No Podcast do Correio, desta quarta-feira (31/5), a convidada da vez foi Lia Glaz, presidente da Fundação Telefônica Vivo. Em um bate-papo com as jornalistas Adriana Bernardes e Sibele Negromonte, a gestora falou sobre o programa de educação da fundação, que oferece cursos a professores, a fim de auxiliá-los com o uso de tecnologias dentro da sala de aula. Durante a conversa, Lia também ressalta a importância da educação antirracista, um dos cursos do programa, e aborda os grandes desafios da educação básica.
Como o programa de educação ProFuturo funciona e há quanto tempo ele existe?
O ProFuturo é parte de uma iniciativa global, e a Fundação Telefônica Vivo traz para o Brasil em duas frentes. Uma é a formação de professores voltada, principalmente, para o uso de tecnologias, de um jeito bem "mão na massa" na sala de aula, via uma plataforma que nós temos, que é o Escolas Conectadas. Nela, qualquer professor brasileiro pode entrar, e encontrar cursos que possam apoiá-lo em questões muito práticas. Além das questões de tecnologia, a gente tem, também, temas como a recomposição de aprendizagem, a educação antirracista, entre outros. A outra frente do ProFuturo é voltada para o ensino fundamental. Aqui, a gente trabalha, principalmente, com secretarias municipais de educação para a aprendizagem de matemática. Apoia as secretarias com o uso de plataformas que sejam responsivas e, assim, chegam direto ao aluno, com a formação dos professores e com o apoio aos técnicos da secretaria para esse olhar mais ampliado de como a matemática e a tecnologia podem integrar esse currículo do Fundamental I.
A questão do antirracismo também é abordada por vocês. Como é feito esse trabalho e como está o mapeamento do Brasil?
A educação antirracista é um tema que integra, hoje, a pauta da Fundação de um jeito bem intencional. Em 2018, a gente começou um curso, que se chama Escola Para Todos, que traz planos de aulas para todas as etapas de ensino, com um olhar para a temática, permeando várias áreas do conhecimento, desde a matemática à educação física. Com a participação de muitos professores, essa iniciativa, que nasceu para ser um curso, acabou se tornando uma publicação de planos de aula, promovido por professores e pela curadoria da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, com duas especialistas sobre o tema. Com isso, a gente começou a promover muito essa pauta no dia a dia escolar, e é um dos cursos que mais têm engajamento no Escolas Conectadas até hoje.
Como se dá uma educação antirracista na prática?
Existe legislação no Brasil, há mais de 20 anos, que coloca essa temática antirracista precisa permear os nossos materiais didáticos. Tem uma outra questão que é um olhar intencional do professor, para que este aluno que é mais vulnerável, o aluno negro, aprenda na mesma medida que qualquer outro aluno na sala de aula. Enquanto o Brasil teve uma melhoria nos dados de aprendizagem, os alunos brancos tiveram uma melhoria muito superior aos alunos negros, tanto na língua portuguesa quanto na matemática. Se a gente não olhar a questão da equidade racial com muita intencionalidade, vai ser muito difícil a gente conseguir fazer com que o país avance de forma mais equitativa. A Fundação, além de fazer essas iniciativas que são muito mais "mão na massa", a gente também integra uma coalizão que é voltada para políticas de equidade racial, a gente apoia pesquisas nessa área, entre outras iniciativas para ter mais substância nesse tema.
Pesquisa divulgada pelo Instituto Locomotivas e da empresa de consultoria PWC em 2022 mostra que 33 milhões de brasileiros não conseguem se conectar à Internet. A maioria são negros das classes C, D e E. Como reduzir o abismo?
Essa questão da infraestrutura ainda está muito presente de forma desigual, como muitas coisas dentro da educação básica. A questão da conectividade, de fato, ainda é um desafio do país. Quando a gente olha para os dados do censo, parece que a distância é menor, mas, quando a gente olha a conectividade para fins pedagógicos, é um desafio. Nas áreas mais vulneráveis, o desafio é ainda maior. A boa notícia é que o Brasil tem, hoje, disponível para essa questão de infraestrutura e conectividade quase 8 bilhões. Não é suficiente, mas é bastante para a gente conseguir progredir no assunto. Existe aqui, uma necessidade de uma coordenação nacional à altura do desafio que a gente tem, que é de levar a conectividade às 10 mil escolas que estão completamente desconectadas e, aqui, trazendo para a educação, que é onde a gente atua, realmente se reverta nos próximos anos.
Fale-nos sobre a recente pesquisa feita por vocês.
Essa é uma pesquisa que a gente lançou há duas semanas. O que vimos foi um retrato dos municípios brasileiros que traz a questão da tecnologia de forma ampliada, que é a maneira como a fundação enxerga. Ela olha para a infraestrutura, mas também vai olhar para o currículo, para a formação dos professores e se as secretarias de educação têm uma estrutura para poder tratar dessa temática de um jeito estruturado ou organizado. A gente tem, hoje, uma base nacional comum curricular que já traz cultura digital, já traz o ensino da computação. Isso não é realidade no dia a dia da escola.
*Estagiária sob a supervisão de Suzano Almeida
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