudaria o mundo. Hoje, Luciany tem dupla comemoração, pois faz aniversário no Dia do Professor.
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"Na adolescência, tive a honra de ter professores inspiradores que plantaram a semente da educação em mim. Percebi que a educação era o caminho mais eficaz para ajudar os outros a buscarem sua autonomia de pensamento. Percebi que muitos medos e verdades, postos como tais, nada mais eram do que amarras que me impediam de ser eu mesma", relembra Luciany.
Ao todo, são mais de 16 anos como professora de artes — 11 deles na Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEDF). "Trabalho com estudantes com altas habilidades/superdotação na regional de ensino de Brazlândia há 6 anos. Atendo alunos-artistas de todas as escolas da região, do ensino fundamental ao médio", descreve. O intuito, segundo ela, nunca foi ser, exatamente, um espelho para os mais jovens. Entretanto, enxerga como crucial que os alunos possam se reconhecer nos docentes, pois é dessa relação horizontal que surge o respeito e a admiração mútua.
"Cada um que passou pela minha vida deixou um pouco de si em mim, me modificou para melhor, me tornou mais empática, me fez uma ouvinte mais sensível, restabeleceu a crença em dias melhores. Ser professora no Brasil não é nada fácil, mas penso que, mesmo sem o devido reconhecimento político-social, estou em uma das poucas profissões no mundo que tem a capacidade de mudar as coisas para melhor e que conhecimento, criticidade, amor e autoconfiança que plantamos iremos colher coletivamente por toda a vida", afirma Luciany.
Entre tantas memórias, dois episódios marcaram a trajetória da educadora. "Semana passada, recebi a notícia que fui premiada pela minha contribuição para a arte e cultura do DF, no Prêmio FAC Cultura Mulher. O incrível é perceber que a maioria das ações que desenvolvi na área da cultura tiveram como foco principal os estudantes e que, para além deles, toda a sociedade se beneficiou desse poder desbravador da arte", conta.
Em 2020 e 2021, durante o ensino remoto, Luciany desenvolveu o Projeto de Ensino Conexão Artística para todos os estudantes do atendimento de Altas Habilidades do DF. A iniciativa foi reconhecida como uma das 10 melhores práticas de ensino do país em 2021, no Prêmio Conectando Saberes, da Fundação Lemmann.
Inclusão
Filha de uma docente aposentada, Mariany Matos dos Santos, 45, fez o antigo magistério no Colégio Maria Auxiliadora-DF e cursou artes plásticas na Faculdade Dulcina de Moraes. Lá se vão mais de 24 anos como professora, licenciada em artes plásticas e pós-graduada em arteterapia e artes plásticas. "Uma trajetória rica de emoções, orgulho e ensinamento", comemora Mariany, que atuou dois anos nos ensinos fundamental e médio, além do PAS/UnB, e está há 22 anos na educação especial, no centro de ensino que atende esses estudantes e nas salas inclusivas da rede pública no Guará.
A professora também desenvolve, há seis anos, os projetos Expoarte Especial e Semana da Consciência Negra Especial. Todos com o intuito de unir o fazer artístico, de forma lúdica, ao contexto escolar. Para ela, bem mais do que estar na sala de aula, é necessário se conectar com o estudante, permitir identificação e trazê-lo, ainda mais, para o universo da educação.
"O professor é um ser que traz transformação e qualidade de vida para a criança. E isso vai desde a educação infantil até o PhD. Na educação especial, o professor ameniza e traz leveza para que o aluno tenha momentos de gosto pela escola e socialização. O professor exala amor, dedicação e inclusão, e isso é ser espelho vivo para o educando", acredita Mariany.
Valorização
Desde a adolescência, Paulo Cesar Rocha Ribeiro, 55, tinha espírito de liderança. Uma virtude que ele afirma ser inerente à sua personalidade. "Isso sempre se deu comigo em diferentes frentes da vida. Quando decidi caminhar na educação e entrei, aos 18 anos, na Secretaria de Educação do DF, logo nasceu em mim o desejo de me tornar diretor de escola", recorda-se.
