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Violência

Arma de fogo aumenta dano de ataque a escola, diz Instituto Sou da Paz

Levantamento da organização não governamental mostra: quando o atentado é a bala, média é de três mortos em cinco. Pesquisa foi realizada entre 2019 e 2022, no governo Bolsonaro

O aumento da letalidade nos ataques a escolas, entre 2019 e 2022, teve relação direta com a utilização de armas de fogo. A constatação é de estudo realizado pelo Instituto Sou da Paz, divulgado nesta segunda-feira. Segundo o levantamento, em casos com disparo de tiro a proporção é de três vítimas fatais, em média, em cinco atacados, ao passo em que quando são usadas armas brancas é de uma morte para três feridos.


"O estudo ajuda a derrubar o mito de que tanto faz a arma escolhida para perpetrar o ataque. Há muito mais ataques com facas e outras armas sem vítimas fatais. A arma de fogo potencializa a gravidade dos ferimentos e, portanto, aumenta mortes e dificulta a reação. Nos casos de facas e outros objetos, como bestas, alunos e professores têm mais facilidade para imobilizar o agressor e interromper o ataque antes mesmo da chegada da polícia", explica Bruno Langeani, gerente de projetos do Sou da Paz.


Dos 24 casos de ataques a escolas que ocorreram em três anos, o levantamento mostra que 11 deles tiveram maior letalidade por causa do uso de arma de fogo para praticá-lo. O período abrange o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, que promoveu, por meio de diversos decretos, a flexibilização da compra e do registro de armas.

A pesquisa conclui, ainda, onde os autores das agressões — exclusivamente do sexo masculino e em média com 16 anos de idade — encontraram as armas usadas para cometer o crime. Em três casos, eles buscaram o artefato fora de casa, mas não conseguiram. Mas, em 60% dos ataques, as armas foram encontradas no próprio lar do criminoso — pertenciam ao pai, à mãe ou a outro parente.

Além da valorização da cultura armamentista, o estudo aponta outros fatores para as agressões — como o impacto do isolamento social durante a pandemia, que comprometeu a convivência dos jovens com outros de sua idade; e o aumento dos discursos de ódio e de radicalização na política.

A maioria dos ataques apontados no estudo ocorreu em abril deste ano, quando boatos varreram as redes sociais anunciando que haveria uma série de ataques a escolas — mesmo mês em que aconteceram os massacres de Columbine, nos Estados Unidos, e do Realengo, no Rio de Janeiro. Especialistas relacionam tais ameaças a grupos de extrema direita com a tentativa de repetição dos atos, contra os quais o Ministério da Justiça e Segurança Pública lançou uma intensa campanha e cobrou das administradoras das plataformas controle dos discursos de ódio.

"Há uma clara negligência, em termos de monitoramento de conteúdo, pelas redes sociais, aprofundada por um regulamento brasileiro desatualizado, que falha em responsabilizar as plataformas. Existe um problema ainda de criação de estrutura e capacitação de investigadores para fazer apurações na internet, algo que é totalmente diferente do que a maioria desses profissionais aprendeu na capacitação. Não podemos baixar a guarda só porque os casos felizmente baixaram", alerta Langeani.

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