Ao longo dos anos, colecionou aprendizados com outros gestores, que foram uma inspiração para Paulo. Em 2009, foi convidado para assumir a Supervisão Pedagógica do CED 01 do Guará, pelos amigos Eustáquio e Álisson. "Em 2011, tornei-me vice-diretor. Em 2019, fui nomeado diretor dessa escola que tanto amo. Junto de uma equipe fantástica, fizemos um trabalho maravilhoso", celebra.
"Ainda criança, lembro de meu pai sempre dizer para mim e meus irmãos que a escola mudaria o rumo de nossas vidas, se de nossa parte houvesse dedicação. Compreendi bem essa orientação e busquei me dedicar aos estudos. Eu adorava quando um professor me chamava para ajudar como monitor em sala de aula. Eu sentia muita alegria em poder colaborar com meus colegas. Penso que isso foi fundamental na minha decisão", afirma.
Paulo Cesar lamenta, no entanto, que a profissão não seja tão valorizada como deveria no Brasil. "É preciso uma compreensão profunda de toda a sociedade, a fim de que todos entendam o real significado de ser, de fato, um bom professor. É crucial falar mais em educação, dar o protagonismo ao professor, investir alto nesse setor no país. Temos tantos profissionais preparados e temos tanto a fazer. É preciso também que todos os professores tenham um ótimo salário, condizente com a entrega enorme desses profissionais maravilhosos", anseia.
Relação de confiança
A pesquisa Educação na perspectiva dos estudantes e suas famílias, feita pelo Datafolha a pedido do Itaú Social, Fundação Lemann, Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e Rede Conhecimento Social, mostra que nove em cada 10 alunos confia no educador. De acordo com o levantamento, 81% deles não possuem problemas na relação com os professores.
Além da confiança depositada nos profissionais, eles representam ainda um exemplo positivo para 87% dos entrevistados. Esse número varia de acordo com a etapa da educação básica, sendo que na educação infantil chega a 94%. No ensino médio, fica em 80%.
O contato com os professores representa ainda a principal forma de interação entre família e escola. Segundo a pesquisa, 72% dos pais ou responsáveis contam com professores para tirar dúvidas e 61% recebem orientações sobre como apoiar a aprendizagem do discente.
Sônia Dias, gerente de Desenvolvimento e Soluções do Itaú Social, explica que a ideia do estudo surgiu em meio à pandemia de covid-19 para entender como a relação entre escola e família mudou naquele período. Esse levantamento, que representa o 10º de uma série, buscou avaliar o primeiro ano de retorno presencial.
"Por um lado, os professores precisaram intensificar a aproximação com a família, contando mais ainda com os pais e cuidadores como aqueles que vão ser os seus parceiros na aprendizagem das crianças", destaca. "Por outro lado, os pais foram percebendo as especificidades e o que realmente está no papel do professor. Então, a valorização (da profissão) se fortalece."
Esses profissionais, no entanto, ainda encontram barreiras no exercício das atividades, além de uma sobrecarga de trabalho que pode gerar até mesmo impactos à saúde mental. Segundo a pesquisa de opinião com professores (TPE), 18% dos entrevistados acreditam que a principal ação que as secretarias de Educação deveriam priorizar nos próximos anos é a oferta de apoio psicológico a professores e estudantes. Dezessete por cento acreditam que a prioridade deve ser o aumento de salário da categoria.
Mesmo com as dificuldades, atuar na educação é uma experiência repleta de pequenas conquistas que fazem muita coisa valer a pena. Para 91% dos docentes, o maior motivo de satisfação é perceber que os alunos estão aprendendo. "Eles consideram que esse é um trabalho significativo e gratificante. Acho que só reforça o quanto as políticas públicas precisam favorecer que o professor tenha condições de se dedicar aos seus alunos e oferecer um trabalho de qualidade", explica Dias.
São essas vitórias e a confiança de que um bom professor pode transformar vidas que tornam essa profissão um verdadeiro caso de "ame-a ou deixe-a". Nesse caso, o amor continua a vencer. Isso porque, 62% dos entrevistados, se pudessem, escolheriam novamente a mesma profissão.
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